Este capítulo é baseado em Êxodo
1-4.
O povo do Egito, a fim de
suprir-se de alimento durante a fome, vendera à coroa seu gado e terras, e
finalmente prendera-se à servidão perpétua. José proveu sabiamente o seu
livramento; permitiu-lhes que se tornassem arrendatários reais, conservando as
terras do rei, e pagando um tributo anual de um quinto dos produtos de seu
trabalho.
Mas os filhos de Jacó não estavam
na necessidade de adotar essas condições. Por causa do serviço que José
prestara à nação egípcia, não somente lhes foi concedida uma parte do país como
morada, mas estiveram isentos de imposto, e foram liberalmente supridos de
alimento enquanto perdurou a fome. O rei publicamente reconhecia que fora pela
misericordiosa interferência do Deus de José que o Egito desfrutava abundância,
enquanto outras nações estavam a perecer de fome. Via, também, que a
administração de José havia enriquecido grandemente o reino, e sua gratidão
cercou a família de Jacó do favor real.
Mas, passando-se o tempo, o
grande homem a quem o Egito tanto devia, e a geração abençoada pelos seus
labores, desceram ao túmulo.
E “levantou-se um novo rei sobre
o Egito, que não conhecera a José”.
Não que ignorasse os serviços de
José à nação, mas não desejava reconhecê-los, e, quanto possível, queria
sepultá-lo no olvido. “Eis que o povo dos filhos de Israel é muito, e mais
poderoso do que nós.
Eia, usemos
sabiamente para com ele, para que não se multiplique, e aconteça que, vindo guerra, ele também se ajunte com os
nossos inimigos, e peleje contra nós, e suba da terra”. Êxodo 1:8-10.
Os israelitas já se haviam
tornado muito numerosos; “frutificaram, e aumentaram muito, e multiplicaram-se,
e foram fortalecidos grandemente; de maneira que a terra se encheu deles”. Sob
o cuidado amparador de José, e o favor do rei que então governava, tinham-se eles
espalhado rapidamente pelo país. Mas haviam-se conservado como uma raça
distinta, nada tendo em comum com os egípcios, nos costumes, ou na religião; e
seu número crescente despertava agora os temores do rei e de seu povo, não
acontecesse em caso de guerra se unissem eles com os inimigos do Egito.
Contudo, a prudência vedava o seu banimento do país. Muitos deles eram hábeis e
inteligentes operários, e contribuíam grandemente para a riqueza da nação; o
rei necessitava de tais trabalhadores para a construção de seus
magnificentes palácios e templos. Por isso, ele os equiparou aos egípcios que,
com suas posses, se haviam vendido ao reino. Logo foram postos sobre eles
maiorais de tarefas, e tornou-se completa a sua escravidão. “E os egípcios
faziam servir os filhos de Israel com dureza; assim lhes fizeram amargar a
vida, com dura servidão, em barro e em tijolos, e com todo o trabalho no campo;
com todo o serviço, em que os serviam com dureza.” “Mas quanto mais o afligiam,
tanto mais se multiplicava, e tanto mais crescia”. Êxodo 1:7, 13, 12.
O rei e seus conselheiros tiveram
a esperança de subjugar os israelitas com rude trabalho, e assim diminuir seu
número e aniquilar-lhes o espírito independente. Fracassando na realização de
seu propósito, recorreram a medidas mais cruéis. Foram expedidas ordens às
mulheres cujo emprego lhes dava oportunidade para executar o mandado, a fim de
destruírem as crianças hebreias do sexo masculino ao nascerem. Satanás foi o
instigador disto. Sabia que um libertador
deveria levantar-se entre os
israelitas; e, levando o rei a destruir seus filhos, esperava frustrar o
propósito divino. As mulheres, porém, temiam a Deus, e não ousavam executar o
cruel mandado. O Senhor aprovou o procedimento delas, e prosperou-as. O rei,
irado pelo fracasso de seu desígnio, tornou a ordem mais insistente e ampla.
A nação inteira foi chamada a dar
caça e a matar as suas vítimas indefesas. “Então ordenou Faraó a todo o seu
povo, dizendo: A todos os filhos que nascerem lançareis no rio, mas a todas as
filhas guardareis com vida”. Êxodo 1:22.
Enquanto este decreto estava em
pleno vigor, um filho foi nascido a Anrão e Joquebede, israelitas devotos da
tribo de Levi. A criança era “um menino formoso” (Êxodo 2:2); e os pais, crendo
que o tempo do libertamento de Israel se estava aproximando, e que Deus levantaria
um libertador para Seu povo, resolveram que seu filhinho não fosse sacrificado.
A fé em Deus fortalecia o seu coração, “e não temeram o mandamento do rei”.
Hebreus 11:23.
A mãe conseguiu esconder a
criança durante três meses. Então, achando que não mais a poderia conservar sem
perigo, preparou uma pequena arca de junco, tornando-a impermeável por meio de betume
e piche; e, pondo nela a criança, colocou-a entre os juncos, à margem do rio.
Não ousou ficar para vigiá-la, com receio de que a vida da criança e a sua
própria vida se perdessem; mas sua irmã Miriã, deteve-se perto, aparentemente
indiferente, mas observando ansiosa para ver o que seria de seu irmãozinho. E
havia outros vigias.
As orações fervorosas da mãe
haviam confiado seu filho ao cuidado de Deus; e anjos, invisíveis, pairavam por
sobre o seu humilde lugar de descanso. Os anjos encaminharam a filha de Faraó
para ali. Sua curiosidade foi provocada pela pequena cesta, e, ao olhar para a
linda criança que dentro estava, leu a história num relance. As lágrimas do
bebê despertara-lhe a compaixão, e suas simpatias se estenderam à mãe
desconhecida que recorrera a tal meio para preservar a vida de seu precioso
pequerrucho. Resolveu que ele deveria ser salvo; ela o adotaria como seu.
Miriã estivera a notar
secretamente tudo que se passava; percebendo que a criança era olhada com
ternura, arriscou-se a aproximar-se, e disse finalmente: “Irei eu a chamar uma
ama das hebréias, que crie este menino para ti?” Êxodo 2:7. E a permissão foi
dada.
A irmã correu para a mãe com a
feliz nova, e sem demora voltou com ela à presença da filha de Faraó. “Leva
este menino, e cria-mo; eu te darei teu salário”, disse a princesa. Êxodo 2:9.
Deus tinha ouvido as orações da
mãe; fora recompensada a sua fé. Com profunda gratidão foi que ela deu início à
sua tarefa, agora sem perigos e feliz. Fielmente aproveitou a oportunidade para
educar seu filho para Deus. Confiava em que ele fora preservado para alguma
grande obra, e sabia que breve deveria ser entregue à sua régia mãe, para ser
cercado de influências que tenderiam a desviá-lo de Deus. Tudo isto a tornava
mais diligente e cuidadosa em sua instrução do que na dos demais filhos.
Esforçou-se por embeber seu espírito com o temor de Deus e com o amor à verdade
e justiça, e fervorosamente orava para que ele pudesse preservar-se de toda a influência
corruptora. Mostrou-lhe a loucura e o pecado da idolatria, e cedo o ensinou a
curvar-se e a orar ao Deus vivo, que unicamente poderia ouvi-lo e auxiliá-lo em
toda a emergência.
Ela conservou consigo o rapaz
tanto quanto pôde; foi, porém, obrigada a entregá-lo quando ele teve
aproximadamente doze anos.
Foi levado de sua humilde
choupana ao palácio real, para a filha de Faraó, e se tornou seu filho.
Contudo, mesmo ali, ele não perdeu as impressões recebidas na infância. As
lições aprendidas ao lado de sua mãe, não as esquecia. Eram uma proteção contra
o orgulho, a incredulidade e o vício, que cresciam por entre os esplendores da corte.
De que grande alcance em seus
resultados foi a influência daquela mãe hebreia, sendo ela entretanto uma
exilada e escrava! Toda a vida futura de Moisés, a grande missão que ele
cumpriu como chefe de Israel, testificam da importância da obra de uma mãe
cristã.
Não há outro trabalho que possa
igualar a este. Em parte muito grande, a mãe tem nas mãos o destino de seus
filhos. Ela trata com mentes e caracteres em desenvolvimento, trabalhando não
somente para o tempo, mas para a eternidade. Está a semear sementes que brotarão
e frutificarão, quer para o bem quer para o mal. Ela não tem a desenhar formas
de beleza na tela, ou esculpi-las no mármore, mas imprimir na alma humana a
imagem do divino. Especialmente durante os primeiros anos recai sobre ela a
responsabilidade de formar o caráter de seus filhos. As impressões então
produzidas na mente destes, em desenvolvimento, permanecerão com eles por toda
a vida.
Os pais devem dirigir a instrução
e ensino de seus filhos enquanto muito pequenos, com o objetivo de poderem eles
ser cristãos. São postos sob o nosso cuidado para serem ensinados, não como
herdeiros do trono de um reino terrestre, mas como reis para Deus, a fim de reinarem pelos séculos eternos.
Que toda mãe sinta serem
inapreciáveis os seus momentos; sua obra será provada no dia solene do ajuste
de contas. Achar-se-á então que muitos dos fracassos e crimes de homens e
mulheres, resultaram da ignorância ou negligência daqueles cujo dever era guiar
os pés infantis no caminho direito. Ver-se-á então que muitos que têm abençoado
o mundo com a luz do gênio, da verdade e santidade, devem os princípios que
foram a mola mestra de sua influência e êxito, a uma mãe cristã, que orava.
Na corte de Faraó, Moisés recebeu
o mais elevado ensino civil e militar. O rei resolvera fazer de seu neto
adotivo o seu sucessor no trono, e o jovem foi educado para a sua elevada
posição. “E Moisés foi instruído em toda a ciência dos egípcios; e era poderoso
em suas palavras e obras”. Atos dos Apóstolos 7:22. Sua habilidade como chefe
militar tornou-o favorito dos exércitos do Egito, e era geralmente considerado
personagem notável. Satanás fora derrotado em seu propósito. O mesmo decreto
que condenava as crianças hebreias à morte, tinha sido encaminhado por Deus de
modo a favorecer o ensino e educação do futuro chefe de Seu povo.
Os anciãos de Israel foram
instruídos pelos anjos de que o tempo para o seu libertamento estava próximo, e
que Moisés era o homem que Deus empregaria para realizar esta obra. Os anjos
também instruíam a Moisés quanto a havê-lo Jeová escolhido para quebrar o cativeiro
de Seu povo. Supondo que deveriam obter sua liberdade, pela força das armas,
tinha ele a expectativa de levar o exército hebreu contra as hostes do Egito e,
tendo isto em vista, prevenia-se contra suas afeições, receando que, pelo seu
apego à mãe adotiva ou a Faraó, não estivesse livre para fazer a vontade de
Deus.
Pelas leis do Egito, todos os que
ocupavam o trono dos Faraós deviam fazer-se membros da sacerdócio; e Moisés,
como o herdeiro presumível, deveria iniciar-se nos mistérios da religião
nacional.
Este dever foi confiado aos
sacerdotes. Mas, ao mesmo tempo em que era um estudante ardoroso e incansável,
não pôde ser induzido a participar do culto aos deuses. Foi ameaçado com a
perda da coroa, e advertiu-se-lhe de que seria repudiado pela princesa caso persistisse
em sua adesão à fé hebreia. Mas ele foi inabalável em sua decisão de não
prestar homenagem a não ser ao único Deus, o Criador do céu e da Terra.
Arrazoava com os sacerdotes e adoradores, mostrando a loucura de sua veneração
supersticiosa a objetos insensíveis. Ninguém lhe podia refutar os argumentos
nem mudar o propósito; contudo, provisoriamente foi tolerada a sua firmeza, por
causa de sua elevada posição, e do favor em que era tido pelo rei, bem como
pelo povo.
“Pela fé Moisés, sendo já grande,
recusou ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo antes ser maltratado
com o povo de Deus do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado; tendo por
maiores riquezas o vitupério de Cristo do que os tesouros do Egito; porque
tinha em vista a recompensa”. Hebreus 11:24-26. Moisés estava em condições para
ter preeminência entre os grandes da Terra, para brilhar nas cortes do mais
glorioso dentre os reinos e para empunhar o cetro do poder. Sua grandeza
intelectual o distingue, acima dos grandes homens de todos os tempos. Como
historiador, poeta, filósofo, general de exércitos e legislador, não tem par.
Todavia, com o mundo diante de si, teve a força moral para recusar as
lisonjeiras perspectivas da riqueza, grandeza e fama, “escolhendo antes ser maltratado
com o povo de Deus do que por um pouco de tempo ter o gozo do pecado”.
Moisés fora instruído com relação
à recompensa final a ser dada aos humildes e obedientes servos de Deus, e as
vantagens mundanas tombaram na insignificância que lhes é própria em comparação
com aquela recompensa. O palácio luxuoso de Faraó e seu trono foram apresentados
como um engano a Moisés; sabia ele, porém, que os prazeres pecaminosos que
fazem os homens se esquecerem de Deus, achavam-se nos palácios senhoriais. Ele
olhava para além do magnífico palácio, para além da coroa do rei, para as altas
honras que serão conferidas aos santos do Altíssimo, em um reino incontaminado pelo
pecado. Viu pela fé uma coroa incorruptível que o Rei do Céu colocaria sobre a
fronte do vencedor. Esta fé o levou a desviar-se dos nobres da Terra, e unir-se
à nação humilde, pobre e desprezada que preferira obedecer a Deus a servir ao
pecado.
Moisés ficou na corte até a idade
de quarenta anos. Seus pensamentos volviam muitas vezes à condição vil de seu
povo, e visitava os irmãos em sua servidão, e os animava com a segurança de que
Deus agiria em seu livramento. Muitas vezes, compungindo até à indignação à
vista da injustiça e opressão, ardia por vingar suas afrontas. Um dia, em que
estava fora, vendo um egípcio ferir um israelita, lançou-se entre eles e matou
o egípcio. Exceto o israelita, não houvera testemunha dessa ação; e Moisés
imediatamente sepultou o corpo na areia. Ele se mostrara agora pronto para
sustentar a causa de seu povo, e esperava vê-los levantar-se a fim de recuperar
sua liberdade. “Ele cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus lhes havia de
dar a liberdade pela sua mão; mas eles não entenderam”.
Atos dos Apóstolos 7:25. Ainda
não estavam preparados para a liberdade. No dia seguinte Moisés viu dois
hebreus que contendiam entre si, estando um deles evidentemente em falta,
Moisés reprovou o delinquente, que logo se desforrou daquele que o reprovava, negando
o seu direito de intervir, e vilmente acusando-o de crime.
“Quem te tem posto a ti por
maioral e juiz sobre nós?” disse ele. “Pensas matar-me, como mataste ao
egípcio?” Êxodo 2:14.
Toda a questão depressa se tornou
conhecida pelos egípcios, e, grandemente exagerada, logo chegou aos ouvidos de
Faraó. Fez-se parecer ao rei que este ato significava muito; que Moisés
tencionava levar seu povo contra os egípcios, subverter o governo, e sentar-se no
trono; e que não poderia haver segurança para o reino enquanto ele vivesse. De
pronto foi resolvido pelo rei que ele morresse; mas, apercebendo-se de seu
perigo, escapou, e fugiu rumo da Arábia.
O Senhor dirigiu os seus passos,
e ele encontrou acolhida em casa de Jetro, sacerdote e príncipe de Midiã, que
também era adorador de Deus. Depois de algum tempo, Moisés desposou uma das
filhas de Jetro; e ali, ao serviço de seu sogro, como guardador de seus rebanhos,
permaneceu quarenta anos.
Matando o egípcio, Moisés caíra
no mesmo erro tantas vezes cometido por seus pais, de tomar nas próprias mãos a
obra que Deus prometera fazer. Não era vontade de Deus libertar o Seu povo pela
guerra, como Moisés pensava, mas pelo Seu próprio grande poder, para que a
glória Lhe fosse atribuída a Ele tão-somente. Todavia, mesmo este ato
precipitado foi ainda encaminhado por Deus a fim de cumprir Seus propósitos.
Moisés não estava preparado para a sua grande obra. Tinha ainda a aprender a
mesma lição de fé que havia sido ensinada a Abraão e Jacó — não confiar na
força e sabedoria humanas, mas no poder de Deus, para o cumprimento de Suas promessas.
E havia outras lições que, em meio da solidão das montanhas, devia Moisés
receber. Na escola da abnegação e dificuldades, ele devia aprender a paciência,
a moderar as suas paixões. Antes que pudesse governar sabiamente, devia ser
ensinado a obedecer. Seu coração devia estar completamente em harmonia com
Deus, antes de poder ele ensinar o conhecimento de Sua vontade a Israel. Pela sua
própria experiência devia estar preparado a exercer um cuidado paternal sobre
todos os que necessitavam de seu auxílio.
O homem teria dispensado aquele
longo período de labuta e obscuridade, julgando-o uma grande perda de tempo.
Mas a Sabedoria infinita chamou aquele que se tornaria o dirigente de Seu povo,
a passar quarenta anos no humilde trabalho de pastor. Os hábitos de exercer o
cuidado, do esquecimento de si mesmo, e de terna solicitude pelo seu rebanho,
assim desenvolvidos, prepará-lo-iam a tornar-se o compassivo e longânimo pastor
de Israel. Proveito algum que o ensino ou a cultura humana pudessem outorgar,
poderia ser um substituto para esta experiência.
Moisés estivera a aprender muito
que tinha de desaprender. As influências que o haviam cercado no Egito — o amor
de sua mãe adotiva, sua própria posição elevada como o neto do rei, a
dissipação de todos os lados, o requinte, a subtileza e o misticismo de uma
religião falsa, o esplendor de um culto idólatra, a solene grandiosidade da
arquitetura e escultura — tudo deixara profundas impressões em sua mente em
desenvolvimento, e modelara, até certo ponto, seus hábitos e caráter. O tempo,
a mudança de ambiente e a comunhão com Deus podiam remover estas impressões.
Renunciar o erro e aceitar a verdade requeria da parte de Moisés mesmo uma luta
tremenda; mas Deus seria seu auxiliador quando o conflito fosse demasiado severo
para a força humana.
Em todos os que têm sido
escolhidos para cumprir uma obra para Deus, vê-se o elemento humano. Todavia
não foram homens de hábitos e caráter estereotipados, que estavam satisfeitos
com permanecer naquela condição. Fervorosamente desejavam obter sabedoria de
Deus, e aprender a trabalhar para Ele. Diz o apóstolo: “Se algum de vós tem
falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e o não lança
em rosto, e ser-lhe-á dada.”
Tiago 1:5. Deus, porém, não
comunicará aos homens luz divina, enquanto estiverem contentes com permanecerem
em trevas. A fim de receber o auxílio de Deus, o homem deve compenetrar-se de
sua fraqueza e deficiência; deve aplicar seu próprio espírito na grande mudança
a ser operada em si; deve despertar para a oração e esforço fervorosos e
perseverantes. Maus hábitos e costumes devem ser repelidos; e é apenas pelo
esforço decidido no sentido de corrigir tais erros, e conformar-nos aos
princípios retos, que a vitória pode ser ganha. Muitos jamais atingem a posição
que poderiam ocupar, porque esperam que Deus faça por eles aquilo que Ele lhes
deu poder para fazerem por si mesmos. Todos os que se habilitam a ser úteis devem
ser adestrados pela mais severa disciplina mental e moral; e Deus os ajudará,
unindo o poder divino ao esforço humano.
Encerrado nas fortificações das
montanhas, Moisés estava a sós com Deus. Os templos magnificentes do Egito não
mais lhe impressionavam o espírito, com sua superstição e falsidade. Na
grandiosidade solene das colinas eternas via ele a majestade do Altíssimo, e em
contraste compreendia quão impotentes e insignificantes eram os deuses do
Egito. Por toda parte estava escrito o nome do Criador.
Moisés parecia achar-se em Sua
presença, e à sombra de Seu poder.
Ali o seu orgulho e presunção
foram varridos. Na simplicidade severa de sua vida no deserto, os resultados do
ócio e luxo do Egito desapareceram. Moisés tornou-se paciente, reverente e
humilde, “mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a Terra” (Números
12:3), e, contudo, forte na fé que ele tinha no poderoso Deus de Jacó.
Enquanto os anos se passavam, e
vagueava ele com seus rebanhos nos lugares solitários, ponderando na situação
opressa de seu povo, reconsiderava o trato de Deus para com seus pais e as
promessas que eram a herança da nação escolhida, e suas orações por Israel ascendiam
de dia e de noite. Anjos celestiais derramavam sua luz em redor dele. Ali, sob
a inspiração do Espírito Santo, escreveu o livro do Gênesis. Os longos anos
passados nas solidões do deserto foram ricos de bênçãos, não somente para
Moisés e seu povo, mas para o mundo em todos os séculos subsequentes.
“E aconteceu depois de muitos
destes dias, morrendo o rei do Egito, que os filhos de Israel suspiraram por
causa da servidão, e clamaram; e o seu clamor subiu a Deus por causa da sua
servidão. E ouviu Deus o seu gemido, e lembrou-se Deus do Seu concerto com Abraão,
com Isaque, e com Jacó; e atentou Deus para os filhos de Israel, e conheceu-os
Deus”. Êxodo 2:23-25. Era vindo o tempo para o livramento de Israel. Mas o
propósito de Deus devia cumprir-se de maneira a lançar o desdém sobre o orgulho
humano. O libertador devia ir como um humilde pastor, apenas com uma vara na
mão; Deus, porém, faria daquela vara o símbolo de Seu poder. Guiando seus
rebanhos um dia perto de Horebe, “o monte de Deus” (Êxodo 3:1), Moisés viu uma
sarça em chamas, estando ramos, folhagem e tronco tudo a arder, não parecendo
todavia consumir-se. Aproximou-se para ver a maravilhosa cena, quando uma voz
da labareda o chamou pelo nome. Com lábios trêmulos respondeu: “Eis-me aqui.”
Advertiu-se-lhe que não se
aproximasse irreverentemente: “Tira os teus sapatos de teus pés; porque o lugar
em que tu estás é terra santa.
[...] Eu sou o Deus de teu pai, o
Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó”. Êxodo 3:4-6; Êxodo 3;
Êxodo 4:1-26. Era Aquele que, como o Anjo do concerto, Se revelara aos pais nos
séculos passados. “E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para Deus”.
Gênesis 28:17.
A humildade e a reverência devem
caracterizar o comportamento de todos os que vão à presença de Deus. Em nome de
Jesus podemos ir perante Ele com confiança; não devemos, porém, aproximar-nos dEle
com uma ousadia presunçosa, como se Ele estivesse no mesmo nível que nós
outros. Há os que se dirigem ao grande, Todo-poderoso e santo Deus, que habita
na luz inacessível, como se se dirigissem a um igual, ou mesmo inferior. Há os
que se portam em Sua casa conforme não imaginariam fazer na sala de audiência
de um governador terrestre. Tais devem lembrar-se de que se acham à vista
dAquele a quem serafins adoram, perante quem os anjos velam o rosto. Deus deve
ser grandemente reverenciado; todos os que em verdade se compenetram de Sua
presença, prostrar-se-ão com humildade perante Ele, e, como Jacó, ao contemplar
a visão de Deus, exclamarão: “Quão terrível é este lugar! Este não é outro
lugar senão a casa de Deus; esta é a porta dos Céus.”
Esperando Moisés, com um temor
reverente, diante de Deus, continuaram as palavras: “Tenho visto atentamente a
aflição do Meu povo, que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa
dos seus exatores, porque conheci as suas dores. Portanto desci para livrá-lo
da mão dos egípcios, e para fazê-lo subir daquela terra, a uma terra boa e
larga, a uma terra que mana leite e mel. [...] Vem agora, pois, e Eu te
enviarei a Faraó, para que tires o Meu povo [os filhos de Israel] do Egito”.
Êxodo 3:7, 8, 10.
Admirado e aterrorizado com a
ordem, Moisés recuou, dizendo: “Quem sou eu, que vá a Faraó e tire do Egito os
filhos de Israel?” A resposta foi: “Certamente Eu serei contigo; e isto te será
por sinal de que Eu te enviei: Quando houveres tirado este povo do Egito, servireis
a Deus neste monte”. Êxodo 3:11, 12.
Moisés pensou nas dificuldades
que seriam encontradas, na cegueira, ignorância e incredulidade de seu povo,
muitos dos quais estavam quase destituídos do conhecimento de Deus. “Eis que
quando vier aos filhos de Israel”, disse ele, “e lhes disser: O Deus de vossos pais
me enviou a vós, e eles me disserem: qual é o Seu nome? Que [176] lhes direi?”
A resposta foi: “Eu Sou o Que Sou.” “Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou
me enviou a vós”. Êxodo 3:13, 14.
Moisés recebeu ordem de congregar
primeiramente os anciãos de Israel, os mais nobres e justos entre eles, os
quais desde muito se haviam afligido por causa de seu cativeiro, e
declarar-lhes uma mensagem de Deus, com uma promessa de livramento. Devia então
ir com os anciãos perante o rei, e dizer-lhe: “O Deus dos hebreus nos
encontrou; portanto, deixa-nos agora ir caminho de três dias no deserto, para
que ofereçamos sacrifícios ao Senhor”. Êxodo 3:18.
Moisés fora prevenido de que
Faraó resistiria ao apelo de deixar ir Israel. Todavia a coragem do servo de
Deus não devia faltar; pois o Senhor com isto aproveitaria a ocasião para
manifestar Seu poder perante os egípcios e perante o Seu povo. “Eu estenderei a
Minha mão, e ferirei ao Egito com todas as Minhas maravilhas que farei no meio
dele; depois vos deixará sair”. Êxodo 3:20.
Foram também dadas instruções
quanto às provisões que deviam fazer para a viagem. O Senhor declarou:
“Acontecerá que, quando sairdes, não saireis vazios, porque cada mulher pedirá
à sua vizinha, e à sua hóspeda, vasos de prata, e vasos de ouro, e vestidos”.
Êxodo 3:21, 22. Os egípcios tinham enriquecido pelo trabalho injustamente exigido
dos israelitas, e como estes estavam para partir em viagem para a sua nova
morada, era justo que reclamassem a recompensa de seus anos de labuta.
Deviam pedir artigos de valor,
que pudessem ser facilmente transportados, e Deus lhes daria graça aos olhos
dos egípcios. Os grandes prodígios operados para o seu livramento,
aterrorizariam os opressores, de maneira que o pedido dos escravos seria
satisfeito.
Moisés viu diante de si
dificuldades que pareciam insuperáveis.
Que prova poderia ele dar a seu
povo de que Deus na verdade o enviara? “Eis que me não crerão”, disse ele, “nem
ouvirão a minha voz, porque dirão: O Senhor não te apareceu.” Provas que
apelavam aos seus sentidos foram-lhe então dadas. Foi-lhe dito que atirasse sua
vara ao chão. Fazendo-o ele, “tornou-se em cobra”; “e Moisés fugia dela”.
Recebeu ordem de apanhá-la, e em sua mão se tornou em vara. Foi-lhe mandado pôr
a mão no seio. Obedeceu, “e, tirando-a, eis que sua mão estava leprosa, branca
como a neve”. Êxodo 4:1-6.
Dizendo-se-lhe que de novo a
pusesse no seio, viu, ao retirá-la que se tornara como a outra. Por estes
sinais o Senhor assegurou a Moisés que Seu povo bem como Faraó convencer-se-iam
de que um Ser mais poderoso do que o rei do Egito Se manifestava entre eles.
Mas o servo de Deus ainda se
deixava vencer pelo pensamento da estranha e maravilhosa obra que diante dele
estava. Em sua aflição e temor, agora alegava como desculpa a falta de uma fala
desembaraçada: “Ah Senhor! eu não sou homem eloquente, nem de ontem nem de
anteontem, nem ainda desde que tens falado a Teu [177] servo; porque sou pesado
de boca e pesado de língua”. Êxodo 4:10.
Durante tanto tempo havia ele
estado afastado dos egípcios, que não tinha um conhecimento tão claro e um uso
tão pronto da língua, como quando estivera entre eles.
O Senhor lhe disse: “Quem fez a
boca do homem? ou quem fez o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego? Não sou
Eu, o Senhor?” A isto acrescentou-se outra segurança do auxílio divino: “Vai
pois agora, e Eu serei com a tua boca, e te ensinarei o que hás de falar”.
Êxodo 4:11, 12. Mas Moisés ainda rogou que fosse escolhida uma pessoa mais
competente. Estas escusas a princípio procederam da humildade e retraimento;
mas depois que o Senhor prometera remover todas as dificuldades, e dar-lhe
afinal o êxito, qualquer nova recusa e queixa a respeito de sua inaptidão,
mostravam falta de confiança em Deus. Isto envolvia um receio de que Deus fosse
incapaz de habilitá-lo para a grande obra, para a qual o chamara, ou de que
houvesse Ele cometido um erro na escolha do homem.
Moisés então foi mandado ir ter
com Arão, seu irmão mais velho, que, tendo estado em uso diário da língua dos
egípcios, podia falá-la perfeitamente. Foi-lhe dito que Arão vinha ao seu
encontro. As palavras seguintes do Senhor foram uma ordem positiva: “Tu lhe
falarás e porás as palavras na sua boca; Eu serei com a tua boca, e com a sua
boca, ensinando-vos o que haveis de fazer. E ele falará por ti ao povo; e
acontecerá que ele te será por boca, e tu lhe serás por Deus. Toma pois esta
vara na tua mão, com que farás os sinais”. Êxodo 4:15-17. Moisés não mais
poderia opor resistência; pois todo o motivo de escusa fora removido.
A ordem divina dada a Moisés
encontrou-o sem confiança em si, tardo no falar, e tímido. Sentia-se vencido
pela intuição de sua incapacidade de ser o porta-voz de Deus para Israel.
Havendo, porém, aceito o trabalho, deu-lhe início com todo o coração,
depositando toda a confiança no Senhor. A grandeza de sua missão chamava à atividade
as melhores faculdades de seu espírito. Deus lhe abençoou a pronta obediência,
e ele se tornou eloquente, esperançoso e senhor de si, e bem adaptado para a
maior obra que já foi entregue ao homem.
Isto é um exemplo do que Deus faz
para fortalecer o caráter daqueles que nEle confiam amplamente, e dar-lhes, sem
reserva, as Suas ordens.
O homem adquirirá força e
eficiência ao aceitar as responsabilidades que Deus põe sobre ele, e procurar
de toda sua alma qualificar-se para dela se desincumbir devidamente. Por
humilde que seja a sua posição ou limitada a sua habilidade, atingirá a
verdadeira grandeza o homem que, confiando na força divina, procura efetuar sua
obra com fidelidade. Houvesse Moisés confiado em sua própria força e sabedoria,
e com avidez aceito o grande encargo, e teria evidenciado sua completa
inaptidão para tal obra. O fato de que um homem sente a sua fraqueza, é ao
menos alguma prova de que ele se compenetra da magnitude da obra a ele
designada, e de que fará de Deus seu conselheiro e força.
Moisés voltou a seu sogro, e
exprimiu o desejo de visitar seus irmãos no Egito. Jetro deu-lhe consentimento,
com a bênção: “Vai em paz”. Êxodo 4:18. Com a esposa e os filhos, Moisés pôs-se
em caminho. Não ousara dar a conhecer o objetivo de sua missão, receando não
fosse permitido que o acompanhassem. Antes de chegar ao Egito, entretanto, ele
mesmo achou melhor, para segurança deles, mandá-los voltar para casa, em Midiã.
Um temor secreto de Faraó e dos
egípcios, cuja ira se acendera contra ele quarenta anos antes, tornara Moisés
ainda mais relutante em voltar ao Egito; mas, depois que se dispusera a
obedecer à ordem divina, o Senhor lhe revelou que seus inimigos eram mortos.
Em caminho, quando vinha de
Midiã, Moisés recebeu uma advertência assustadora e terrível, a respeito do
desagrado do Senhor.
Um anjo apareceu-lhe de maneira
ameaçadora, como se o fosse imediatamente destruir. Explicação alguma se dera;
Moisés, porém, lembrou-se de que havia desatendido um dos mandos de Deus;
cedendo à persuasão de sua esposa, negligenciara efetuar o rito da circuncisão
em seu filho mais moço. Deixara de satisfazer a condição pela qual seu filho
poderia ter direito às bênçãos do concerto de Deus com Israel; e tal
negligência por parte do dirigente escolhido de Israel não poderia senão
diminuir a força dos preceitos divinos sobre o povo. Zípora, temendo que seu
marido fosse morto, efetuou ela mesma o rito, e o anjo então permitiu a Moisés
que prosseguisse com a jornada. Em sua missão junto a Faraó, devia Moisés ser
colocado em posição de grande perigo; sua vida unicamente podia preservar-se
pela proteção de santos anjos. Enquanto vivesse, porém, na negligência de um
dever conhecido, não estaria livre de perigo; pois que não poderia estar
protegido pelos anjos de Deus.
No tempo de angústia,
precisamente antes da vinda de Cristo, os justos serão preservados pelo
ministério de anjos celestiais; não haverá segurança para o transgressor da lei
de Deus. Os anjos não poderão proteger, então, aqueles que estão a desrespeitar
um dos preceitos divinos.
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