52 HISTÓRIAS INFANTIS
DSA - 2002
ÍNDICE
ÍNDICE
Página
01 - A Boa Idéia de
Suzana........................................................ 04
02 – A Exposição de Flores de Guilherme................................. 05
03 - A História de Duque............................................................. 05
04 - A História de Estela
........................................................ 07
05 - A Honestidade de Henrique................................................. 08
06 - A Menina que Falou a Verdade........................................... 11
07 - A Menina que se Tornou Grande........................................ 11
08 - A Promessa de Paula............................................................ 13
09 - A Resposta de Deus.............................................................. 15
10 - A Vingança do Indígena....................................................... 17
11 - Amor Suficiente Para Todos................................................ 19
12 – Arteiro................................................................................... 20
13 - As Estrelas São Para Nos Guiar.......................................... 21
14 - As Mãos de Minha Mãe....................................................... 23
15 - Carlinhos Muda de Opinião................................................. 24
16 - Davi e as Panelas Novas....................................................... 26
17 - Fidelidade Recompensada.................................................... 28
18 - Filho de Alguém.................................................................... 29
19 - Gelo, Neve e anjos................................................................ 30
20 - História de Um Chinês......................................................... 31
21 - Inundação na Floresta........................................................... 32
22 - Joãozinho e os Fósforos....................................................... 34
23 - Mãe de Verdade.................................................................... 36
24 - Mãos Através do Campo de Trigo...................................... 37
25 - Meia Hora de Vida................................................................ 39
26 - Nancy e as Flores.................................................................. 41
27 - O Barco Quebrado................................................................ 42
28 - O Custo de Uma Desobediência.......................................... 43
29 - O Fiel
Tupí............................................................................ 44
30 - O Lema de Judite.................................................................. 45
31 - O Melhor Caminho............................................................... 47
32 - O Nome Gravado no Braço de Ramon............................... 48
33 - O Prato de Comida para Pássaros........................................ 49
34 - O Que Merece Ser Feito....................................................... 49
35 - O Sacrifício Supremo........................................................... 51
36 - Oito Minutos......................................................................... 52
37 - Os Caminhos do Senhor....................................................... 53
38 – Perdão.................................................................................... 55
39 – Perdidos................................................................................. 56
40 - Perseguido Por um Leopardo............................................... 57
41 - Posso Fazer Qualquer Coisa................................................ 58
42 - Preparado Para a Volta de Jesus.......................................... 59
43 - Sabes Mandar........................................................................ 60
44 - Sementes de Abóbora Revelam um Segredo..................... 62
45 – Silky...................................................................................... 63
46 - Sundar e a Roda de Oração.................................................. 65
47 - Um Bom Amigo.................................................................... 67
48 - Um Estranho na Janela......................................................... 68
49 - Um Jovem de Fibra............................................................... 70
50 - Uma Estrada Com Pagamento de Pedágio......................... 71
51 - Uma Voz Desconhecida....................................................... 73
52 - Valeu a Pena Obedecer......................................................... 74
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Colaboração do Departamento do Ministério da Criança –
Miriam Berg
Divisão Sul-Americana
- Maio/2002
01 - A BOA IDÉIA DE SUZANA
A
história que segue mostra como Suzana escolheu fazer o que agrada a Jesus.
Suzana olhou alegremente ao seu redor e
para os pequenos convidados. – Faço sete anos hoje! Disse ela. Dentro de um ou
dois minutos abrirei meus presentes de aniversário. Então encontrarei o relógio
de pulso que o papai e a mamãe prometeram dar-me, quando eu fizesse meu sétimo
aniversário!
Suzana desatou fitas azuis, fitas
amarelas, fitas cor-de-rosa – um verdadeiro arco-íris de fitas. Quão
interessante era ter uma festa de aniversário!
- Trouxe-te um jogo para limpeza de casa de verdade! E
Leti sorriu para Suzana, enquanto os negros cachos lhe dançavam pela face. –
Olha, Sue! Leti ajudou Suzana a desembrulhar o pequenino esfregão para a
limpeza do pó, o vidrinho com óleo para a
limpeza de móveis, e foi Leti quem colocou em Suzana o lindo
aventalzinho estampado de flores alegres. Até havia um pequeno espanador, e uma
vassoura!
- Você agora pode arrumar seu próprio quarto, Suzana,
disse-lhe a mãe, sorrindo.
Suzana acenou com a cabeça.
Ajudar
a mamãe agora seria coisa realmente bem interessante.
Tinha somente mais um presente a
desembrulhar e esse devia ser o relógio de pulso. Havia numa caixa cor-de-rosa
e prateada. Havia realmente um relógio! E aí Suzana viu Nete, com seu engraçado
narizinho chato, espreitando pelos vãos da cerca. Neti parecia estar fazendo o
possível para não chorar! Não vou convidar Neti Almeida, vai se desfazer em
pranto e molhar todos os meus presentes,
e portar-se mal, dissera Suzana a sua companheira predileta Leti. Esta concordara com ela...
Suzana voltou as costas para a cerca, e
fez de conta que Neti fora embora. Começou a brincar de “lenço-atrás” com as
outras crianças, mas, por mais que fizesse, não podia achar graça no brinquedo.
Não, não havia graça alguma. Até Leti não demonstrava vontade de brincar, e
olhava triste para Neti.
Durante toda a manhã Suzana excluíra Neti
da mente. No dia anterior, quando sua mãe lhe dissera bondosamente: - Querida
Suzana, não gostaria você que Neti tomasse parte, amanhã, na sua festinha de
aniversário? Suzana batera o pé e
dissera: “Não!”.
A mãe estivera muito ocupada, fazendo os
bolos para a festinha, e arranjando os brinquedos e outras coisas, mas parara
para dizer: - Temo que você magoe Neti, Suzana. Bem sei que lhe prometi que
poderia escolher os companheiros que desejava que viessem no seu aniversário,
mas não seria melhor que qualquer hora,
hoje, você desse um pulo e convidasse Neti? Ela, certamente, não assiste a
muitas festas de aniversário, e haveria de gostar bastante se a convidasse. Não
espere que lhe traga um presente, querida, porque seus pais são muito pobres.
Tão ocupada estava a mãe de Suzana com os
planos da festinha, que se esqueceu de Neti, justamente como Suzana esperava
que acontecesse.
- Convidou Neti? Perguntou-lhe a mãe. (Suzana
pendeu a cabeça e corou de vergonha, pois ela e Leti haviam rasgado o lindo
cartão cor-de-rosa do convite reservado para Neti.) Confiei na minha pequena,
senão eu mesma tê-la-ia convidado, disse gravemente a mãe de Suzana,
demonstrando estar bem triste.
Suzana sentiu-se muito mal. Ali estava ela,
com os presentes empilhados ao seu redor e o belo relógio de pulso no braço a
fazer tique-taque, mas não tinha nem um pouco de alegria. Nem um pouco! Suzana
sentiu como se fosse a menina mais infeliz do mundo, pois repentinamente vira quão egoísta tinha
sido, quão falta de bondade para com Neti. Todos podiam ver Neti choramingar
agachada atrás da cerca, procurando ver a mesa de aniversário!
Foi nesse momento que Suzana teve a boa
idéia.
Girou velozmente, e correu o mais depressa
possível até o passeio e ao redor da cerca, até encontrar Neti. – Venha para a
festa! Suzana tomou na sua à mão de
Neti, apertando-a com satisfação. Quão bem se sentia agora!
- Vou dar-te o meu aventalzinho branco.
Neti quero dizer que será seu mesmo... Já fiz sete anos hoje; sete, realmente! E Suzana meditava,
enquanto cortava um pedaço do bolo de
aniversário para Neti. “Não posso
continuar a ser mesquinha para ninguém, porque estou quase moça!”.
02 - A
EXPOSIÇÃO DE FLORES DE GUILHERME
Guilherme, um dia, foi com sua escola
visitar uma exposição de flores. Era muito divertido sair com os professores e
com as outras crianças. Guilherme deu a mão para seu melhor amigo e para
algumas outras mamães, e os professores também estavam ali junto com eles.
Quando voltou para casa, Guilherme contou
para a mãe tudo o que tinha visto na exposição de flores. Ele contou que tinha
visto flores azuis, flores cor-de-rosa, e flores amarelas. Havia muitas flores,
tipos diferentes, eram tantas que Guilherme não pôde ver tudo.
Guilherme
estava tão excitado que quase não podia parar de falar.
A mamãe ficou feliz em ver que Guilherme
gostava de flores. E ela disse:
- Guilherme, estou contente porque você
gosta das flores, porque algum dia nós vamos a um lugar onde existem flores
muito mais bonitas do que as que você viu hoje.
- Onde, mãe? Onde? Eu quero ir – disse
Guilherme feliz, pulando, pronto para ir ali.
- Não é agora, Guilherme – disse a mamãe. –
Logo Jesus vai voltar para nos levar a
um lugar maravilhoso, chamado Céu. Lembra que estudamos sobre o Céu na lição da
Escola Sabatina. Lá vamos ver lindas flores como as que você viu hoje, e além
disto, haverá outras coisas bonitas. Lá vai haver bonitos pássaros que cantam,
e animais com os quais poderemos brincar. Além disso, todos vamos ter uma coroa
brilhante para usar. Vai ser maravilhoso ir para o Céu. E Jesus vai estar
conosco lá. Ele vai nos dizer o nome de todas as flores, também vai fazer com
que elas cresçam. Eu quero ir para o Céu, você também quer?
- Sim, mamãe, eu quero ir para o Céu. Quero
ver as flores, quero usar uma coroa, e principalmente, quero ver a Jesus –
disse Guilherme para sua mãe.
Eu também quero ir, e vocês?
Que coisas Jesus criou que vocês gostam
hoje? Vocês acham que elas serão ainda melhores quando estivermos lá no Céu? De
que maneira?
03 - A HISTÓRIA
DE DUQUE
- Vocês gostariam de ouvir o meu cavalo
falar? – perguntou o Sr. Oliveira, por cima da cerca dos fundos, para os três
meninos que tinham se mudado recentemente para aquela vizinhança e estavam
brincando num terreno vazio ali perto.
- Oh, sim – respondeu Tony, e todos os três
vieram correndo.
O Sr. Oliveira abriu o portão e deixou que
eles entrassem na estrebaria. O Sr. Oliveira era um dos bons policiais da
cidade. Ele gostava muito de meninos e também gostava muito de cavalos. Os
meninos tinham visto seu bonito cavalo branco bem na frente de um desfile. Eles
gostavam de ver o Sr. Oliveira escovar o Duque, e pentear o seu rabo e sua
crina. Ele trazia uns dois ou três baldes de água morna e lavava Duque por
inteiro. O cavalo ficava parado em pé, olhando ao redor de vez em quando. Se
fosse um desfile muito especial, o Sr. Oliveira também dava polimento nos
cascos de Duque. Depois pegava uma sela muito limpa e brilhante que com todo
cuidado colocava em cima do cavalo, e gentilmente, mas com firmeza amarrava o
cinturão.
O Sr. Oliveira sempre usava sua roupa de
montaria – camisa amarela e calça marrom. Também usava um chapéu marrom. O
chapéu era tão grande que parecia um sombreiro mexicano. Ele também tinha
espora brilhante, mas muito raramente as usava.
Nas grandes paradas, a melhor banda
normalmente estava bem atrás de Duque e do Sr. Oliveira. Duque havia sido
treinado para saber o que fazer quando o Sr. Oliveira batesse no seu lado ou
puxasse as rédeas. Ele podia marchar e marcar o tempo da música. Algumas vezes
ele parava prestando atenção por uns minutos. Ele podia se sustentar em suas
patas traseiras e levantar as patas dianteiras como se fosse um cachorrinho
ensinado.
Muitas vezes ele balançava a cabeça
impaciência, e andava de um lado para o outro, ansioso para mostrar o que
realmente sabia fazer. Quando a banda começava a tocar uma marcha alegre, ele
podia marchar e mover a cabeça no compasso da música, no tempo perfeito.
Neste dia especial, o Sr. Oliveira queria
mostrar para os meninos que seu cavalo podia fazer alguma coisa mais do que
marchar no tempo da música, como fazem os soldados.
- Vocês sabiam que o meu Duque pode falar?
– começou a perguntar logo que fechou o portão. Os meninos arregalaram os olhos
e prestaram atenção.
- Eu nunca ouvi um cavalo falar – disse
Frederico
- Bem, o Duque fala – disse o Sr. Oliveira.
– Você não será capaz de ouvir, mas poderá ver como me responde.
- Como é isto? – todos perguntaram de uma
só vez.
- Ele pode escrever? – perguntou Daniel,
porque uma vez tinha visto um cavalo pegar um lápis com seus dentes e fazer
números.
- Vou fazer umas perguntas para ele – disse
o Sr. Oliveira. – Duque, você já tinha visto estes meninos antes? – ele
começou. O cavalo começou a mover sua cabeça para cima e para baixo, de maneira
a dizer “Sim”.
- Algum deles jogou pedras em sua
estrebaria?
Novamente Duque moveu a cabeça para cima e
para baixo.
Os meninos se lembraram de que haviam
jogado pedacinhos de madeira, cascas e também pedras, através da cerca para ver
Duque correr, e ficaram felizes porque o Sr. Oliveira não olhou para suas caras
de culpados.
- Você gosta disto, Duque? – perguntou o
Sr. Oliveira. O cavalo balançou fortemente a cabeça de um lado para o outro.
- Eu sei que vocês gostam de Duque tanto
quanto eu. Vocês não quiseram machucá-lo. Se ele tivesse ficado assustado por
causa da pedra, poderia ter se jogado contra a cerca e quebrado a perna, ou ter
furado um olho, poderia ter rompido a cerca e corrido para fora – disse o Sr.
Oliveira.
- Nós não jogaremos mais nada contra ele
novamente – disse Daniel. – Não pensamos que poderíamos machucar o Duque,
somente pensamos que seria divertido ver como ele pulava e corria.
- Não haveria nenhum outro cavalo que
liderasse a parada se ele tivesse fugido – acrescentou Frederico pensativamente.
Tony estava pensando em uma coisa muito
dura.
- O senhor teria que dar um tiro nele se
por acaso tivesse quebrado uma perna, teria que matá-lo, não teria, Sr.
Oliveira?
O Sr. Oliveira baixou a cabeça, enquanto
trazia uma forte caixa de madeira que colocou na frente de Duque. O cavalo
colocou suas patas em cima da caixa. Então ele levantou a pata direita e dava a
mão a cada menino quando lhe davam um pequeno torrão de açúcar.
Tony, Daniel e Frederico vão à estrebaria
de Duque cada dia. Mas vocês podem estar certos de que não jogam mais pedra.
Mas eles ainda estão admirados de como Duque sabia responder Sim ou Não às
perguntas do Sr. Oliveira.
Por que vocês acham que os meninos jogavam
pedras em Duque? Vocês acham que eles sabiam que era errado? Por quê? A que
mandamento ou regra estavam desobedecendo quando eram maldosos para com o
cavalo? Será que eles imaginavam o que poderia acontecer ao cavalo quando
jogavam pedras nele? O que vocês imaginam que os meninos estavam pensando quando apertavam a mão (pata) de
Duque?
04
- A HISTÓRIA DE ESTELA
Tessa era uma idosa senhora que vivia num
dos mais pobres bairros de Roma. Pobre, sem amigos, fiava para ganhar a escassa
subsistência.
Convertida
à religião cristã, Tessa muitas vezes se dirigia de noite às catacumbas, onde
pequeno grupo de consagrados cristãos se reunia secretamente para o culto.
O imperador Nero olhava com amargo ódio a
todos os cristãos, e seus soldados sempre estavam de vigia para prendê-los. Era
plano desse monstro, para exterminar a nova religião, mandar todos os cristãos
serem espedaçados por feras, para divertimento do povo romano.
Sendo muito pobre e inteiramente
desconhecida, Tessa nunca era molestada pelos soldados e vivia em paz fiando,
fiando o dia todo.
Certa noite bateu à porta. Embora fosse
tarde e ela nunca recebesse visitas, não temeu levantar-se e abri-la. Que tinha
a recear quem era tão pobre? Entrou um homem, conduzindo pela mão uma
meninazinha.
- Lúcio exclamou Tessa, admirada. A esta
hora! Que grave acontecimento levou você,
professor cristão, a expor-se aos perigos destas escuras e perversas
ruas?
- Silêncio! Disse ele, levando o dedo aos
lábios. Não posso demorar-me. Foram
presas hoje centenas de verdadeiros crentes. Amanhã ou depois, serão lançados
aos leões.
- Ah! Que crime cometeram? Suspirou Tessa.
Lúcio apenas meneou a cabeça e murmurou
“ai”!
- Esta menininha, continuou, trazendo para
frente à criança, chama-se Estela. Os pais foram levados e condenados à morte.
Salvei-a e trouxe-a aqui. Sei que a senhora é pobre. É lhe possível cuidar
dela?
- Sim, certamente, respondeu Tessa. Sempre
foi meu sonho ter uma frágil criaturinha, como essa para amar e proteger. Agora
Deus me concedeu esse desejo. Louvado seja Seu nome!
Trabalharei para duas, isso é tudo.
- Deus a recompensará também por isso. E
agora preciso ir. Adeus, Estelinha. Que o céu as abençoe e as livre da mão dos
ímpios!
- Amém! Disse Tessa. Aonde vai a esta hora?
- Unir-me no cárcere a meus infelizes
irmãos. Cumpre-me levar-lhes, em seus últimos momentos, o conforto de nossa
religião, e depois morrer com eles.
- Quão nobre e bom é você! volveu Tessa,
inclinando-se.
Estela era uma criança doce e terna, e sua
presença foi um raio de sol na pobre habitação de Tessa. Nada sabia da terrível
sorte dos pais e, pequenina como era, logo se habituou ao novo lar. Começou a
chamar a Tessa “mãe” e interessou-se profundamente na fiação.
Passaram-se assim longos anos e a criança
tornou-se encantadora moça. Nada veio empanar o brilho da quieta casinha, e
Tessa começou a nutrir esperanças de ter o imperador encontrado algum outro
divertimento que não o de matar cristãos.
Ah! Em breve deveria ser-lhe desfeita a
ilusão. Circulou em Roma a notícia de que a estátua de Nero fora danificada por
pequeno grupo de cristãos e, sem verificar se isso era ou não verdade, o
imperador começou a castigá-los mais que antes.
Dessa vez Tessa e sua amiguinha não
escaparam. Foram levadas por soldados e postas em celas separadas, entre outros
infelizes prisioneiros, todos condenados à morte.
Chegou a manhã do fatal dia em que todos
deveriam ser lançados às feras. As celas
em que estavam encerrados os crentes eram prisões ao redor da grande arena, ou
circo, e a ela davam acesso, separadas por barras de ferro. Através dessas barras, os infelizes
prisioneiros que ainda esperavam sua vez, viam os companheiros sendo mandados à
morte.
Os assentos ao redor do vasto circo
elevavam-se fileira sobre fileira e estavam tomados por pessoas que se
compraziam em assistir a esses terríveis espetáculos. Ninguém os apreciava mais
que o próprio Nero. Lá estava ele no camarote imperial, numa espécie de
embriagado torpor, contemplando a
tortura dos cristãos.
As últimas a serem mandadas para a arena
foram Estela e a velhinha. Ao ver Tessa, a menina exclamou: “Oh, Mamãe!”.
Correu para ela pondo-lhe os braços em
volta do pescoço. Estela não viu os leões, nem o imperador, nem o vasto
auditório que a contemplava, mas unicamente a amiga, a quem estreitou nos
braços.
De repente Tessa soltou um grito
penetrante. “Olhe”! Disse ela apontando para frente, com mão trêmula. Estela
voltou-se. Enorme leão africano para elas se dirigia com passo lento e
majestoso.
Tessa ajoelhou-se e começou a orar. Estela,
encarando o leão, postou-se firmemente em frente da senhora, como para
protegê-la. Nessa posição, olhava resolutamente ao animal, enquanto de todos os
lados se levantavam murmúrios de admiração. Até o imperador, surpreso ante a
estranha cena, inclinou-se para frente.
O leão avançava. Estela estendeu os braços
para fechar o caminho entre a fera e sua mãe adotiva. Os romanos nunca tinham
visto tanta coragem, e estrepitosos aplausos encheram o ar.
Ao ver o que aconteceu caminhou-se para o
terrível animal, ajoelhou-se e, pondo-lhe os braços em volta do pescoço,
acariciou-o suavemente. Ele deteve-se por um momento, entre os braços da jovem,
e depois, vagarosa e calmamente, voltou-se
e foi-se embora.
Nero riu-se. Agradou-lhe a romântica cena.
Essa pequena fez alguma coisa nova, disse ele. Não vemos todos os dias tal
coragem. Que ela e a mãe sejam postas em liberdade.
Minutos depois, ambas se dirigiam para
casa, louvando a Deus pelo milagre que operara para salvá-las.
05 - A HONESTIDADE DE HENRIQUE
Uma
carteira de senhora no banco do bonde! Foi a descoberta que Henrique fez no
momento em que o bonde arrancava, depois de uma parada. Henrique vira à senhora
que acabava de descer. Tinha-a visto no bonde e lembra-se de que essa era a
carteira que ela levava.
Imediatamente tocou a campainha. Desceria
na primeira esquina. Era o que de melhor poderia fazer. Precisava encontrar a
dona da carteira. Voltou depressa à esquina onde a senhora havia descido e
encaminhou-se para o lado onde ele a vira seguir. Correu vários quarteirões,
olhando à direita e à esquerda, em cada esquina que chegava, para ver se a via.
De repente percebeu que assim nada faria. Parou um pouco para pensar e nesse
momento encontrou um de seus amigos, um jovem mais ou menos de sua idade.
- Parece que você andou correndo – disse
Jaime. – Está muito agitado. Que aconteceu?
Henrique contou rapidamente a história da
carteira e explicou que não sabia como entregá-la à dona.
- Suponho que pertence a alguma senhora
rica – disse Jaime rindo – e você espera receber uma gratificação. Bem poderia
ficar com a carteira. Você não receberá mais do que ela vale e contém. E isso
de querer encontrar uma pessoa de quem não sabe o nome, é como procurar agulha
em palheiro.
- Não me parece que a dona seja rica, disse
Henrique, e, portanto não faço isso visando uma recompensa. Ela vestia-se bem,
porém suas roupas não pareciam ser de muito preço. Quanto a encontrá-la, creio
que você tem razão. Mas, quem sabe, se eu olhasse dentro da carteira
encontraria o nome e o endereço.
- Como me haveria de rir se nela estivessem
apenas alguns níqueis! Isso sim seria uma boa peça, depois de tanta correria...
- Oh! Isso não teria importância alguma,
replicou Henrique. Não é a quantia de dinheiro que haja dentro o que me
preocupa, mas sim a sua devolução. Você sabe que, segundo dizem, os grandes
ladrões começaram com pequenas desonestidades. Tenho certeza de que todos os
que acabam roubando automóveis ou grande soma de dinheiro, começaram roubando
apenas alguns níqueis.
- Nunca pensei nisso – disse Jaime. Mas
acho que você tem razão. Muitos começam até por uma fruta ou umas balas. Já
tenho visto tanta gente fazer isso e não dar a mínima importância ao caso!
Essas coisas, porém, não lhes pertencem e mais tarde, como você já o disse,
farão roubos mais vultuosos.
- Voltando ao assunto da carteira, vejamos
o que ela contém.
Henrique abriu a carteira e exclamou:
- Oh! Aqui está um cartão!
Diz:
“Sra. H. Lemos, ao cuidado do Dr. D. Lemos. É uma pessoa de muita influência.
Tinha uma expressão muito agradável, mas
não era diferente de qualquer outra senhora”.
- Talvez, no final você acabe
recebendo mesmo uma gratificação – disse
rindo Jaime.
- Talvez..., Respondeu Henrique; mas eu não
estava pensando nisso.
- Já sei – replicou Jaime. – Já sei. Sei
que é honrado. Sei que você não pensava na recompensa, mas dava o primeiro
lugar às coisas que vêm em primeiro lugar. Antes de tudo você quis devolver a
carteira.
Ao olharem um pouco mais, viram que havia
alguns cheques de banco. Não os contaram. Fecharam depressa a carteira, depois
de descobrirem o endereço da Sra. Lemos.
- Devo ir bem depressa à casa do Dr. Lemos
a fim de encontrar sua mãe e entregar-lhe a carteira. Já passei pela casa dela,
mas não a vi porque mora na terceira casa depois da esquina e já havia entrado
quando lá cheguei. Quer vir comigo, Jaime?
- Não. Preciso voltar para casa. Foi você
quem achou a carteira. Não tenho parte nesse assunto. Sinto-me orgulhoso em ser
seu amigo. Creio que amanhã a notícia sairá nos jornais.
Henrique não demorou muito para chegar à
casa do Dr. Lemos. Que diria? Não teve, porém, de esperar muito. Perguntou
simplesmente se a Sra. Lemos morava ali. Fizeram-no passar por uma sala onde a
mãe do doutor estava sentada junto ao telefone.
Já
havia mandado, pelo telefone, um anúncio para o diário e telefonara para a
companhia de bondes para que revistassem
o carro em que viajara, quando chegasse ao extremo da linha.
- Acho que tudo será em vão, pensou ela. O mais provável é que alguém a
encontrou e quem quer que seja que a tenha achado poderá aproveitar bem a
quantia de dinheiro que continha.
Nem sequer ergueu a cabeça para ver quem
estava entrando. Henrique se deteve e disse:
- A senhora conhece esta carteira?
Sua tristeza tornou-se alegria. Henrique
nunca soubera quanto prazer podia infundir num momento.
- Oh! Minha carteira! Sim, conheço-a, mas
até me parece mentira. Pensei que jamais a tornaria a ver. E aqui estão também
os meus cheques. Nunca poderei recompensá-lo bastante por isso. Dar-lhe-ei
dinheiro, mas quero que saiba que aprecio muito um rapaz honrado. São muito
poucos. Sente-se. Quero conversar com você antes que se retire. Quero saber seu
nome e seu endereço. Ah! Seu nome é Henrique Martins e mora na Rua do Comércio,
496! Muito bem! Quero que me conte como encontrou minha carteira, e porque
correu tanto para me encontrar quando podia ter ficado com ela, como faria a
maior parte dos meninos de sua idade. Ah! Sim. Seus pais o ensinaram a não
guardar qualquer coisa que não fosse sua, não é?
O rapaz anuiu com a cabeça.
- Sim. Lembro-me de quando era bem pequeno,
uma vez brincara com um menino vizinho de casa, e levara para casa umas lindas
bolinhas que lhe pertenciam. Ele possuía muitas e nem sequer daria pela falta
daquelas. Ao chegar a casa, mamãe me perguntou onde as conseguira. Quando lhe
disse que Benjamim tinha muitas e que aquelas não lhe fariam falta, falou-me do
mal que eu acabara de fazer. Que pensa a senhora que minha mãe disse? Lembro-me
de suas palavras, como se ela as houvesse dito hoje:
“- Filho, essas bolinhas não são tuas e não
podes guardá-las. Eu irei contigo à casa de Benjamim e lhe devolveremos as bolinhas,
dizendo que nunca mais tomarás alguma coisa que não te pertence”.
“Muito me custava fazer isso, mas minha mãe
insistiu em que eu os fizesse. Quando disse a Benjamim e a sua mãe quanto
lamentava ter feito isso, sua mãe me olhou sorrindo e isso me animou. Disse ela
a minha mãe que poderia ficar com as bolinhas, pois Benjamim possuía muitas.
Minha mãe, porém, insistiu em não aceitá-las por eu as ter levado sem
permissão. Não ouvi muito mais o que minha mãe e a de Benjamim falaram, porque
comecei a brincar com meu companheiro, mas escutei esta frase de mamãe:
“- Quero que meu filho seja sempre honrado
e nunca tome alguma coisa que não lhe pertença”.
- Agora compreendo esse seu gesto, disse a
Sra. Lemos. Um jovem cuja mãe proporciona tais lições, nunca verá o cárcere.
Muito bem, meu filho. Viva sempre de acordo com esses ensinos e nunca se
perderá.
Depois de curto silêncio, Henrique disse
que sua mãe o esperava. Acrescentou ainda que seu pai fora sempre muito
escrupuloso em todos os negócios.
- Aqui estão duzentos cruzeiros pelo
trabalho que teve em me procurar. Quero que venha sempre me visitar depois de
sair da escola. Você trabalha?
- Faço trabalhinhos aqui e ali, quando os
consigo, porque são tantos os meninos da vizinhança que procuram trabalho que
não quero ser egoísta, pois muitos deles necessitam trabalhar tanto quanto eu.
Seria uma felicidade arranjar um trabalho fixo durante as férias. Mas preciso
ir. Quero agradecer muito por este dinheiro. Nunca tive tanto!
Nesse dia, quando o Dr. Lemos voltou para
casa, sua esposa e sua mãe lhe contaram do jovenzinho que havia devolvido a
carteira. O doutor guardou silêncio por um instante, dizendo depois:
- Estão precisando de um rapaz de confiança
na farmácia que fica em baixo do meu consultório. Terá uma oportunidade para
subir, e poderá também trabalhar durante à tarde quando começarem as aulas.
Tomou o telefone para falar com o
farmacêutico. Depois de explicar porque se interessava por aquele rapaz em
particular, o farmacêutico respondeu:
- Diga-lhe que se apresente para o trabalho
amanhã de manhã.
Os anos que se seguiram demonstraram que
Henrique e a farmácia eram inseparáveis, porque Henrique era fiel nas mínimas
coisas. Podia-se ter nele toda confiança e seu patrão mostrava tê-la.
06 - A MENINA QUE
FALOU A VERDADE
Uma vez, há muito tempo, uma linda menina
brincava com tranqüilidade que tão bem caracteriza o espírito infantil. Sua
mãe, da janela onde tecia um tapete, vigiava com indizível ternura seu rico tesouro
ao qual dedicava tanto amor! De repente, ao longe, nuvens de poeira
levantavam-se como que anunciando a chegada de apressados visitantes. O olhar
calmo e meigo, da mãe bondosa, tornou-se aflito quando divisou tropas de
estrangeiros dominadores de sua raça.
- Ó filha, esconde-te – diz a mãe. Avisarei
teu pai que os soldados estrangeiros se aproximam. Que desejarão eles, agora?
E, tomada de aflição e medo, entrou à procura do marido.
Enquanto isto, a pequenina de olhos pretos,
bem pretos e brilhantes, hesitava entre o desejo de esconder-se e a curiosidade
de ver de perto soldados uniformizados e tão estranhos. A curiosidade venceu-a
e ali se quedou, sozinha, com olhar inquirido. Foi então que o mais importante
dentre os soldados viu-a ali e, achegando-se a ela, disse:
- Não me temes, pequena?
- Não, meu senhor. O meu Deus sempre cuida
de mim.
- O teu Deus, menina? Confias, então,
muito, n’Ele?
- Oh, muito, meu senhor. Ele nunca deixou
de atender-me.
A esta altura, a mãe pressurosa corre à
porta e depara a filha entre os soldados. Bruscamente agarra-a, tentando
levá-la consigo. – Mulher, diz-lhe o chefe dos exércitos estrangeiros, és nossa
escrava, tu e toda a tua raça. Permitirás que eu leve tua gentil e corajosa
filha para companheira de minha esposa?
A pobre mãe, aturdida com a pergunta,
afasta-se com lentidão, estampando na face grande amargura. Não tinha dúvidas
que não lhe seria permitido negar sua filha, uma escravazinha, para o serviço
de uma nobre e ilustre dama estrangeira. Preparou a roupa da pequena e os três,
ajoelhados na humildade daquela casa pobre, mostraram a riqueza que possuíam –
a fé em um Deus verdadeiro que os ouvia e consolava. Levantaram-se tranqüilos,
embora tristes pela separação, e ajudaram a pequenina a partir em um dos carros daquele exército.
Agora, numa casa rica, andava a menina, ora
a varrer todos os cantinhos daquelas salas esplendorosas, não deixando nem o
cisco ficar sob os fofos tapetes; ora a procurar belas flores para adornar o
lar de seus bondosos senhores. Ela soubera fazer-se querida pela maneira franca
de falar só a verdade, pelo modo cuidadoso com que realizava suas tarefas.
Um dia seus senhores estavam muito tristes.
Não havia médico que proporcionasse a cura de seu senhor que era um grande
general em sua terra. A menina amava-o e respeitava-o. Lembrou-se então de
enviá-lo a um grande homem que poderia curá-lo. O general não hesitou em
atender à sugestão da escravazinha.
Procurou, com incontida ansiedade, esse grande homem do qual ela lhe falara.
Foi realmente curado de uma moléstia
julgada por todos incurável! Voltou com o coração a transbordar de
alegria por conhecer também uma pequena que sempre falava a verdade, só à
verdade!
07 - A MENINA QUE
SE TORNOU GRANDE
- Clara! Clara!
A voz de
David era trêmula e fraca, pois estava muito doente. Ele amava muito ao pai e à
mãe, que lhe eram muito caros, mas na doença não queria perto de si outra
pessoa senão Clara. Quando a menina saía do quarto, ele começava a gemer, a
chorar e a chamar por ela. O doutor deu-lhe diferentes remédios, mas nenhum lhe
parecia fazer bem algum.
Finalmente
todos desanimaram, dizendo que nada mais podiam fazer por ele. Diziam todos que
David não viveria por muito tempo mais – todos, menos Clara. Ela ficou sempre
ao seu lado, refrescando-lhe,
freqüentemente, a fronte escaldada pela febre ou dando-lhe bebidas nutritivas.
Orava para que Deus o poupasse. Não o abandonava.
Clara faltou
às aulas para cuidar de David. Ele ardeu em febre durante muito tempo, mas
finalmente esta cedeu, deixando-o muito fraco. Contudo, não melhorava como
devia. Afinal, passado um ano, o pai de
David ouviu falar num doutor que tratava de modo diferente. O doutor veio e levou
David para o seu sanatório, a fim de o tratar. E o menino começou a melhorar
rapidamente. Quão contente ficou a
família, e como se alegrou Clara de ter perseverado e feito tudo ao seu
alcance por David, quando os outros pensavam já ser tarde.
Clara
costumava fazer bem tudo o que empreendia. Em criança foi boa aluna, vindo mais tarde a ser professora.
Era ainda nova quando começou a lecionar, muito mais nova do que a maioria dos
professores, mas fez esplendidamente o trabalho. Tinha uma escola que ninguém
conseguira dirigir, pois havia quatro rapazes bem grandes que estavam
determinados a dominar a situação e expulsar qualquer professor, fosse homem ou
mulher, que os viesse ensinar.
Clara tinha
um modo especial de tratá-los, que os outros não tinham. Brincava com eles e
lhes perguntava bondosamente se não lhe queriam prestar favores. Era tão
paciente com eles que os conseguiu ganhar, levando-os a se tornarem alunos
muito quietos e obedientes.
Clara ouviu
dizer que havia em uma cidade próxima meninos e meninas que não tinham escolas
em que pudessem aprender a ler, escrever e fazer contas. Isso certamente faz
muitos anos. Havia umas poucas escolas, mas estas eram somente para pessoas que
tinham bastante dinheiro para pagar os estudos. Clara achava que devia haver
escolas gratuitas para os meninos e meninas pobres, tanto como para os filhos
dos ricos. Mas todos diziam que ela nunca poderia fazer alguma coisa neste
sentido; ela, porém, o fez. Suas escolas tiveram tamanho sucesso que muitos
ricos tiraram os filhos das escolas que estavam freqüentando, para pô-los nas
escolas de Clara.
Veio a
guerra – a terrível guerra. Clara era agora um pouco mais velha, e embora fosse
ainda pequena e delicada, tinha bastante determinação. Não podia consentir em
ver homens sofrerem e morrerem nos campos de batalha sem os devidos cuidados.
Era o tempo da Guerra Civil nos Estados Unidos. Rogou que lhe permitissem fazer
alguma coisa, mas seus pedidos não foram atendidos, visto ser mulher.
Ela, porém, persistiu, sendo-lhe,
finalmente, concedida a oportunidade de ir ajudar os feridos. Muitas vezes
esteve sua vida em perigo. Certa vez, quando estava dando algo a beber a um
homem ferido, foi-lhe o copo arrebatado da mão por uma bala. Doutra vez, uma
bala rasgou-lhe a manga do vestido. Ela, porém, continuou lidando com os
feridos, dando água fria aos sedentos e confortando os moribundos.
Foi a
fundadora da Cruz Vermelha Americana, que tanto tem ajudado aos que sofrem, em
suas necessidades. Nunca há um terremoto, maremoto, enchente, guerra, ou
qualquer outra terrível calamidade que as enfermeiras da Cruz Vermelha ali não
estejam para fazer o possível em favor do povo.
Clara Barton
propôs em seu coração, quando ainda menina, fazer quanto lhe fosse possível
para ajudar aos que sofrem. Pôs bem alto o alvo, e seu nome é exaltado como de
uma mulher digna de toda estima.
08 - A PROMESSA DE PAULA
“Clara”, chamou Paula da frente de sua
casa, “espere um minuto! Quero lhe contar uma coisa”.
E Paula correu bem depressa para o portão
onde Clara estava esperando.
“O que tem de tão importante?”, perguntou
Clara, “parece que você encontrou um milhão de dólares ou coisa semelhante”.
“Não”, disse Paula, “eu não achei um milhão
de dólares nem coisa semelhante. Eu tenho um trabalho para esta noite. Eu
estava esperando conseguir um trabalho para poder ajudar a comprar meu uniforme
escolar, e agora encontrei. Vou cuidar dos gêmeos da Sra. Mendes. Ela precisa
sair por algumas horas para cuidar de sua mãe que está doente”.
“Ah, isto, disse Clara”, eu poderia dizer
que é mais do que um trabalho. Eu cuidei dos gêmeos da Sra. Mendes, uma vez
quando eram bebezinhos, mas a Sra. Mendes era tão crítica e maldosa, que preferi
nunca mais trabalhar para ela”.
Clara começou, bem devagar a caminhar para
longe do portão. “Bem, divirta-se”, ela disse, “talvez você goste da maneira
como a Sra. Mendes dá ordens, mais do que eu”.
Paula voltou a sentar-se na beira da
varanda. Ela se sentia preocupada, será que Clara estava com inveja? Ou será
que é tão difícil trabalhar para a Sra. Mendes? Paula viu quando Clara dobrou a
esquina em direção da casa de Maria. Era muito bom e divertido ser amiga de
Clara e Maria. As duas eram muito populares, e Paula também se sentia popular
quando estava com elas.
A Sra. Mendes estava pronta para sair
quando Paula chegou. “Estou muito feliz porque você chegou na hora”, disse ela,
convidando Paula para entrar em casa. “Este é um momento muito difícil para
mim, me sentiria muito melhor se pudesse encontrar alguém em quem confiar. Eu
gostaria de lhe dizer exatamente o que espero que você faça, para que possamos
nos entender desde o começo. Eu quero que você
me prometa que nunca deixará a casa, sejam quais forem às
circunstâncias. Se alguma coisa errada acontecer com os gêmeos, quero que me
chame imediatamente. Você pode me prometer isto?”
“Sim, certamente”, disse Paula, “a senhora
não precisa ficar preocupada”.
“Estou sentindo que posso confiar em você”,
disse a Sra. Mendes confiantemente, “mas eu tive uma experiência muito ruim com
uma menina que veio cuidar dos gêmeos, e vivo apavorada desde então. Não quero
parecer mal-humorada, ou rabugenta, mas nossas crianças são muito queridas e muito
especiais para nós, e não quero correr nenhum risco”.
“Eu sei”, disse Paula, “meus pais são muito
exigentes sobre a maneira como devo cuidar de nosso bebê. A mamãe sempre diz
que a segurança dele deve sempre vir primeiro porque é muito pequeno e indefeso.
Se a senhora me der o número do telefone onde posso encontrá-la, vou colocar
bem à vista, aqui na mesa, junto com os meus livros”.
Logo que a Sra. Mendes saiu, Paula olhou ao
redor para ver se havia alguma coisa que deveria fazer antes de começar seus
deveres de casa. Os gêmeos ainda estavam dormindo tranqüilamente.
Na cozinha havia louça que precisa ser
lavada. Ela encheu a pia com água quente e colocou o sabão. Levaria somente
alguns minutos, e tudo estaria em ordem quando a Sra. Mendes voltasse para
casa.
Mas antes que começasse a lavar a louça,
ouviu alguém batendo à porta. Ela ligou a luz e olhou para fora. Clara e Maria
estavam paradas no pórtico.
“Vimos quando a Sra. Mendes saiu”, disse
Clara, “e pensamos que você, talvez, gostaria de dar uma escapadinha por alguns
minutos e ir conosco tomar um refrigerante na lanchonete. Você não ficará fora
mais de meia hora”.
“Eu não posso ir”, disse Paula, “prometi
para a Sra. Mendes que não deixaria a casa. Pode acontecer alguma coisa com os
gêmeos”.
“Não seja boba”, disse Clara, “não pode
acontecer nada. Chaveie a porta, pegue seu casaco, e venha conosco”.
“Paula”, disse Maria, com tom impaciente,
“você vem ou não? Talvez você não queira mais ser nossa amiga”.
Paula pensou por um instante, e então pegou
seu casaco, que estava na cadeira, abriu a porta e começou a sair, mas ficou em
dúvida.
“Não”, disse ela, “eu não posso fazer isto,
eu prometi”. E voltando para dentro da casa, disse: “Quero continuar sendo
amiga de vocês, mas não posso quebrar minha promessa”.
“Você tem certeza que quer continuar sendo
nossa amiga?”, caçoou Maria, enquanto ela e Clara corriam pela rua escura.
Paula sabia que era o fim de sua amizade,
mas não podia fazer mais nada. Lentamente fechou e chaveou a porta, e voltou
para a cozinha.
A janela, em cima da pia, estava um
pouquinho aberta, e sentia o ar fresco, gostoso, soprando em seu rosto. Parece
que a noite estava ficando bem fria, e o vento estava começando a soprar mais
forte.
Paula jogou longe o pano de secar pratos
quando sentiu o cheiro de fumaça. Voltou para a pia e procurou cheirar o ar que
entrava pela janela aberta. Realmente sentiu o cheiro de fumaça – como se fosse
borracha queimando. Então teve a certeza
de que alguma coisa estava queimando, em algum lugar muito perto.
Ela correu de quarto em quarto. Estava tudo
em ordem, mas o cheiro de fumaça estava aumentando. Ela abriu a porta dos
fundos e olhou para fora. A princípio
não pôde ver nada, somente luzes na rua vizinha, mas logo que seus olhos
ficaram acostumados com a escuridão, ela viu uma grossa nuvem de fumaça preta
que subia para o céu. Não sabia exatamente a que distância estava, mas não
deveria ser mais do que meia quadra.
Fechou a porta com toda a força. Seu
coração batia muito acelerado. Parou no meio da cozinha tentando pensar. Será
que deveria chamar a Sra. Mendes? Será que deveria acordar os gêmeos, caso
tivesse que levá-los para fora de casa?
O som de sirenes quebrou o silêncio. Os
bombeiros estavam vindo! Seu coração batia ainda mais depressa, e com mais
força, enquanto os carros dos bombeiros, com suas luzes vermelhas girando,
tocavam a sirene pela rua. Eles diminuíram a velocidade e pararam em frente da
casa que estava duas portas mais para frente. As pessoas saíram rápido de suas
casas e corriam de um lado para outro da rua gritando e chamando aos outros.
Paula teve vontade de se juntar a eles e ver o que estava acontecendo, mas
devia permanecer junto dos gêmeos.
E assim Paula ficou parada na frente da
porta tentando ver o que estava acontecendo. A fumaça fazia como um redemoinho
por entre as casas. Algumas vezes ela tinha uma visão das chamas furiosas. De
repente ela viu a Sra. Mendes subir correndo as escadas, seu rosto estava muito
pálido.
“Você ainda está aqui?”, perguntou a Sra.
Mendes, com voz muito estranha.
“Naturalmente que estou”, disse Paula,
orgulhosamente, “eu prometi que não me afastaria da casa”.
A Sra. Mendes se deixou cair sobre uma
cadeira e escondeu seu rosto entre as mãos. “Acho que estou agindo como uma boba, mais fiquei muito apavorada da
outra vez. Quando meus gêmeos eram ainda muito pequenos, tive que sair por umas
poucas horas. Eu pedi a uma menina para cuidar dos bebês para mim; mas logo que
cheguei na cidade, notei que tinha levado a bolsa errada, e assim tive que
voltar. A porta estava chaveada, e Clara tinha saído. Eu não podia entrar em casa, porque minhas chaves estavam
na outra bolsa. Tive que subir em uma janela para poder entrar em casa. Felizmente
não tinha acontecido nada com os bebês, mas isto ainda me deixa assustada, por
pensar em todas as coisas que poderiam ter acontecido”.
“A senhora disse que o nome da menina era
Clara?”, perguntou Paula.
“Sim”, respondeu a Sra. Mendes, “o nome era
Clara. Eu acho que deve ser sua amiga. E isto é uma coisa que me apavora”.
“Eu pensei que Clara fosse minha amiga”,
disse Paula, “mas, na realidade, ela não é. Ela e Maria queriam que eu fosse
com elas até uma lanchonete, mas eu disse que tinha prometido não abandonar a
casa”.
A Sra. Mendes começou a sorrir. “Quando
Clara voltou naquele dia e viu que eu estava em casa, ela se virou e fugiu, e
desde então nunca mais chegou perto de mim”.
Enquanto Paula andava de volta para casa
pela movimentada rua, estava muito
agradecida porque não tinha permitido que Clara e Maria a persuadissem a
quebrar sua promessa. O fogo já tinha sido apagado, e o ar estava limpo e
fresco. As estrelas estavam brilhando e o coração de Paula estava cantando.
09 - A RESPOSTA DE DEUS
Durante
a guerra, grandes aviões com sua carga mortal sobrevoaram a Áustria. Milhares
de casas foram destruídas, fábricas incendiadas e a Capital passou por grande
aflição. Inúmeras famílias foram
deixadas sem lar, como só acontece quando há guerra. Gene e Maria chamemo-los
assim, voltaram um dia da escola para casa apenas para descobrir que não
somente a casa tinha sido destruída pelas bombas, mas tanto o pai como a mãe
haviam sido mortos. Os vizinhos os levaram, com muitas outras crianças sem lar,
para o grande orfanato da cidade. Bem podemos imaginar a tristeza e a amargura
daquelas pobres crianças. Contudo, não esqueceram os ensinamentos dos pais e
muitas vezes ao encontrarem-se no vestíbulo do orfanato, cruzavam as mãozinhas
e oravam ao Pai celeste. Não sabiam o que o futuro lhes reservaria.
Um dia foi anunciado que um país vizinho se
oferecia para arranjar lares para muitas daquelas crianças. Todos estavam
excitados e felizes no dia da partida. Gene e Maria saíram felizes com seus
poucos pertences debaixo do braço e entraram no ônibus que os havia de levar
até a estação, onde tomariam o longo trem sibilante. Seria sua primeira viagem
de trem. Centenas de crianças seriam levadas da pátria para um país estranho, onde
deveriam encontrar novos lares – novos papais e novas mamães.
Quando soou o apito, o trem começou a
movimentar-se, ganhando velocidade. Logo cortava os campos com rapidez enquanto
ansiosos olhinhos perscrutavam cenários que nunca seriam esquecidos. Gene e
Maria, contudo, não estavam demasiado ocupados para poderem cruzar de vez em
quando as mãozinhas e curvar as cabecinhas para uma oração: “Querido Jesus, Tu
sabes que perdemos nosso papai e nossa mamãe: dá-nos, por favor, um novo lar.
Não permitas que sejamos separados e envia-nos para o lar conveniente”.
Logo o trem diminuiu a velocidade e parou
numa estação. Crianças e mais crianças emergiram dos superlotados carros e
fizeram filas na plataforma. Muita gente da cidade ali estava, a fim de escolher
uma criança e adotá-la. Aqui e ali uma era escolhida por ansiosos casais que
fitavam aqueles orfãozinhos de um país estranho. Aqueles rostinhos tristes se
voltavam para cima para verem seus novos pais. Os que sobravam voltavam para o
trem e viajavam para a próxima cidade.
O dia inteiro repetiu-se a cena, enquanto o
grande trem, hora após hora carregava aqueles pedacinhos da humanidade para
novas aventuras. De quando em quando Gene e Maria repetiam a oração para que de
qualquer maneira Deus encontrasse para eles o devido lar.
Estava quase escuro quando o trem parou
outra vez numa grande estação. Gene e Maria separavam-se ao descerem do trem
para a fila, onde, conforme pensavam seriam passados por alto, como tantas
vezes já havia acontecido antes.
Essa
manhã, em certa cidade, um casal adventista do sétimo dia estava fazendo o
culto quando uma batida na porta anunciou a chegada do jornal matutino. Depois
de terminado o culto passaram os olhos pelo jornal para lerem as manchetes:
“Trem de crianças austríacas chega esta noite”, foi o que lhes atraiu a
atenção. A bondosa senhora olhou para o marido e disse: “Querido, esta é a
nossa oportunidade de conseguirmos o menino que há tanto tempo você deseja”.
O marido respondeu com um sorriso: “Não,
querida, você sempre desejou uma menina e não quero ser egoísta. Enquanto vou
trabalhar, você vai à estação e, quando o trem chegar, escolha uma linda menina
de cabelos crespos, para nós”.
Por algum tempo estiveram considerando se
devia ser menino ou menina. De uma coisa estavam convictos: que só poderiam
cuidar de uma criança. Existia no coração de ambos uma simpatia especial pelos
austríacos, pois ambos tinham parentes na Áustria. Finalmente chegaram á
conclusão de que adotariam um menininho que tivesse cabelos crespos, ombros
largos e se parecesse com o pai adotivo.
Quando o trem parou em sua cidade aquela
noitinha e as centenas de crianças fizeram fila para procurar novos pais, a
Sra. Bergman estava lá. Andou avidamente de um lado para o outro, contemplando
os rostinhos magros e tristes das pequenas vítimas da guerra. Podia ler a
história de desapontamento, desolação e fome em muitas faces. Afinal notou um
rapazinho que parecia ter as feições procuradas, ombros largos, cabelos crespos
e ar tranqüilo e calmo. Havia algo nele que atraiu a atenção. Parecia-se com
alguém que ele já tinha visto antes. Aproximou-se dele com um sorriso:
Você quer vir para a nossa casa? Temos um
balanço no quintal e nenhuma criança para brincar nele. Eu gosto de homenzinho como
você. Você vem comigo?
Gene continuou ereto e impassível. Afinal
respondeu com sua vozinha fina:
- Sim, eu gostaria de ir com a senhora e
brincar no balanço, mas tenho uma irmãzinha e queremos ficar juntos.
Sua vozinha tremeu um pouco na última
palavra e lágrimas brilharam nos olhos.
- Oh, mas sua irmãzinha terá acolhida em
outra parte! Nós só podemos ficar com um, rogou a Sra. Bergman.
- Mas nós pedimos a Jesus que nos mandasse
para a mesma casa e temos certeza de que Ele terá um lugar onde poderemos ficar
juntos, pois perdemos nosso pai e nossa mãe, disse o pequeno, num soluço.
O coração da senhora ficou tocado. Ali
estava um menino que cria em Deus e cria que Ele havia de responder à sua
oração. Respondeu rapidamente: - Onde está sua irmãzinha? Vá buscá-la, para eu
vê-la.
O pequeno correu, procurando-a na fila, e
voltou em seguida com ela pela mão. Ambos pararam, fitando a bondosa senhora
com olhar súplice.
- Aqui está ela, disse Gene com um sorriso.
Lágrimas assomaram aos olhos da senhora
enquanto sentia um nó na garganta. Que injustiça estaria praticando ao separar
aqueles irmãozinhos, únicos sobreviventes daquela família destruída pelo
bombardeio! Convenceu-se de que devia aceitar os dois. Olhando-os intensamente,
disse: - Bem, queridos amigos, não sei o que meu marido dirá, mas vou levar
vocês dois. Venham comigo e logo chegaremos em casa.
Com exclamações de alegria eles disseram
adeus aos companheiros e logo se perderam no meio da multidão, seguindo sua
nova mãe até o auto lá embaixo, na estação. Poucos depois estavam sentados na
sala de uma boa e ampla casa, esperando algo para comer.
A Sra. Bergman estava na cozinha
preparando alguma coisa para os famintos aditamentos de sua família. Com os olhos
bem abertos, os pequenos olhavam tudo o que havia na casa. Realmente estavam
contentes de estar nesse novo lar, mas ainda um pouco receosos do futuro. De
repente Gene apontou o dedo magro para o retrato de uma mulher que estava sobre
o piano.
- Veja, disse ele à Maria, parece...
- Não pôde continuar, um soluço
embargou-lhe a voz e ambos começaram a chorar. Não podiam controlar as emoções.
Quando a Sra. Bergman ouviu os soluços,
veio correndo para ver o que havia. – Que é que vocês têm? Que aconteceu? Vocês
não estão satisfeitos aqui? Exclamou ela.
- Sim, disse a menina por entre lágrimas,
estamos contentes.
- Então por que estão chorando tanto?
Perguntou ela.
Logo
que se acalmaram um pouco, olharam para a face maternal da Sra. Bergman e
apontaram para o quadro sobre o piano. A senhora, fitando o retrato, disse: -
Sim, é minha irmã. Porque vocês choram ao ver essa fotografia?
A
menininha soluçou: - Essa é minha mãe!
Então a Sra. Bergman
concluiu que sua irmã, que fazia anos havia ido para a Áustria e dela não tinha
notícias já havia quatro ou cinco anos, teria sido morta no bombardeio. Depois
de considerável interrogatório, ficou convicta de que estes eram realmente os
filhos de sua irmã.
Oh,
que alegria houve naquele lar e que gratidão por Deus ter ouvido as orações
daquelas crianças deixadas sem lar! Compreenderam que há um Deus que ouve e
responde de modo maravilhoso às orações.
10 - A VINGANÇA DO INDÍGENA
Era um fim de verão, faz muitos, muitos
anos, na América do Norte. Fazia meses que não chovia, e o sol castigava a
terra sem piedade, de maneira a secar os córregos e riachos, ficando só os rios
de maior volume d’água.
Um jovem alto, esbelto, chamado Daniel
Wilson, trabalhava perto de seu rancho, localizado numa curva em que os campos
se encontravam com a imensa floresta.
Era o único homem branco, muitas e muitas léguas separado dos demais, e a
esposa dele era a única mulher branca naquele lugar.
Por um trilho que vinha da floresta para o
campo, apareceu um indígena de estatura elevada e de aspecto nobre. Porém
andava como que cansado, movimentando-se irregularmente, e em seu rosto se
observavam traços de doença e de quem estava muito sedento. Ao se aproximar do
rancho, hesitou, por um momento, e depois se aproximou do homem branco.
“Estou muito sedento; pode fazer o favor de me dar água para
beber”, disse ele.
“Vá embora”, foi a áspera resposta. “Não
dou coisa alguma a indígenas”.
A descortês e violenta atitude do homem
branco feriu profundamente o orgulho do
selvícola, mas, como estava para morrer de sede, mesmo em desespero, suplicou
de novo: “Não posso mais andar. Tenha a bondade de me arranjar água para
beber!”.
“Desapareça daqui! Não quero conversa com
bugres”, foi à resposta, ainda mais violenta do que a primeira.
O indígena, o exausto pele vermelha, pouco
a pouco se foi virando, para partir, mas seus olhos demonstravam o desejo
intenso de vingança. Vagarosamente seguiu pela estrada do campo, até penetrar
na mata densa, em direção de sua aldeia.
A jovem esposa do homem branco tinha ouvido
a súplica insistente do homem das selvas, assim como a cruel recusa do marido.
Ficara comovida e confusa. Quando o índio se retirava lentamente, sem poder
andar direito, ela foi observá-lo da janela. Quando o trilho por que andava
descia, para se encobrir mato adentro, a mulher viu o caboclo parar, trêmulo,
cambaleante, e cair estendido no chão.
De repente apanhou um vaso d’água, um bule
de leite e um bom pedaço de pão e, como o marido estivesse do lado oposto, saiu
sem ser vista para acudir aquele pobre índio. Temia que estivesse morto.
Chegando lá, porém, ao local, verificou que ele havia desfalecido em
conseqüência da exaustão e da sede. Com a água fresca que levara e com palavras
de simpatia, conseguiu fazê-lo voltar a si. Deu-lhe de beber e alimentou-o.
Pediu, então, que não levasse em conta as palavras grosseiras do marido.
Refeito, dentro de pouco tempo estava ele em condição de continuar a viagem.
Antes, porém, de partir, tirou uma das penas brancas que trazia na cabeça e
entregou-a, dizendo:
“Minha bondosa senhora, receba esta pena.
Quando seu marido estiver caçando, peça-lhe para usá-la, para que possa escapar
com vida. Eu havia planejado voltar e matá-lo. Por sua causa, no entanto, não
farei isto. Se ele cair nas mãos de outros de minha tribo, só escapará se
estiver com esta pena”.
Ao concluir estas palavras, com um porte
elegante seguiu pelo restinho do trilho e desapareceu na vastidão da floresta.
Passaram-se três anos. Outros colonos se
estabeleceram naquele mesmo distrito. Perto do fim do inverno, quando a
alimentação estava ficando bastante escassa, os homens se organizaram e saíram
num grupo para caçar. Antes de saírem, a esposa do homem que havia sido muito,
muito grosseiro para com a pele vermelha, três anos atrás, pediu-lhe que usasse
a pena branca do índio na lapela de seu paletó, repetindo-lhe as palavras do
selvícola quando o fora socorrer. O marido riu-se, zombando da preocupação e do
medo da esposa, e não queria usar a pena. Por fim, dada a insistência da mulher
e para satisfazê-la, pregou-a no paletó e saiu.
As caças estavam raríssimas. Não aparecia o
que matar. Andaram e andaram, mato adentro, mais longe do que haviam imaginado.
O sol descambava no poente. Todos estavam procurando matar um lindo veado,
tomando posição aqui e ali, correndo para mais adiante, sem se darem conta do
tempo que corria também. Daniel Wilson ficara atrás dos companheiros,
procurando endireitar os sapatos que o estavam maltratando bastante.
Quando ficou pronto, já estava escurecendo a
noite. Apressou-se, correndo e buscando ver que direção haviam tomado os
outros. As trevas, mo meio da floresta, não permitiam mais que visse as saídas.
Era difícil andar. Estava perdido. Pensou que poderia ouvir os companheiros:
assobiou, gritou, e nada. Pelejou e pelejou, até se convencer de que não havia
outra coisa a fazer, a não ser permanecer a noite inteira na floresta e
aguardar o amanhecer do dia.
Nisto, percebeu como que vultos erguerem-se
ao seu redor. Poucos momentos, e estava ele nas mãos de um grupo de índios que pareciam selvagens.
Amarraram-lhe as mãos e fizeram com que ele andasse á sua frente. Cansado, mas
obrigado a caminhar mais e mais, horas e horas. Depois, todos de novo a
caminho.
No dia seguinte chegaram à aldeia, na floresta, perto de um lago.
Cabanas altas e de topo pontiagudo, mulheres e crianças, fumaça de fogo de
cozinha, tudo indicava ser de grande importância àquela taba.
O aflito homem branco foi levado a uma
cabana desocupada, ficando lá sob a guarda de dois bravos jovens. Era já tarde.
O sol descia no ocaso. Ouvem-se rumores entre os selvícolas. Chega outro grupo
de guerreiros, com o chefe à frente, um homem alto, de boa aparência, trazendo
suas penas e com as pinturas que usam na guerra.
Contaram-lhe da captura do homem branco e
ele foi vê-lo. Logo que viu a pena branca, reconheceu o cativo, o homem que,
anos atrás, se havia negado de socorrê-lo, mal-tratando-o sem piedade.
“É muito feliz em estar usando a pena”,
disse o chefe indígena. “Se não fosse isto, você seria morto esta noite. Por
causa de sua esposa, que me tratou com bondade, prometi poupá-lo quando caísse
em meu poder. Por que os homens brancos não são bondosos para com os irmãos de
pele -vermelha? Os pele-vermelha só matam os brancos quando se vingam de
qualquer crueldade de que foram vítimas.
“Agora irei levá-lo de volta a sua casa. Eu
mesmo vou acompanhá-lo. Primeiro, porém, você precisa comer e descansar”.
Ao se retirar o chefe, dois jovens
trouxeram-lhe comida e uma pele sobre que se deitar, para passar bem o resto da
noite. E, cumprindo a promessa, de manhã, bem cedinho, aquele valoroso chefe
indígena veio e saiu com o homem branco. Caminharam léguas e léguas, através da
floresta, até chegarem ao ponto em que a mata termina e começa o campo. Nesta
longa viagem, Daniel Wilson aprendeu a respeitar e a admirar o homem cuja honra salvou o inimigo cativo,
em seu poder.
11 - AMOR SUFICIENTE PARA TODOS
Ricardo podia ouvir o vento frio soprando
lá fora e se sentiu muito alegre por ter uma casa confortável e quentinha. Ele
estava observando sua mãe descascando maçãs para fazer um doce, enquanto alisava seu cachorrinho de estimação
que já estava quase dormindo.
A mamãe, com todo cuidado tirava a fina
casca das maçãs. A casca se enrolava,
enquanto sua faca dava voltas ao redor da maçã. Sua irmã, Sandra, estava bem
perto da mamãe, pegando as cascas antes que tocassem na panela.
- Eu também quero fazer isto – disse
Ricardo, enquanto chegava mais perto da mamãe. – A próxima casca é minha, não
é, mãe?
- Há cascas suficientes para os dois –
disse a mãe – e acho que ainda vai sobrar. – E ela sorriu para Ricardo.
O sorriso da mamãe fez com que Ricardo
ficasse muito satisfeito. Ele olhou para ela e sorriu também, e notou que a
mamãe estava sorrindo para Sandra.
Neste momento uma casca de maçã caiu no
chão, e Muchinga, a gatinha, pulou em cima dela.
- Ó, Muchinga, você é muito malandra! Disse
Ricardo se divertindo, vendo como ela jogava a casca. – Você quer brincar, não é? Está bem, então venha
aqui que eu vou brincar com você.
Ricardo foi até a sala e encontrou o
brinquedo especial e preferido da gatinha, uma longa fita com uma pequena bola
vermelha amarrada na ponta. Ele corria ao redor da sala puxando fita, enquanto
Muchinga procurava caçar a bolinha.
- Grrr! – resmungou Tuty, o cachorrinho,
correndo e tentando agarrar a bola. Ele havia acabado de acordar e queria
entrar na brincadeira. Mas, Muchinga não gostou da história, levantou suas
costas e seu pêlo, e... arranhou o Tuty. Este por sua vez, latiu, latiu e deu
uma patada em Muchinga.
- Que aconteceu. Venham aqui vocês dois –
disse Ricardo, sentando entre eles e gentilmente agradando cada um. – Não se
preocupem. Nós podemos brincar todos juntos. Eu gosto de cada um da mesma
maneira.
Pouco tempo depois tanto o cachorrinho
quanto à gatinha, estavam dormindo, e Ricardo voltou para a cozinha. Sandra
continuava ajudando a mãe a colocar as maçãs numa panela grande.
- Eu quero fazer isso – disse Ricardo,
tentando alcançar a panela.
- Há lugar suficiente para os dois, e
muitas maçãs também – disse a mãe. E desta maneira Ricardo e Sandra se
revezavam ajudando até que a panela estava bem cheia.
Quando as maçãs estavam fervendo em cima do
fogo, Ricardo olhou para a mamãe e perguntou:
- De quem você gosta mais, mãe, de Sandra
ou de mim?
Ele esperou ansioso pela resposta. Sandra
ouviu o que Ricardo tinha perguntado, e veio para perto para ouvir o que a
mamãe iria responder.
Ricardo ficou muito surpreso pelo que a mãe
fez então. Ela sorriu, sentou-se, e colocou um braço ao redor de Ricardo e o
outro braço ao redor de Sandra.
- Ricardo – ela disse – eu vi você
brincando com seu gatinho e com o seu cachorrinho.
De
qual dos dois você gosta mais?
- Oh, gato e cachorro são diferentes –
respondeu Ricardo. – A gatinha é branca e macia, tem lindos olhos azuis. Tuty é
todo crespinho e preto, e tem um nariz comprido e bonito. Eu não gosto mais de
um do que do outro.
- Bem – disse a mãe – Sandra é uma menina,
com longos cabelos e olhos escuros. Você é um menino, tem cabelos curtos e
olhos azuis. Vocês são ambos meus filhos, e eu amo a cada um da mesma maneira. Tenho amor suficiente para os
dois, e ainda tem mais amor sobrando.
Ricardo se sentiu muito bem ao ouvir isto.
Sandra também estava sorrindo.
- E sabem – acrescentou a mamãe – Deus nos
ama da mesma maneira também. Ele tem muito amor por cada pessoa neste mundo.
- Assim como maçãs – riu Ricardo. –
Suficiente para todos, e algumas de sobra.
Deus nos ama muito mesmo – ama a cada um de
nós. Vamos lhe dizer “Muito Obrigado” por nos amar tanto e por ter feito um
mundo tão maravilhoso onde podemos viver.
12 -
ARTEIRO
Arteiro era
um gatinho preto, que apareceu no quintal, e as crianças trouxeram para dentro de casa.
Célia
deu-lhe o nome de Arteiro, porque a primeira arte que fez foi enfiar as
patinhas na cesta de costura da mamãe enroscá-las na linha, desenrolar o
carretel, puxá-lo para fora e embrulhar-se todo na linha já embaraçada.
Um dia, ele
pulou e puxou a ponta da toalha da mesa e subiu por ela, pondo-se todo contente
bem no centro da mesa! Era tão pretinho e engraçado sobre a toalha alva, que
até a mamãe não pode deixar de rir ao tirá-lo de lá, dizendo que ali não era
lugar para gatinhos!
“Ele precisa
tomar umas lições de boas maneiras”, disse Rosália; “mas como ele aprenderá, se
não entende o que dizemos?”.
Papai
gostava do Arteiro também. Quando estava em casa à tarde, deixava que o gatinho
lhe subisse pelas pernas, e se aninhasse no alto dos seus ombros. Depois o
levava consigo até à biblioteca, e o ajeitava na mesa, onde ele tirava um bom
sono. Mas quando não queria dormir, o Arteiro fazia artes: Mexia nos papéis...
Um dia ele pulou na escrivaninha e passou um tempo delicioso espalhando penas e
lápis pela sala toda; mas quando entornou o tinteiro, mamãe disse: “Não há
jeito; precisamos ensinar boas maneiras ao Sr. Arteiro, ou então conservar a
escrivaninha sempre fechada”.
“O melhor é
fechar a escrivaninha”, disse Rosália que achava que o Arteiro era muito
pequeno para aprender boas maneiras.
Um dia,
papai estava muito ocupado e chegou tarde para o almoço. As crianças almoçaram
e estavam prontas para ir à escola.
“Antes de
almoçar, preciso ver o jornal”, disse o papai, “não tive tempo de correr os
olhos pelas notícias esta manhã!”.
Ele abriu o
jornal e começou a ler, quando...
“Papai,
olhe! Gritou Rosália”, Olhe, papai!”.
Papai
afastou o jornal, sobre a mesa, saboreando placidamente seu prato!
“Será
possível!” Exclamou a mamãe! “Este gatinho tem que aprender bons modos!”Ela
retirou o gatinho de lá, levou-o para o “hall”, fechou a porta e trocou o prato
do papai”.
Papai simplesmente riu. “Ele aprenderá
quando for mais velho”, disse.
Mamãe
esqueceu-se do Arteiro enquanto tirava a mesa. De repente, lembrou-se. “Ora!
Esqueci-me do gatinho lá no hall!”.
Ela foi
procurá-lo. Nem sinal de gatinho no “hall”! Ela chamou, chamou, mas o Arteiro
não apareceu. Procurou-o pela casa toda, e nada do Arteiro!
Quando as
meninas voltaram da escola, a mamãe disse-lhes:
“Coitado do
Arteiro! Sumiu-se! Procurem-no pelo quintal; não quero que ele passe a noite
fora, sozinho!”.
As crianças
procuraram e procuraram... Perguntaram aos vizinhos, e nada. Ninguém vira o
Arteiro.
“Papai
ficará triste quando souber do desaparecimento do Arteiro”, disse Rosália.
“Vou tentar
mais uma vez. Vou olhar por toda parte”, disse Célia. Mas não foi encontrado.
As crianças estavam tristes quando papai chegou para jantar.
“Papai,
Arteiro sumiu-se”, disseram elas.
Papai riu
gostoso
“Olhem aqui!” Disse ele. Enfiou a mão no
bolso do sobretudo e retirou de lá... O gatinho preto!
“O Arteiro!”
Gritaram as crianças, correndo ambas para pegá-lo.
Onde você o
encontrou; perguntou mamãe.
Papai contou que já estava na metade do
caminho para a cidade, quando, ao tirar, o lenço do bolso, deu com o gatinho
que dormia sossegadamente no seu bolso. Quando mamãe levou-o para o “hall”, ele
subiu no, sobretudo do papai e acomodou-se num dos bolsos.
“Que fez com
ele, papai?” Perguntou Célia.
“Levei-o
para o escritório, naturalmente”, disse ele;
“não havia tempo para voltar em casa. No escritório, ele se comportou
muito bem; brincou com todos e dormiu no cesto de papel. E ainda se fala em
ensinar-lhe boas maneiras! Vamos tratá-lo como a um cavalheiro, e mais tarde
verão que ele será o melhor e mais ajuizado gato do mundo!”.
13 - AS ESTRELAS SÃO PARA NOS GUIAR
Bruce queria acompanhar seu pai nas
planícies do grande Deserto de Gobi. O Gobi se estende por muitos e muitos
quilômetros, mas com muito poucas marcas ou sinais que indiquem a direção.
Existem somente quilômetros de planícies onduladas – sem estradas, sem árvores,
sem cidades e sem vilas.
O pai de Bruce ia com freqüência ali,
porque, bem distante, além daquelas planícies, estava uma importante sede da
missão. Mas era uma viagem longa, muito cansativa, e a pessoa tinha que levar
tudo o que precisava, colchonete para dormir, coisas para comer e roupa
suficiente para todo o tipo de temperatura. E se estivesse na época das chuvas,
qualquer tipo de viagem seria muito difícil.
O papai estava se preparando para a viagem,
e Bruce tinha esperança que poderia ir junto. Depois de muitas considerações
sobre o assunto, e tendo de fazer uma preparação adicional, o papai decidiu que
Bruce poderia ir junto desta vez. O pai carregou o carro na noite anterior, e
tudo estava preparado para a partida na manhã seguinte.
“Vamos”, disse o pai, “está na hora de
acordar, já é tempo de tomarmos nosso caminho”.
Bruce esfregou os olhos, se espreguiçou um
pouco, e somente meio acordado, lembrou que naquela manhã iria acompanhar o pai
na longa viagem. E assim, rapidamente, saiu da cama, se vestiu, e bem depressa
estava sentado à mesa, tomando seu desjejum na madrugada. O papai estava
colocando as últimas coisas no carro, esquentando o motor e esperando pela hora
de partir.
Com um alegre “viva”, e um último carinho
em Rom-rom, Bruce e seu pai saíram do portão para a estrada, e logo começaram a
subir a estrada adicional que os levaria à parte alta da planície do Deserto de
Gobi. Em menos de uma hora, estavam mais próximas e mais brilhantes.
O carro seguia pela escuridão, e o dirigir
requeria muito pouca atenção. Bruce sentado no banco da frente com seu pai
adormeceu um pouco, e o ronco contínuo do motor parece que estava embalando o
pai em uma sonolência, também; mas não foram muito longe porque o carro caiu em
um declive que levava a um desfiladeiro profundo. O caminho defeituoso e a
sacudidura acordaram o pai, que olhando ao redor logo viu que tinham saído da
estrada. Ao invés de viajarem para o sudoeste, estavam indo direto para o Este,
e naturalmente logo estariam em áreas desconhecidas.
“Bem”, disse o pai, “acho que cochilei um
pouco e não sabia para onde estava guiando. Eu nunca tinha visto esse
desfiladeiro antes”.
“Como você sabe?”, perguntou Bruce,
“existem tantos desfiladeiros, como você pode saber qual que já viu e qual não
viram?”.
“Você precisa ter certeza”, respondeu o
pai, “estou acostumado com os que já vi, e nunca estive neste desfiladeiro
antes”.
“Você sabe em que direção está o norte,
pai?”.
“Não,
mas sei uma maneira que podemos descobrir”.
“Mas você não tem uma bússola”, disse
Bruce.
“Não”, replicou o pai, “vamos nos guiar
pelas estrelas”.
“Pelas estrelas!”, exclamou Bruce, “como,
se todas estão no céu! Como pode se guiar por estrelas?”.
“Certamente podemos, filho; os marinheiros
nos grandes navios que atravessam os oceanos calculam sua localização
corretamente, olhando para o céu e localizando certas estrelas. Embora não
estejamos no mar, estas grandes planícies são exatamente como um oceano, e nós
também podemos calcular nossa localização, e encontrar o caminho certo pelas
estrelas. Primeiro precisa encontrar a Estrela Polar, a Estrela do Norte, e
seguir a linha até onde estão agora. Depois identificando outras constelações, e
encontrando a relação com outras estrelas, podemos ter uma direção geral e
saber como devemos proceder para encontrar um certo ponto no mapa”, explicou o
pai.
“Isto é muito interessante”, disse Bruce.
“Eu lembro que o primeiro capítulo de Gênesis nos fala que quando Deus criou o
céu e a Terra, Ele mandou que aparecessem os luminares no céu, e a Bíblia nos
diz que eles deveriam servir de sinal para as estações, para os dias e para os
anos; mas eu não sabia que também poderiam nos ajudar a encontrar o caminho
quando estamos perdidos”.
“Sim, Bruce, você não se lembra da história
na Bíblia, quando os magos foram guiados por uma estrela, através do deserto
até Belém, para encontrar o Menino Jesus?”.
“Ah, sim, eu me lembro desta bonita
história; e sabe, pai, acho que você é igual aos magos, vai encontrar nosso
caminho neste deserto através de uma estrela”.
Muitas vezes a Bíblia nos fala sobre as
estrelas. Você mencionou Gênesis, onde está escrito que os luminares do céu
deveriam servir de sinal. Quando Jesus esteve aqui na Terra, Ele falou sobre os
sinais no céu. Um dia Seus discípulos perguntaram quando Ele voltaria a Terra,
e Ele disse que haveria sinais no Sol, na Lua e nas estrelas para mostrar que
Sua volta estaria perto.
“Pai, isso já aconteceu?”.
“Sim, filho, o último destes sinais
aconteceu há 100 anos atrás quando houve uma chuva de estrelas cadentes.
Parecia como se do céu estivessem chovendo estrelas. Por aquele e por outros
sinais, podemos saber que Jesus voltará muito em breve. E assim, as estrelas
não somente nos ajudam a encontrar nosso caminho aqui neste deserto, mas também
sinalizam a volta de Jesus”.
E assim, guiados pelas estrelas, papai e
Bruce logo encontraram a estrada correta novamente, contente por Deus ter
colocado as estrelas no céu para orienta-los no caminho certo.
14 - AS MÃOS DE MINHA MÃE
Faz anos, quando minha irmã mais velha
tinha meses de idade, aconteceu adormecer no quarto da frente. Mamãe estivera
ocupada com o serviço da casa e, ao aproximar-se da hora do almoço, encheu o
fogão de querosene, preparando-se para cozinhar o almoço.
Cheio o fogão, mamãe riscou um fósforo para
acender. Seguiu-se terrível explosão, e em breve a pequenina casa se achava em
chamas. Na explosão minha mãe ficou seriamente ferida. O braço esquerdo e o
ombro ficaram em carne viva. Os vizinhos acorreram à cena e ajudaram-na a
pôr-se em segurança.
O corpo de bombeiros da pequenina cidade;
com seu primitivo aparelhamento daqueles tempos, apareceu dentro de alguns
minutos. Por essa altura toda a casa era uma verdadeira fornalha.
Naturalmente, a primeira coisa de que mamãe se lembrou ao recuperar-se do
choque, foi a criancinha adormecida em meio àquelas chamas. Os bombeiros e os
espectadores disseram não haver esperança de penetrar nos aposentos cheios de
fumaça e dos caibros a cair. Desprendendo-se, porém, dos que a procuravam
conter, mamãe precipitou-se para a incendiada casa, abrindo caminho por entre o
fumo e as chamas, em direção do quarto em que se achava sua filhinha – ainda
adormecida.
Agarrando-a com aqueles braços já
horrivelmente queimados pela explosão, mamãe carregou o precioso fardo para
fora, a salvo. Apenas uma cicatriz produzida por um botão quente assinalou
minha irmã mais velha, mas mamãe levou ao túmulo os vestígios de seu ato de
heroísmo.
Por mais de um ano esteve ela em
tratamento, enquanto a pele enxertada ia aos poucos cobrindo as feridas.
Aqueles repuxados tendões desfiguraram-lhe a bela mão, e feias cicatrizes
marcaram o braço que transportou a pequenina para lugar seguro. Aqueles dentre
nós, porém, que conheciam a história que se achava por trás daquelas cruéis
cicatrizes, amávamos aquela mãe, que a constrange a não poupar a própria vida
para salvar seu filho!
Como esse amor tem inspirado e moldado à
vida dos grandes homens deste mundo! Podemos seguir, através dos séculos, a influência do amor e da educação de uma
mãe.
Aí está José, o jovem escravo que se tornou
poderoso governador do Egito – o segundo Faraó. Em meio de adversidade e
popularidade José não se desviou da senda da retidão. Por que? Porque, como
menino aos joelhos de Raquel, absorvera
de sua piedosa mãe aqueles princípios de verdade e justiça que o mantiveram
fiel ao ser combatido pelas ondas da tentação.
Abraão Lincoln disse uma vez: “Tudo quanto
eu sou ou tudo quanto ainda espero ser, devo a minha angélica mãe!”.
“O trabalho da mãe muitas vezes se afigura,
aos seus próprios olhos, sem importância. Raras vezes é apreciado. Pouco sabem
os outros de seus muitos cuidados e encargos. Seus dias são ocupados com uma
série de pequeninos deveres, exigindo todos paciente esforço, domínio de si
mesma, tato, sabedoria e abnegado amor; todavia ela se não pode vangloriar do
que fez como de algum importante feito. Fez apenas com que tudo corresse
suavemente no lar; muitas vezes fatigada e perplexa, esforçou-se por falar
bondosamente às crianças, mantê-las ocupadas e satisfeitas, guiar os pequeninos
pés no caminho reto. Sente que nada fez. Assim não é, entretanto. Anjos do céu
observam a mãe, fatigada de cuidados, notando suas responsabilidades dia a dia.
Seu nome pode não ser ouvido no mundo; achava-se, porém, escrito no livro da vida do Cordeiro.
“Existe um Deus no céu, e a luz e glória do
Seu trono repousam sobre a fiel mãe enquanto ela se esforça por educar os
filhos para resistirem à influência do mal. Nenhuma outra obra se pode comparar
a sua em importância. Ela não tem, como o artista, de pintar na tela uma bela
forma, nem, como o escultor, de cinzelá-la no mármore. Não tem, como o
escritor, de expressar um nobre pensamento em eloqüentes palavras, nem, como o
músico, de exprimir em melodia um belo sentimento. Cumpre-lhe, com o auxílio
divino, gravar na alma humana a imagem de Deus”.
Quão adequado, neste Dia das Mães, que nos
detenhamos um pouco e prestemos um tributo a quem tantas vezes tem enchido
plenamente a medida da dedicação por aqueles a quem ama! Por intermédio de sua
ilimitada afeição, quanto filho ou filha coxeante não tem sido conduzido à luz
do supremo amor celeste! Que alegre dia de reunião será aquele em que as
piedosas mães de todos os séculos se encontrarem com os seus ao redor do grande
trono branco!
“Pode uma mulher esquecer-se tanto de seu
filho que cria, que se não compadeça dele, do filho de seu ventre? Mas ainda
que esta se esquecesse, Eu, todavia, não Me esquecerei de ti. Eis que nas
palmas das Minhas mãos te tenho gravado: os teus muros estão continuamente
perante Mim”. Isaías 49:15 e 16.
Não quereis vós, neste Dia das Mães –
enquanto o coração se acha enternecido ao pensamento do lar e da mãe – pensar
também naquele incomparável amor de Cristo e entrar com Ele em mais íntimas
relações – com Ele que vos amou e Se entregou a Si mesmo por vós?
15 - CARLINHOS MUDA DE OPINIÃO
- Não emprestarei para ninguém! Exclamou
Carlinhos ao ver, na manhã de seu aniversário, a bela caixa de ferramentas,
enviada pelo tio, acompanhada de um bonito cartão de felicitações. E para maior
segurança, acrescentou ele, para que ninguém me venha pedir nada emprestado,
manterei a caixa fechada e guardarei a chave comigo, no bolso.
- Não se esqueça, Carlinhos, disse o pai,
que você por mais de um ano tem usado livremente as ferramentas de José. É
justo que você seja reconhecido!
Carlinhos ouviu as palavras mais não
claramente, pois já se adiantava quando o pai começara a falar. Não que ele não estivesse bem com
José, não, eles se davam muito bem. É que no dia anterior, quando vinham da
escola, José havia falado numa carteira escolar que estava fazendo para a
irmãzinha brincar em casa. Ele não podia acabar porque lhe faltava um trado a fim de fazer alguns
buracos nas pernas da carteira.
José estaria esperando pedir emprestado as
ferramentas novas - e, pensou Carlinhos,
se eu deixar a caixa aberta, José sentir-se-á livre para utilizar-se delas. O
mais acertado será eu trazer a caixa sempre fechada e guardar a chave sempre
comigo, no “bolso”.
À tardinha daquele mesmo dia, entretanto,
José veio brincar e Carlinhos observou
como ele examinava demoradamente a caixa, apreciando quão belas e finas eram as
brilhantes ferramentas novinhas.
- Que lindo presente, Carlinhos, disse José
tomado de grande entusiasmo. Se fossem
minhas não permitiria que ninguém tocasse.
- É isso mesmo que vou fazer. Não
emprestarei a ninguém, mas se você
quiser fazer algum serviço, eu estarei disposto a faze-lo para você,
respondeu Carlinhos.
- Você tem a chave da caixa, não tem? Perguntou José.
- Certamente, veja, e mostrou a José uma
chavezinha de metal branco, brilhante.
Branco
e brilhante.
- Muito bem, isto é suficiente para guardar
bem as suas ferramentas, disse José, ao mesmo tempo em que seu pai o chamava.
- Vamos passear até o sítio, convidou o
papai. Como uma flecha José correu para o portão, onde estava o pai.
- Você poderá vir também, disse o pai de
José para Carlinhos.
- Não, obrigado, respondeu Carlinhos.
Preciso fazer umas voltas para mamãe.
- Tudo, porém o que segurava Carlinhos era
a linda caixa de ferramentas. Ele saiu para fazer algumas compras para a mãe,
mas voltou imediatamente. Nunca fizera uma volta tão depressa. Grande era a animação pelo presente do tio – a linda
caixa de ferramentas brilhantes.
Mas, quando ele voltou e acabou de fazer
alguns outros trabalhos extraordinários naquela noite, não dispôs de tempo para
dar mais uma olhada ao lindo presente. Demais, ele havia fechado a caixa e a
chave estava consigo. Entretanto, para se cientificar correu a mão ao bolso e
para espanto seu a chave não estava. Estacou, meditando.
“Bem me lembro agora, disse ele em voz
baixa”. José estava com a chave quando seu pai o chamou. Será que ele me
entregou a chave? Não! E Carlinhos convenceu-se de que José não lhe havia
devolvido a chave.
“Malvado de José!” Murmurou, “mas eu hei de
apanhá-lo. Não direi nada a ele que a minha chave desapareceu até que ele venha
e me peça alguma ferramenta emprestada; então direi que a chave se perdeu”.
Carlinhos foi dormir aborrecido e na manhã
seguinte acordou-se ainda amuado, mas não deu a menor impressão de que estava
aborrecido. Queria demonstrar estar tudo muito bem.
Quando se dirigia para a escola viu a José
que o esperava no mesmo lugar de sempre, saudando-o alegremente. Carlinhos nem
tirou as mãos do bolso para corresponder à saudação de José. Este não notou que
Carlinhos não lhe correspondeu o aceno de mão; nem tocou no assunto da caixa de
ferramentas que Carlinhos havia recebido. No período de lanche da escola é que
falou a um grupo de companheiros do lindo presente que Carlinhos ganhara. Nesta
hora, Carlinhos se conteve para não desmascarar a José de ter ficado com a
chave da caixa.
O dia de aulas se passou e Carlinhos não
olhou nem uma vez para o lado onde se sentava José. Quando se acabaram as
aulas, Carlinhos adiantou-se para casa,
e naquele dia pela primeira vez não teve palavras de carinho que o veio
encontrar como sempre.
Quando chegou em casa o pai o estava
esperando na porta e, tomando a pasta de livros, pediu-lhe que voltasse ao
armazém e trouxesse meio quilo de pregos.
Carlinhos voltou e no meio do caminho
encontrou-se com José, que vinha. Seu primeiro pensamento foi passar de largo e
nem olhar para o amiguinho.
- Vou ao armazém, quer ir comigo? Foi o que
respondeu ao amiguinho que havia perguntou aonde ia ele.
- Não, respondeu José, mas vou esperá-lo aqui e iremos depois juntos
para sua casa.
Carlinhos bem desejaria demorar um pouco
mais, até que José desistisse de
esperá-lo e então fosse sozinho para casa. Mas José o esperou.
- Venha e olhe isto aqui, disse José ao se aproximar Carlinhos, já de volta, e
ambos pararam ao lado de uma grande construção, observando a estrutura
fundamental da mesma.
- Eu olhei isto ontem à tarde, respondeu
Carlinhos, parando para observar.
Num dado momento o pé de Carlinhos resvalou
e o menino caiu, saltando-lhe da mão o pacote de pregos que espalharam em todas
as direções.
- Que farei, agora? Mais da metade dos
pregos caíram pela grade, dentro do bueiro!
Neste momento a face de José brilhou de
satisfação. Parecia estranho José estar satisfeito neste transe...
- Você tem aí um cordão?
- Sim, tenho um barbante, mas que adianta?
- Certamente que o barbante só não adianta
nada, retrucou José, mas olhe aqui, e desembrulhou alguma coisa.
- Um ímã! Esplêndido! Onde adquiriu você
este ímã?
José sorriu satisfeito. – Eu o comprei,
disse alegremente, para sua caixa de ferramentas, pois notei que não havia
nenhum.
Carlinhos estava quase para dizer que José
estava querendo amenizar a situação de ter ficado com a chave, mas lembrando-se
do propósito que fizera quanto a manter segredo a respeito da chave, nada
falou.
- Pronto, disse José, depois de haver
amarrado o ímã na ponta do barbante. Estou certo de que reaveremos todos os
pregos.
Em poucos minutos todos os pregos que
haviam caído no bueiro estavam em mãos. Na última vez que ele ergueu o ímã do
bueiro, notou que a face de Carlinhos ruboresceu de satisfação. É que unida ao
ímã veio uma chavezinha – a chave da caixa de Carlinhos.
- Parece a chave de sua caixa de
ferramentas!
- Sim, é a minha chave mesmo, disse
Carlinhos, sem tirar os olhos do amiguinho e relembrando-se de que na tardinha
anterior, ao passar por ali, ouvira um determinado som metálico, mas não podia
imaginar que fosse a chave, e demais estava com muita pressa para voltar para
casa com as compras que fora fazer para a mãe. Agora ele compreendia que o som era o de sua chave, quando caíra.
E
cheio de emoção falou:
- Ótima coisa você ter esse ímã neste
momento!
- É verdade, é uma ótima coisa, mas se você
não houvesse ganhado a caixa de ferramentas eu não o compraria, pois o comprei
especialmente para a sua caixa de ferramentas.
- Muito obrigado, José, disse a Carlinhos
emocionado e cheio de gratidão. E acrescentou: - Quando você desejar algumas de minhas ferramentas,
disponha. A caixa estará sempre aberta!
16 - DAVI E AS PANELAS NOVAS
Pela quarta vez naquela manhã, Davi correu
para casa e perguntou: “Que horas são, mamãe?”.
“Agora são nove e vinte e cinco. Você
precisa esperar mais trinta e cinco minutos”, respondeu a mãe dando uma olhada
para Davi.
“Está bem!”, ele concordou, “mas eu queria
que o vendedor se apressasse. Quero ver as panelas novas que ele está trazendo.
Você tem certeza que elas podem cozinhar batatas e cenouras sem água e assim
mesmo não queimar?”.
“Sim, Davi!”, riu a mamãe. “Você vai poder
ver com os seus próprios olhos hoje mesmo. Logo que o vendedor chegar irá fazer
o almoço, para que nós possamos aprender como usar as novas panelas e assim não
deixar queimar a comida”.
“É difícil de acreditar que essas panelas
possam ser tão boas”. O tom de voz de Davi demonstrava que ele não podia
acreditar no que sua mãe estava dizendo. “Vou ficar bem perto para poder ver
com meus próprios olhos”.E saiu rapidamente mais uma vez, saiu para esperar
pelo vendedor de panelas que cozinhavam sem água.
O tempo parecia se arrastar. Será que
aquele homem nunca chegaria? Davi se sentou nos degraus da escada e dava um
pulo a cada vez que um carro entrava na rua onde ele morava.
Finalmente chegou o vendedor. “Ele chegou!
Ele Chegou!” Rápido Davi abriu a porta da frente e chamou sua mãe.
A mamãe convidou o vendedor para entrar, e
Davi ajudou a carregar algumas das caixas onde estavam as panelas.
O vendedor desempacotou as brilhantes
panelas. “Muito bem, vamos examinar bem cada panela para ver se estão
perfeitas”, ele disse. “Depois teremos de lavar cada uma antes de começar a
fazer o almoço”.
“Por que lavar? Perguntou Davi muito
surpreso”, elas nunca foram usadas".
“Não”, disse o vendedor, “elas nunca foram
usadas, mas também não foram lavadas depois do último polimento dado na
fábrica. Nós não vamos querer cozinhar alguma coisa nelas sem ter a certeza de
que estejam muito bem lavadas. Isto não será bom para você e nem para as
panelas”.
“Ah, sim”, respondeu Davi. E ficou
observando como o vendedor colocava detergente em uma esponja e esfregava, com
todo o cuidado, as panelas e as tampas. Depois enxaguou bastante e enxugou cada
panela.
“Como estão lindas e brilhantes!”, exclamou
a mamãe, “espero que continuem sempre assim”.
“Elas ficarão”, prometeu o vendedor, “quer
dizer, se a senhora não usar palha de aço, e nem outra coisa afiada e áspera
para limpar. Lembre-se sempre disto, pois é muito importante”.
Logo as panelas estavam lavadas e o
vendedor pronto para demonstrar como usar. Pedaços tenros e brilhantes de
cenoura foram colocados dentro de uma panela, ervilhas em outra e as batatas
dentro de outra panela ainda. Colocaram as tampas, mas não colocaram água. As
panelas foram colocadas sobre o fogo e acenderam o gás, mas colocaram fogo bem
baixo.
A mamãe e Davi se sentaram para conversar
com seu novo amigo, o vendedor, enquanto os vegetais estavam cozinhando. Uma
pequena válvula, do tamanho da metade de um dedal, começou a subir e descer,
fazendo um barulho divertido. O vendedor colocou o fogo ainda mais baixo, até
que a válvula ficou em silêncio novamente.
“Esta válvula é o seu guarda da cozinha”,
ele disse, “ela está avisando que o fogo está muito alto e o alimento poderá
queimar se a senhora não abaixar o fogo”.
A mamãe arrumou a mesa, e logo os vegetais
foram servidos. Como estavam gostosos, cozidos sem água nas panelas novas! E
também não estavam queimados.
Depois do almoço, Davi perguntou: “Posso
lavar a louça? Eu gostaria de lavar as panelas novas”.
“Claro que sim, Davi. Mas, por favor, tome
cuidado com elas”, disse a mamãe.
“Está bem”, prometeu Davi, preparando-se
para o trabalho. Cuidadosamente limpou cada panela. Ele estava imitando o
vendedor na casa de um freguês. Pegou o detergente e espalhou sobre cada tampa
das panelas. Então, por um momento, esqueceu o aviso do vendedor de somente
usar alguma coisa macia, como uma toalha de papel ou uma esponja, com
detergente. Davi pegou a esponja de aço da mamãe e esfregou e raspou uma mancha
imaginária.
Então, como uma flecha, lembrou-se das
palavras do vendedor. “Nunca use palha de aço”.
Davi parecia ter ficado paralisado. “Oh,
não!”, disse para si mesmo, enquanto abria a torneira para tirar o sabão. Ali,
claro como o dia, estava uma mancha, um arranhão profundo sem possibilidade
nenhuma de conserto!
“Que vou fazer? Que vou dizer? Por que não
pensei antes?” Se perguntava Davi silenciosamente, enquanto secava a tampa. E
por mais forte que tentasse, não conseguia fazer desaparecer a mancha. O
coração de Davi estava pesado.
Ele terminou de lavar a louça e guardou
tudo em seus lugares. Mas deixou as panelas e as tampas novas em cima da mesa,
porque não sabia onde a mamãe iria guardar.
Quando a mamãe veio para guardar as
panelas, imediatamente notou a tampa arranhada. “Oh, veja o que o vendedor fez
quando lavou as panelas”. A voz da mamãe estava cheia de tristeza, quando pegou
a tampa arranhada e olhava cuidadosamente.
“Não, mamãe”, falou Davi, “ele não fez
isto, fui eu quem fiz”.
A mamãe olhou muito surpresa para seu
filho. Depois de um breve momento ela sorriu. “Oh, como estou feliz porque você
me contou. Está tudo bem”. E não disse mais nada.
Davi agora está bem crescido. Mas o coração
de sua mãe fica emocionado, cada vez que lava a tampa arranhada. É a tampa que
ela guardará com todo o carinho e cuidado pelo resto de sua vida, porque aquele
arranhado é uma lembrança de que seu filho não teve medo de dizer a verdade,
mesmo quando teria sido muito mais fácil para ele ficar em silêncio. E porque
ele não teve medo de dizer a verdade, também conservou bem puro e limpo seu
registro lá no Céu.
17 - FIDELIDADE RECOMPENSADA
Nos distantes dias de minha infância,
sempre me parecia que o sábado era um impedimento para se ter êxito na vida e
empreender uma obra de valor. Meus companheiros ambicionavam posições de
destaque em que ganhassem muito dinheiro. A mim não me parecia que essas
aspirações se adaptassem ao programa de um menino adventista do sétimo dia.
Quarenta anos mais tarde, quando visitei a
velha cidadezinha onde eu nascera, e comecei a indagar acerca daqueles meus
antigos companheiros, ninguém me soube dar informações. Quando, naquele dia,
visitei o cemitério, notei que a maioria deles se achava debaixo da terra. Um
daqueles amigos da infância construíra na cidade um lindo palacete. Agora,
fazia pouco fora sepultado – morrera bêbado! Quando deixei o cemitério, não
pude conter as lágrimas. Deus me estava a dizer, muito claramente: “Meu filho,
coloquei a cerca dos Meus Dez Mandamentos em torno de você, nos dias de sua
infância, para que tivesse uma vida mais abundante”.
Existem também muitas histórias acerca de
como a obediência à lei de Deus trouxe bom êxito. Todos vocês, meus pequenos
leitores, sabem o que a Bíblia diz acerca de Daniel e seus companheiros, e
acerca de José, de Ester, Rute e muitos outros. Mas há também muitas histórias
acerca de meninos e meninas dos nossos dias, a quem Deus honrou assinaladamente
porque guardavam a Sua lei.
Uma das melhores histórias que conheço fala
de um rapaz que trabalhava numa fábrica de alimentos enlatados. Quando o menino
apresentou o seu pedido para o dispensarem do trabalho aos sábados,
disseram-lhe, em poucas palavras, que a companhia não tinha lugar para alguém
que não trabalhasse aos sábados, ou em outro qualquer dia em que a companhia
precisasse de seus serviços. Devia comparecer no escritório na sexta-feira para
receber a conta, e o seu caso estaria encerrado.
Mas aconteceu que, antes que chegasse o
sábado, o Senhor enviou uma chuva. Foi uma dessas chuvas pesadas, que vem
inesperadamente e mesmo fora de tempo. Deus mandou essa chuva para ajudar um de
Seus filhos que estava resolvido a honrar o Seu sábado.
Certa ocasião essa companhia de conservas
tinha cerca de vinte mil latas de frutas em conserva, todas rotuladas e prontas
para o despacho. Mas estavam fora, ao ar livre, e poderia vir chuva para
estragá-las. Nosso menino, observador do sábado, estava quase certo de que iria
chover. E sabia que aquelas latas não podiam apanhar umidade. Nem era de sua
responsabilidade Dar-lhes qualquer atenção. Tinha já terminado o trabalho do
dia, e o cuidado das latas não lhe cabia. Entretanto, arrumou mais algumas
pessoas e com elas pôs todas aquelas latas debaixo de coberta. Apenas
terminaram o trabalho, quando desabou pesado aguaceiro.
O gerente da companhia estava de volta de
uma cidade distante, e enquanto se dirigia para casa, pensava: “Todas aquelas
latas se molharam. Tem de ser muito bem enxutas, para não enferrujarem; todos
os rótulos tem de ser tirados, e colocados outros. Isto significa alguns
milhares de cruzeiros de despesas extraordinárias, em trabalho e material...”.
Como ele ficou contente quando viu todas
aquelas latas abrigadas da chuva! Naturalmente, foi logo perguntando:
- Quem fez isso?
- Aquele menino adventista foi à resposta.
E
o menino adventista, depois disso, teve liberdade para guardar todos os sábados
que quisesse. E é claro que queria guardar todos.
Nenhum
menino ou jovem adventista ficará num beco sem saída, por causa do sábado.
Ainda que às vezes seja provado por algum tempo, Deus lhe providenciará um
livramento glorioso!
18 - QUE RO
SER O FILHO DE ALGUÉM
Em certa localidade veio um menininho
alegrar o lar humilde de um pobre casal. Chamaram-no Joãozinho.
Sendo Joãozinho ainda pequenino, penetrou a
enfermidade em sua pequena família. Não havia médicos por ali perto, que fossem
ajudar a seu pai enfermo, e assim não tardou a que ele morresse. Pouco mais
tarde sua mãe também veio a falecer, ficando Joãozinho completamente só. Embora seu tio tomasse conta dele, o pequeno
se sentia muito triste e solitário sem o papai e a mamãe. Tinha as roupas sujas
e rotas.
Não tardou a que Joãozinho sentisse que não
era de ninguém. Começou a vagar em companhia de alguns meninos maus, e ele
próprio se tornou mau. Às vezes um menino órfão aprende muitas coisas más de
outras crianças na rua. Nós, que temos um bom papai e uma boa mamãe, devemos
cada dia dar graças a Jesus por isso.
Depois de algum tempo seu tio se mudou para
a povoação, ficando vizinho de um de nossos missionários. Também aí Joãozinho
fez amizade com meninos maus. Uns homens ruins ouviram falar nele, e uma vez
resolveram servir-se dele para maus fins. Eram ladrões que tiravam aos outros o
que lhes pertencia.
Um dia muito frio esses maus homens
quiseram roubar na casa do missionário. Falaram com Joãozinho a esse respeito.
Disseram-lhe que ele devia rondar a casa, e ver onde guardavam as chaves, de
modo que ele pudesse roubar uma. Devia também ver quando os missionários saíam
de casa. Prometeram dar-lhe uma boa parte do que roubassem. Joãozinho concordou
em fazer esse feio papel.
À noite estava fria, e Joãozinho estava
pobremente vestido enquanto se dirigia para a casa do missionário. Tremendo de
frio, parou debaixo da janela, olhando para dentro, a ver o que a família
estava fazendo. Ao ver o missionário dirigir-se para a porta da frente,
procurou esconder-se; mas ele o viu.
Falando-lhe amavelmente, disse: “Pequenino, deves estar com frio. Entra comigo
e aquece-te”. O menino entrou em casa, pensando que agora tinha melhor ensejo
que nunca de conhecer o arranjo de tudo por dentro, e saber onde se guardavam
as coisas de valor.
A esposa do missionário sentiu compaixão
pelo pequeno sujo e esfarrapado. Preparou-lhe um banho quente e deu-lhe roupa
limpa e trouxe-lhe também uma ceia quentinha. Joãozinho não podia compreender
essa bondade tão grande. Ao terminar a refeição, a família missionária
reuniu-se na sala para o culto vespertino. O dono da casa disse:
- Agora repitamos juntos S. João 3:16:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para
que todo aquele que N’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Joãozinho
escutava. Seu coração se enternecia enquanto repetia as belas palavras de S.
João 3:16 uma e mais vezes, mas não podia recordar todas as palavras. Depois do
culto, o missionário perguntou a Joãozinho se queria fazer um recado para eles.
Ele respondeu: Sim, senhor.
- E deitou a correr pela rua em que os
homens maus o estavam esperando. Agora eles viram um menino limpo e bem
vestidinho. Estava todo mudado. Os ladrões pediram-lhe informações acerca
da casa do missionário, mas o menino
negou-se a falar. Foi ameaçado, e depois açoitado até que o deixaram quase
morto.
Ao ser encontrado na rua, Joãozinho estava
inconsciente. Tinha as roupas sujas, e as feridas a sangrar. Vocês se lembram
da história do bom samaritano, que encontrou no caminho o pobre homem espancado
pelos ladrões. Pessoas de bom coração recolheram o menino inconsciente e
ensangüentado, e levaram-no ao hospital. Durante toda a longa noite ele
delirava e dizia:
- Deixem-me em paz; já não sou aquele
menino mau. Sou João 3:16. Repetidamente
o ouviam as enfermeiras dizer: “Sou João 3:16”. Elas não podiam entender o que
ele queria dizer com isso.
Mais tarde, quando Joãozinho começou a
melhorar, explicou como pensara em ajudar os ladrões; como havia parado, sujo,
faminto e friorento, sob a janela do missionário. Como este o levara para sua
cômoda morada, lhe dera um banho quente, roupas limpas e uma boa ceia quente, e
João 3:16. Então, o menino disse: “Se João 3:16 pôde fazer tudo isto por mim,
mostrando-me tanto amor e bondade, então também eu quero ser um João 3:16.
Quero ser o filho de alguém”.
Esta noite, querido amiguinho leitor,
quando te ajoelhares para orar a Jesus, pense nos menininhos que não tem papai
nem mamãe que os amem, nem um lar em que viver. Diz-Lhe: “Jesus: Bendize aos
órfãozinhos e ajuda-os a encontrar bons lares. Dou-te graças por meus pais e
tudo quanto tenho e por Ti, querido Jesus. Amém”.
19 - GELO, NEVE E ANJOS
Três rostos se viraram ansiosamente da
janela para sua mãe que estava costurando ali perto, sentada em uma cadeira de
balanço.
- Oh! Mãezinha, o papai vai mesmo chegar
esta noite? – perguntou Carla.
Largando um pouco a agulha, a mamãe
sorrindo disse:
- Sim, Carla, o papai disse que estaria
aqui hoje à noite.
- Mas, mãe, as estradas estão horríveis,
muito perigosas agora – disse Tadeu com uma voz assustada.
E novamente os olhos voltaram a olhar pela
janela. Duas horas antes tinha começado uma chuva gelada, o gelo estava
pendurado nas árvores e arbustos, fazendo com que parecessem de prata. Agora
estava caindo neve, cobrindo todo o chão. O gelo nas estradas foi rapidamente
escondido e coberto pela camada de neve. A mamãe levantou de sua cadeira e
juntou as crianças ao redor dela. Jaime, que tinha três anos, passou os braços
ao redor da mãe e perguntou:
- O papai está bem?
Arrumando seus cabelos, a mamãe sorriu
novamente e perguntou:
- Crianças, vocês lembram quem está
cuidando de nós todo o tempo?
Todos os três mexeram a cabeça para cima e
para baixo.
- Jesus – disse Carla.
- E quem manda para estar com cada um o
tempo todo?
- Nosso anjo da guarda! – disse Tadeu
sorrindo.
- Um anjo está cuidando do papai? Perguntou
Jaime.
- Sim, ele está ao lado do papai, Jaime –
disse a mamãe. – Sabe de uma coisa, vamos todos ajoelhar e fazer uma oração especial
pedindo que Jesus traga o papai logo, logo para casa e em segurança.
Todos ajoelharam em cima do tapete no meio
da sala quentinha e deram as mãos. Cada um orou – mamãe, depois Jaime, Carla e
por último Tadeu.
“Querido Jesus”, orou Tadeu, você sabe onde
está o papai. Por favor, mande o anjo da guarda proteger o papai na estrada
gelada e fazer com que ele chegue logo em casa. Obrigado. Amém”.
Logo que levantaram da oração, de repente a
sala ficou escura. O peso do gelo e neve tinha arrebentado o fio da linha
elétrica em algum lugar. A mamãe foi acender uma vela e observou o relógio –
eram 7:30 horas. Depois a mamãe acertou o seu relógio de pulso e sentou com as
crianças no sofá.
- Vamos cantar algumas canções de Natal! –
disse Carla.
- É isto mesmo, vamos cantar! – disse
Tadeu.
E começaram a cantar “Num Berço de Palhas”,
“Sinos de Natal” (escolha outros hinos). Até mesmo o Jaiminho estava cantando,
mesmo não conseguindo dizer muito bem as palavras por ser muito pequeno.
Quando começaram a cantar “Noite Feliz”,
eles ouviram o barulho de pneu ao lado da casa como se um carro tivesse
entrado. Pulando em direção da janela, todos olharam para ver se era realmente
o papai.
Houve gritos de alegria quando o papai
entrou na sala. Abraços e beijos foram trocados, e neste mesmo momento a luz
voltou.
Depois que o papai pendurou o seu casaco,
ele veio sentar-se junto com sua família no sofá. Jaiminho sentou no seu colo e
Carla e Tadeu sentaram em cada lado, bem pertinho.
- Sabem, quase não pude chegar em casa esta
noite. Não estava muito ruim logo que comecei a voltar. Estava começando a
chover. Mas quando a estrada começou a ficar gelada, fiquei muito preocupado e
com medo. Eu não tinha dinheiro suficiente para parar em nenhum lugar, e assim
continuei a viagem. Eu vi carros caídos em buracos ao meu redor. Mas conservei
meus olhos na estrada prestando atenção para não cair em buracos de gelo. – A
esta altura o papai parou, abraçou Carla e Tadeu e deu um beijo na cabeça de
Jaime.
- Eu
não podia dirigir depressa, acho que nunca dirigi tão devagar. Mas quando
cheguei perto da ponte que atravessa (cite um nome), começou o problema. Eu
estava ouvindo as notícias de como estava o tempo e as estradas. Eles tinham
acabado de anunciar que eram 7:30 horas quando o carro começou a derrapar.
Havia um forte vento atravessando a ponte, e a estrada era um espelho de gelo.
Eu podia ver a água – preta e fria. O carro estava derrapando depressa e fora
do meu controle. Eu estava esperando a batida contra a mureta e...
O papai respirou fundo e deixou escapar um
longo suspiro.
-... Mas de repente o carro parou de
deslizar e foi direto para frente. Eu não tive mais problemas no resto do
caminho para casa.
- Seu anjo da guarda! Exclamaram as três
vozes juntas.
- Você disse que isto aconteceu exatamente
as 7:30 horas? – perguntou a mamãe.
- Posso dizer que Jesus respondeu as
orações de vocês. Vamos ajoelhar e agradecer pelo cuidado que Ele teve para
comigo – disse o papai.
O que você pode fazer quando está com medo?
Por que vocês acham que acontecem
experiências como a que acabamos de contar?
20 - HISTÓRIA DE UM CHINÊS
Numa pequena choça, no alto de uma colina
de onde se avista o verde mar, vivia um jovem pescador chinês. A choça era
deveras pequena. Consistia apenas num quarto, atrás do qual ficava um alpendre
que servia de cozinha. As paredes e o soalho eram de barro batido e encarnadas
telhas formavam o teto. A cama, ou melhor, algumas tábuas sobre dois bancos, duas
tripeças e uma pequena mesa constituíam a singela mobília. Do outro lado oposto
à porta, achava-se uma mesa alta e estreita, onde se encontrava o ídolo de
barro pintado, dos pescadores. Ladeavam encarnadas velas em candelabros de
metal branco e a sua frente ficava a pesada taça de bronze, cheia de cinzas
provindas das barras de incenso.
Toda manhã, antes de sair à pesca, o jovem
chinês Khiok-ah apanhava duas novas barras de incenso, segurava-as diante do
ídolo, agitava-as no ar, e colocava-as na taça, rogando dessa maneira as
bênçãos do ídolo para sua pesca. Assim fazia toda manhã, com fé singela no
poder que deveria ajudá-lo.
Isso aconteceu por muito tempo. Certa
ocasião nosso amigo chinês precisou ir a uma aldeia distante e não podia estar
de volta no mesmo dia. Não havia ninguém para queimar incenso ao ídolo, no
tempo designado. No entanto, para a fé sincera de Khiok-ah, isto não
apresentava dificuldade. À hora de sair, tirou do pacote vermelho duas barras
de incenso, e colocou-as diante do ídolo com uma caixa de fósforos. Em seguida,
inclinando-se reverentemente, disse: “Ó espírito, hoje devo ir a negócios a um
lugar distante e não poderei estar de volta em tempo de queimar-te incenso.
Diariamente, sem faltar, tenho feito isto; mas somente desta vez, queima-o tu
mesmo. Repara, aqui estão diante de ti, as barras de incenso e os fósforos.
Somente desta vez, acende tu mesmo, por favor”. E retirou-se logo.
Ao regressar, para sua surpresa, não viu as
espirais de fumo que deveriam ascender da taça de incenso. Aproximando-se e
investigando melhor, deparou com as barras de incenso e os fósforos justamente
como os havia deixado. Então, cheio de ira, volveu-se para o ídolo e disse:
“Por muito tempo tenho queimado incenso diante de ti e nunca o deixei de fazer.
Somente dessa vez pedi que o queimasse por mim e não o fizeste. Será que não
podes? Bem, um deus que não tem poder para ascender sua própria barra de
incenso, certamente não tem poder para ajudar-me. Por isso não adorarei mais a
nenhum deles, até encontrar um capaz de ascender sua própria luz”.
Passaram-se alguns anos. Khio-ah abandonou
sua choça de pescador e teve oportunidade de freqüentar uma escola. Um de seus
colegas era cristão e veio, a saber, o voto que ele fizera. De modo que certo
dia, o cristão lhe disse:
- Amigo, queres amanhã de madrugada, subir
comigo ao cume de uma colina? Tenho alguma coisa para mostrar-te.
Khiok-ah aceitou ao convite e na manhã
seguinte, antes do nascer do sol, saíram juntos os dois amigos. A todas as perguntas
do chinês, o nosso bom cristão respondia: “Espera e verás”.
Chegaram afinal ao cume da colina, quando
os primeiros clarões tingiam de púrpura o céu oriental. Enquanto observavam o
maravilhoso alvorecer de mais um dia, viram o sol surgindo em toda sua glória e
esplendor.
- Repara, disse o amigo cristão, o Deus
que eu adoro é Todo-poderoso. Toda manhã Ele acende Sua luz e espalha
claridade, alegria e vida em todo o mundo.
Desde esse dia, Khiok-ah dedicou a vida ao
Deus que tinha poder para acender Sua própria luz. Tornou-se mais tarde um
pregador, mostrando a outros o caminho para o verdadeiro Deus. Mas jamais
esqueceu o amigo que por uma ilustração simples, o guiou à verdadeira Luz.
21 - INUNDAÇÃO NA FLORESTA
Estourando de excitação, Leandro e
Davi correram atravessando o quintal em
direção à trilha, ignorando as pilhas de restos de artilharia e trincheiras
individuais, lembranças ruins da Segunda Guerra Mundial.
“Tchau, mãe”, disseram e acenaram pela
última vez, antes de desaparecerem dentro da mata.
A mamãe confiou que Zai Kom, o zelador do
acampamento da missão, iria cuidar de seus filhos, enquanto sussurrava uma
oração: “Cuida deles, querido Deus”.
O pai de Leandro e Davi tinha saido em uma
viagem missionária, para uma parte isolada e solitária da Birmânia. Os meninos
estavam indo para encontrar-se com ele na pequena vila de Lai Twi aquela noite.
Os meninos e o zelador fizeram seu caminho
ao longo de atalhos estreitos e cheios de precipícios, caminhos que pareciam
uma cobra se retorcendo por entre grandes árvores e pequenos arbustos. A luz do
sol, filtrada pelas árvores, fazia desenhos de luz que dançavam sobre os
cabelos louros dos meninos. Em muitos lugares os meninos apontavam para árvores
com delicadas orquídeas crescendo em seu tronco – algumas amarelas e violeta,
entre muitas brancas como a neve.
“Estamos perto do rio”, disse Leandro,
depois de algum tempo.
“Que bom. O velho Manipur não é muito
fundo, podemos atravessar sem dificuldade”, disse Davi. Os três atravessaram
facilmente o rio e depois pararam um pouco do outro lado para descansar, antes
de começar a subida que levava a Lai Twin.
O coração de Leandro palpitava forte na
subida, e ele começou a ficar para trás. “Estamos quase chegando?”, perguntou
ansiosamente.
“Logo depois da próxima curva”, respondeu
Zai Kom, “mais uns minutos e estaremos lá”.
“Até que enfim!” Gritou Leandro, subindo
rapidamente pelo caminho e esquecendo que suas pernas estavam cansadas. Podia
ouvir ruídos do vento soprando através
das árvores. Agora Leandro estava bem na frente de Davi e Zai Kom. Já podia
sentir o cheiro peculiar de uma vila birmanesa, e em poucos minutos chegou à
vila.
Enquanto esperava que os outros chegassem,
ficou observando os sinais comuns de uma vila pagã. Sempre ficava com medo
quando via as ofertas que faziam aos espíritos nos postes do lado de fora das
casas. Ali estava a cabeça de um cachorro, sua boca curiosamente aberta com
palitos e depois enchida com comida. Como estava feliz por ser cristão, e
também porque a sede da missão ficava em uma vila cristã.
Além do poste, a casa tinha o telhado feito
de palha, e muitas casas tinham inkas (varanda, pórtico) com tutpas. Um tutpa é
um banquinho baixo, geralmente enfeitado com pele de tigre. As casas eram
construídas contra a montanha e do outro lado sustentadas por pilares. Embaixo
das casas os porcos grunhiam.
“Ugh! Olhe que sacrifício horrível naquele
poste”, disse Leandro torcendo seu nariz, logo que Davi chegou perto dele.
“Realmente é horrível”, Davi concordou,
franzindo seu nariz, “mas venha, temos de chegar na casa dak, passaremos a
noite ali. O papai deve chegar logo”.
Uma curta distância à frente, eles
encontraram o “hotel” mantido pelo governo e que era conhecido por dak. Era um
pouco melhor do que uma choupana, mas tinha paredes quebradas, colunas que
balançavam e um inka (entrada) sujo.
Bem depressa os meninos se ocuparam fazendo
fogo, e cozinhando arroz para o jantar. Leandro e Davi não deram atenção aos
moradores da vila que vieram para
observá-los. Mas quando as pessoas começaram a apontar, falar e rir
excitadamente, os meninos sabiam que alguém estava chegando.
“Deve ser o papai”, exclamou Davi, e
começou a ir para a entrada.
“É o papai! É o papai”, ele gritou enquanto
corria para os braços do pai. Leandro seguiu bem de perto.
“Como estão vocês?”, perguntou o pai em voz
profunda, enquanto abraçava Davi e Leandro. Depois, mais depressa que puderam
passaram pelas pessoas e entraram na choupana para comer o seu jantar.
Não tiveram tempo de conversar depois do
jantar, porque os moradores da vila se amontoaram ao redor, trazendo seus
doentes. O pai deu medicamento, tratou e ajudou em tudo que pôde. Depois
começou a falar para as pessoas sobre Jesus, que os amava.
Finalmente as pessoas voltaram para suas
casas, e o papai, deitou para descansar.
Durante a noite caiu uma chuva muito forte.
Choveu durante toda à noite. De manhã, a trilha tinha sido lavada e apagada em muitos lugares, e o caminho
estava muito escorregadio.
O pai conversou com os carregadores sobre a
situação. Com uma chuva tão forte e pesada, o Rio Manipur deveria estar
transbordando. Será que deveriam seguir aquele caminho, ou deveriam tomar um
caminho mais longo, que demorava mais de um dia para encontrar a ponte? Ao
final, todos concordaram que deveriam
descer a montanha e enfrentar o rio.
Escorregando aqui e ali, desceram a trilha
até o rio. Quando alcançaram o rio, ficaram todos atolados.
“O rio cresceu mais depressa do que uma
massa de pão em uma cozinha quentinha”, disse Zai Kom. A água fazia redemoinhos
e muita espuma na borda.
“O rio deve estar com mais de 160 metros de
largura”, observou o papai. “Vamos precisar muito da ajuda de Deus para poder atravessar
o velho Manipur hoje”. E virando para Zai Kom, disse: “Corte uma vara bem
comprida de bambu. Todos devemos nos segurar nesta vara para cruzar o rio, se
alguém cair, poderemos ajudá-lo a levantar-se”. O papai olhou ao redor para Zai
Kom, Leandro e Davi, e para os carregadores. Leandro e Davi estavam tão
excitados que não tinham tempo para sentir medo.
Logo que a vara estava pronta, o papai
pediu que todos curvassem a cabeça para uma oração: “Pai Nosso que estás no
Céu, cuida de nós enquanto atravessamos o rio, ajuda-nos a ter pés firmes, e
que possamos chegar salvos até a outra margem. Pedimos em nome de Jesus. Amém”.
Zai Kom foi o primeiro a entrar na água
agitada, depois Leandro, o Papai, Davi e os carregadores seguiram, segurando na
vara de bambu.
Leandro andou alguns passos e logo começou
a escorregar. “As pedras estão muito lisas! Quase não posso ficar em pé!”, ele
gritou.
“Segure bem firme”, acrescentou o pai, mas
o barulho da correnteza impossibilitou que os outros ouvissem.
A
água agitada empurrava e retorcia seus corpos. E começou a ficar mais fundo, e
mais fundo – a água chegou primeiro até os joelhos, depois na cintura e até o
peito. Os carregadores lutavam para manter o equilíbrio, com os pacotes sobre
suas cabeças.
Leandro já estava sentindo a água em sua boca
e nariz. Quando seu pé pisou em uma pedra grande, ele deu um impulso e por um
momento conseguiu tirar sua cabeça e seu peito de dentro da água para respirar,
mas em seguida seu corpo desapareceu na água funda novamente. Ele esticava as
pernas, tentando pisar no fundo, quando uma de suas mãos escapou da vara. A
turbulência do rio o sacudiu com tanta força, que conseguiu fazer com que sua
outra mão se soltasse da vara de bambu, e por isto submergiu completamente e
começou a ser arrastado rio abaixo. Mas seu pai que viu o que estava
acontecendo, mergulhou na revoltosa água e conseguiu encontrar Leandro. O
menino sentiu os fortes braços do pai puxando-o de volta. Novamente conseguiu
se segurar na vara e depois sentiu as mãos de seu pai cobrindo suas mãos,
enquanto segurava firme na vara de bambu. Depois desse acontecimento, que pareceu uma eternidade
para Leandro, a pequena comitiva conseguiu alcançar o outro lado do rio.
Leandro olhou para o rosto de seu pai e
disse: “Estou muito feliz porque os anjos cuidaram de nós, papai, e também
estou feliz por você ter segurado a minha mão”. Viu quando o rosto de seu pai
se transformou em sorriso. Leandro agora sabia um pouco mais sobre o amor de
seu Pai Celestial e também sobre Sua proteção.
22 - JOÃOZINHO E OS FÓSFOROS
Não se pode negar que eu era um rapaz
levado, que causava muitos aborrecimentos à mãe. Meu pai, que era pianista,
naquele tempo pouco se podia dedicar à educação dos filhos. Eu tinha um prazer
especial em brincar com fogo. Quando encontrava uma caixa de fósforos
esquecida, logo acendia um pauzinho. Com alegria, contemplava a pequena chama e
em seguida lançava fora o fósforo, sem cuidar se ele ainda ardia. Isto eu fiz
durante muito tempo, até que uma vez minha mãe chegou a observar e deu um fim
repentino ao meu divertimento.
- Espero que você nunca mais pegue numa
caixa de fósforos sem licença, disse ela, e ameaçou-me com um severo castigo.
Prometi, todo amor e bondade, e pretendia
também cumprir a promessa.
Certa manhã, porém, minha mãe teve de ir à
feira. Deixou a nós dois, a mim, Joãozinho, e a irmãzinha que era dois anos
mais nova, aos cuidados da empregada recém-chegada ao serviço.
- Joãozinho – ela aconselhou, ainda, ao
partir – lembre-se de que Deus pode vê-lo também, quando eu não estou aqui.
Eu prometi ser bonzinho. Mas logo que me
senti livre dos olhos vigilantes de mamãe, a velha insolência tomou conta de
mim, porque, com a empregada tão nova e quieta, eu não me importava. Nós
começamos a correr por todos os compartimentos da casa, eu na frente, e minha
irmãzinha, que ainda estava um pouco fraca, atrás de mim.
Em nossa correria doida chegamos ao quarto
de nossos pais. Ali, sobre a estufa, uma caixa de fósforos me tentava. Logo
tive o desejo de acender um pauzinho. Ao mesmo tempo veio-me à lembrança a
severa proibição de mamãe. Eu procurava desviar-me dali. Mas a caixa com a
linda etiqueta vermelha parecia estar em todos os cantos do quarto e tentava-me
irresistivelmente. Apenas vou ver se há fósforos dentro, eu pensei.
Uma cadeira foi carregada para perto da
estufa, pois eu era muito pequeno para alcançar a caixa. Subi na cadeira,
enquanto minha irmã olhava admirada. Logo peguei a caixa almejada, com muito
gosto. Estava bem cheia de fósforos de cabecinha vermelha. Será que eles também
queimavam? Somente um, apenas um, eu queria experimentar. Que bela chama! Era
tão linda! Mais uma vez, mais outra. De um fósforo aceso, tornaram-se dois,
três, quatro!
- Eu também, eu também, Joãozinho, pedia à
pequena que achava bonitos os fósforos inflamados.
Dei um fósforo à irmãzinha; depois lhe
estendi a caixa para riscar, sem pensar que estava ensinando a desobediência a
ela. Minha irmãzinha não sabia bem riscá-los.
- Dá-me, aqui, tolinha – disse eu,
sentindo-me muito superior a ela, e tomei-lhe os fósforos da mão, dando a caixa
em troca.
Enquanto eu me esforçava a dar, à criança
assustada, o pauzinho aceso, não notei que o meu próprio fósforo chegava
debaixo da manga de seu vestidinho vermelho, de lã. Eu ainda não sabia o que
acontecera, até que vi a fumaça subir e o fogo aparecer.
Atônito, eu estava ali, olhando como minha
irmã corria de um lado ao outro, gritando, e com os braços erguidos. Pelo
movimento a chama ficava maior e maior. A pequena gritava quanto podia, de
susto e de dor. A empregada veio correndo. Em vez de ajudar, ela ficou parada
em nossa frente, sem saber o que fazer. Pôs o avental na frente dos olhos e
começou a soluçar.
Neste momento crítico, mamãe apareceu na
porta. Na frente da casa ela já tinha ouvido
os nossos gritos e, pressentindo o perigo, subiu as escadas quase
voando. Pálida, muito pálida mesmo, ela olhava ao redor de si. Mas, num
segundo, e ela já sabia qual a situação. Lançou a sacola de verduras a um lado
e enrolou a criança chamejante em sua larga saia. Foi num abrir e fechar de
olhos. Mamãe apertou a criança contra seu corpo e deste modo conseguiu apagar o
fogo.
A irmãzinha estava salva da morte. Mas em
que estado ela se achava, eu depois iria saber. Enquanto a mãe cuidava da
criança, eu saí, devagarzinho. Na sala de música estava o grande piano de cauda
de papai. Em baixo deste eu me escondi, como fazia sempre que alguém estivesse
zangado comigo. No cantinho mais escuro fiquei para esperar a tormenta passar.
Depois de algum tempo ouvi os passos de
mamãe e logo sua voz chamando: - Joãozinho, onde você está?
Agora não adiantava mais me esconder. Eu
tinha de sair e sabia que seria castigado. Olhava com medo para o grande
espelho atrás do qual era guardada a vara. Oh, se mamãe a tivesse tirado e dado
o castigo merecido! Até as piores varadas eu teria esquecido logo. Mas o que
aconteceu então nunca mais esquecerei.
Venha comigo – disse mamãe com uma voz
triste, e levou-me ao lado da caminha da irmã.
23 - MÃE DE VERDADE
A história que passo a contar é verídica.
O bonito subúrbio londrino perdera a sua paz.
A população toda estava calma, mas o perigo era eminente!
A guerra mostrando-lhe seu horror, ameaçava
destruí-la.
- Preciso mesmo partir, mãezinha?
O coração da pobre mãe apertou-se ainda
mais ao ouvir estas palavras e ao olhar para Guilherme, o filhinho de seis
anos, cuja pele era tão negra como a de seus pais.
Os cinco anos que passara na Inglaterra
pacífica, longe do calor dos trópicos, não conseguiram tornar branca aquela
epiderme macia. O pequenino se considerava diferente e inferior às demais
crianças, quem sabe se porque estas, sem coração, lhe houvessem feito sentir a
diferença de cor.
Havia chegado o momento em que as crianças
tinham de ser enviadas para longe de seus pais, deixando a cidade ameaçada,
para que suas vidas, fossem salvas.
Guilherme devia partir para talvez nunca
mais se reunir à mamãe e ao papai, para os quais era tudo!
- Mamãe! Sou preto! Ninguém me há de
querer! Deixa-me ficar aqui!
A infeliz mãe tomou-o em seus joelhos e
disse carinhosamente:
-
Filhinho! Tens de partir! Teu pai é agora soldado e eu sou enfermeira! Tua vida tem de ser guardada para
que também um dia possas ser útil... O nosso Deus vai achar para Guilherme um
outro lar e uma nova mãe! –
Sua voz não tremia diante do sacrifício!...
Seu filho ia ter uma nova mãe!... Ela própria iria substituir outras mães nos
hospitais de sangue! O filho que tanto amava ia deixá-la... Não mais escutaria
a sua vozinha meiga, não mais receberia os seus beijos... Mas, que importava o
seu sofrimento, a saudade que sentiria, desde que a vida do filho amado fosse
salva!
- Filhinho, não te esqueças de Jesus!
Ora
diariamente e pede a Ele que te guarde!
- Devo então partir mesmo e sozinho...
Ninguém quererá receber um pretinho... O que devo fazer?
A resposta foi dada pelo pai de Guilherme
que entrou na sala com um envelope na mão.
- Vou colocar este envelope no forro do teu
paletozinho, meu filho. Não dirás a ninguém que está ali. Quando chegares ao
teu destino verás que muitas pessoas irão receber as crianças e levá-las para
as suas casas.
Espera que uma senhora sorria ao olhar para
o teu rosto, sem recuar por ver que és
um pretinho. Se ela disser que te vai levar consigo, pergunta-lhe: “A senhora
tem certeza de que me quer?”.
Poderás ler a resposta em seus olhos e, se
neles vires amor e carinho, segue-a e seja para ela um bom filho!
O menino seguiu, pois, com centenas de
outras crianças, para um futuro desconhecido!
A notícia da chegada dos pequenos fugitivos
se espalhara e a estação se enchera de senhoras que se prontificavam a
adotá-los.
Em uma casa pequenina daquela cidade, uma
senhora, vestida de luto, terminava o arranjo do modesto interior.
“Irei buscar um menino, dizia. Sou
agora muito pobre! Meu marido e meus
filhos dei-os à Pátria e entreguei-os a Deus! Estou só, mas com o meu trabalho
sustentarei o novo filho que Deus me proporcionar”.
“Amá-lo-ei e seremos ainda felizes”.
O coração desta mãe havia também sofrido.
Seu marido e seus dois filhos fizeram-se
aviadores e haviam morrido.
O seu amor materno, entretanto, não
morrera: porque havia amado seus filhos amaria agora o menino – afastado de sua
mãe – que iria trazer para casa.
A bondosa senhora começou a sua escolha,
difícil, pois todos os rostinhos tristes e assustados que lhe via causavam
piedade e tocavam as suas fibras maternais.
Parou afinal junto do pretinho gordo e bem
tratado, que a olhava com meiguice e receio.
Os olhares de ambos se encontraram e
Guilherme viu a ternura que procurava. Quando a senhora estendeu-lhe a mão, a
criança perguntou:
- Minha senhora, está bem certa de que me
quer? Sou pretinho!
Havia naquela vozinha um misto de meiguice,
de pavor, de ansiedade e de desejo intenso de amor! Como aquelas palavras
ecoaram e caíram bem no coração daquela mãe sem filho!
- Sim, meu filho, bem certa! A tua alma é
tão branca como a de meus filhos! Vem! Educar-te-ei e amar-te-ei como se fosses
meu!
À noite, depois de haver deitado o novo
filho em sua própria cama e de haver orado com ele pelos pais que haviam ficado
tão longe, a boa senhora foi dobrar as roupinhas que lhe despira. Com surpresa
sentiu que havia alguma coisa no forro do paletó.
Retirando o envelope achou nele algumas
notas de cem cruzeiros e o seguinte bilhete:
“Que Deus a recompense, minha senhora, e
permita que no nosso Guilherme encontre um filho obediente, dócil e amoroso.
Enviamos isto para as despesas do nosso querido, que entregamos nas mãos de
Jesus”.
Logo enviaremos mais.
Muito
gratos por sua hospitalidade e pelo carinho que der ao pequenino!
Minha esposa esquece seu sofrimento e a dor
de ver partir o filho, a quem ama acima de tudo neste mundo, quando pensa que o
seu sacrifício significa a salvação de uma vida que mais tarde poderá ser útil
a Deus e aos homens.
Partirá amanhã para ser a mãe carinhosa de
muitos que, em seus leitos de dor, estarão privados do amor materno.
Lágrimas quentes rolaram por suas faces
tornadas pálidas e magras pelo sofrimento e, mesmo de longe, os dois corações
maternos se entrelaçaram e se irmanaram no sentimento de amor, de dedicação e
de esquecimento do seu eu.
Quando vocês se prepararem para festejar o
“Dia das Mães” tenham em mente que não é apenas nesse dia especial que podem e
devem lembrar-se do amor de que são cercados.
É preciso que em cada dia do ano os filhos
honrem, amem e mostrem que amam as suas mamães e que se lembrem igualmente que
seus papais merecem o mesmo carinho!
“Honrarás a teu pai e a tua mãe”, eis a
ordem do Senhor nosso Deus.
24 - MÃOS ATRAVÉS DO CAMPO DE TRIGO
Carlos gostava de olhar o dourado campo de
trigo, e ver como se dobravam e balançavam com o vento. “Ele faz ondas assim
como no mar!” Ele disse.
O pai de Carlos sorriu: “Sim, filho, é isto
mesmo. E amanhã os combinados vão começar a rolar”.
Carlos sabia o que eram combinados. Eram
máquinas grandes que iam de um lado ao outro do campo. Elas colhiam os grãos
que estavam na haste do trigo, amontoavam dentro dos caminhões que levavam os
grãos para os mercados da cidade,
Por isto, Carlos ficou um pouco triste, ao
pensar que não teria mais muito tempo para ficar vendo o trigo balançando com o
vento. Se os combinados começassem a trabalhar de manhã cedo, provavelmente de
tarde todo o campo de trigo já teria sido colhido.
“Vou ficar com saudades do trigo, papai”,
disse Carlos com tristeza.
O papai sorriu e colocou sua mão no ombro
de Carlos. “Eu acho que também vou ficar com saudades. Mas é tempo de colheita.
Você sabe que a Bíblia nos diz que existe tempo para plantar e tempo para
colher. Nós plantamos o trigo no tempo certo, ele cresceu verde e forte. Depois
de muitos meses, o vento, a chuva e o sol, fizeram com que ele amadurecesse.
Agora está no ponto de ser colhido. Se ficar mais um pouco, o talo do trigo
começará a ficar muito fraco e poderá cair. Se isto acontecer, as espigas do
trigo cairão no chão e ficaria muito baixo para que os combinados pegassem, e
desta maneira perderíamos os grãos”.
Bem calado, Carlos ficou prestando atenção
no que o pai dizia. E depois começou a sorrir também. Ele sabia que seus pais
precisavam do dinheiro que conseguiriam com a venda do trigo para pagar a
fazenda. Lentamente, Carlos alcançou a mãos de seu pai. “Estou contente por que é tempo de
colheita”, ele disse.
O pai apertou, fortemente, a mão de Carlos
entre as suas, dizendo: “Eu também estou feliz”.
Bem cedo na outra manhã, Carlos e sua
irmãzinha, Lisa, foram para fora ver se os grandes combinados já estavam vindo
da cidade. O céu estava claro e limpo, e o sol brilhava cada vez mais. Um longo
tempo passou mas, os combinados não chegavam.
Lisa se cansou de esperar. “Vamos fazer
qualquer outra coisa”, suplicou, “estou cansada de esperar pelas máquinas”.
Carlos riu. “Está bem. Por que não vamos
caçar borboletas para variar? Eu acabei de ver uma borboleta no campo de
trigo”.
“Agora
sim”, gritou Lisa. “Eu também acabei de ver uma borboleta!”.
E saiu correndo para casa, tão depressa
quanto permitia suas pequenas pernas. Por alguns minutos Carlos ficou olhando
para ela, mas logo viu uma enorme borboleta, de asas muito bonitas, e começou
sozinho a caçar.
Quanto tempo Carlos ficou caçando
borboletas, ele não se lembrava. Logo perdeu de vista aquela grande borboleta,
mas viu outras de cores variadas e de diversos tamanhos para caçar. Ele se
esqueceu completamente de Lisa. Também se
esqueceu dos combinados, até que ouviu o barulho deles vindo pela
estrada.
“Lisa!”, ele chamou, voltando para casa,
“os combinados estão chegando!”.
Mas Lisa não respondeu. A mamãe ouviu
Carlos chamando e gritando, e veio até o pátio.
“Lisa não está comigo”, disse a mãe,
“pensei que estivesse com você esperando as máquinas”.
“Ela estava”, explicou Carlos, “mas
começamos a caçar borboletas, e notei quando ela correu em direção de casa para
pegar uma borboleta que tinha visto”.
Carlos viu o pai que estava saindo do
celeiro e correu para encontrá-lo, “Pai, a Lisa está no celeiro?” Perguntou.
“Não, por quê?”, perguntou o pai muito
surpreso, “pensei que ela estivesse com você!”.
Carlos teve vontade de chorar. “Ela estava
comigo, começamos a caçar borboletas, e agora não sei onde ela está”.
O pai olhou preocupado, bateu levemente no
ombro de Carlos e disse, tentando acalmar: “Nós vamos encontrá-la. Vou avisar
os homens para não começarem a trabalhar com os combinados. Lisa pode estar na
plantação”.
Carlos passou os olhos pelos hectares e
hectares de ondulante trigo. Como poderiam encontrar Lisa dentro de tão grande
plantação?
Mas o papai tinha um plano. Ele, os homens
das máquinas, junto com a mamãe e Carlos, deveriam se dar às mãos e andar
através do campo. “Vamos andando e chamando até alcançarmos o outro lado”,
explicou o pai. “Depois vamos voltar e caminhar novamente. Desta maneira não
vamos perder nenhum pedacinho. Lisa pode ter sentado para descansar em algum
lugar e talvez tenha pegado no sono. E assim não poderá ouvir o nosso chamado.
Se não nos dermos às mãos, poderemos perdê-la, neste trigo tão alto”.
Os
homens concordaram que era um plano muito bom. Todos se deram as mãos, e o
papai fez uma oração pedindo a proteção de Jesus, e também o Seu auxílio.
Quando a oração terminou, Carlos segurou na
mão do papai e estendeu sua outra mão, procurando a mão de outra pessoa. Olhou
em volta muito surpreso. Ele era o último daquela fila.
O papai olhou para ele e disse baixinho.
Segure na mão de Jesus, meu filho. Ele vai nos ajudar a encontrar Lisa”.
Conforme iam se movendo através do campo,
Carlos quase podia sentir Jesus segurando a sua mão. O trigo estava muito alto,
em muitos lugares passava acima de sua cabeça, mas por alguma razão não era
difícil andar através dele.
De um lado e de outro da linha, Carlos
podia ouvir os homens chamando o nome de Lisa. A mamãe e o papai também
chamavam, mas Carlos não chamava. Tinha que se manter junto com o pai, e os
passos dele eram muito grandes.
De repente, Carlos soltou a mão de seu pai
e começou a correr pelo campo de trigo. Quando estava um pouco na frente, parou
e se ajoelhou em oração. Logo que terminou de orar, levantou e correu um pouco
para frente, em outra direção.
E parou subitamente. Bem na sua frente
estava Lisa. Ela estava dormindo num pequeno monte de trigo.
“Pai!”, Carlos gritou, “pai, Lisa está
aqui”.
Quando o papai chegou, Lisa acordou,
esfregou os olhos e disse: “Eu estava perdida”, ela soluçou, “eu chamei, mas
ninguém me respondeu, ninguém sabia onde eu estava”.
Carlos pegou em sua mão e disse: “Jesus
sabia, e Ele me ajudou a encontrá-la. O papai me disse para eu segurar na mão
de Jesus quando todos saímos para procurá-la. Jesus me disse para onde devia
ir”.
Há esse tempo, todos os outros que estavam
procurando por Lisa, chegaram e puderam ouvir o que Carlos estava dizendo. Um
dos homens sorriu para Carlos e disse: “Filho, eu acho que, realmente, Jesus
segurou a sua mão”.
Carlos sorriu para o homem. Ele tinha
certeza que Jesus tinha estendido Sua mão por todo o campo de trigo.
25 - MEIA HORA DE VIDA
Numa prisão, na Áustria, em frente de uma
cela em que se encontravam dois jovens condenados, incriminados do assassínio de um policial, dois visitantes
conversavam:
- Parece-me que vai perder o seu tempo,
dizia um deles, sacerdote; estes jovens são católicos. Envidei todos os
esforços no sentido de os converter, mas tudo foi inútil, pois estão
completamente endurecidos. Todavia quando já me propunha a sair pediram que os
deixasse falar com um pastor evangélico.
Eram 17:30h e às 18:00 horas ambos seriam
executados.
O homem a quem havia sido dirigido a
palavra do padre, um pastor evangélico, entrou na cela, orando fervorosamente
no espírito. Os jovens Sobot e Kosil, de 17 anos, levantaram-se,
cumprimentando-o e Sobot disse,
simplesmente:
- Esperávamos que o senhor viesse...
Colocando sobre a mesa a Bíblia, o pastor
respondeu:
- Sinto-me muito contente por estar aqui.
- Que livro é aquele? Perguntou Kosil.
- A Bíblia.
- Será esse o livro que diz que Deus fez o
mundo?
- Exatamente, tornou o pastor; mas diz
muito mais ainda. Não relata apenas que Deus criou o mundo, mas diz, também,
que Ele o amou. Escutai isto: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu
o Seu Filho Unigênito, para que todo aquele que n’Ele crê não pereça, mas tenha
a vida eterna”.
E o pastor sentou-se num banco, fazendo
sentar ao seu lado os dois condenados; e continuou:
- Deus amou o mundo! Isto é verdade e algo
aconteceu que o prova, e ao mesmo tempo em que Ele ainda o ama.
Os jovens escutavam atentamente e o pastor
falou-lhes de Cristo, o Filho de Deus, que pelo sacrifício de Si próprio veio
tirar o pecado, reconciliando o mundo com Deus. Em dada altura leu-lhes as
seguintes palavras: “E quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali O crucificaram,
e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. E dizia Jesus: Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”.
- Mas é verdade que Ele disse isso por
aqueles dois criminosos? Interrompeu Kosil.
- Certamente eles estavam incluídos nesta frase,
foi a resposta.
- Pastor, julga realmente que há alguma
coisa além da morte? Sempre supus que na morte tudo findaria...
- Não, amigo, a morte não é o fim; há algo
mais depois dela.
- Se isso é verdade, será uma coisa péssima
o que nos espera, exclamou Kosil amargamente.
Mas, com alegria, o pastor atalhou:
- Não, necessariamente; pode acontecer uma
coisa maravilhosa. Escutai.
E leu-lhes a história do ladrão que,
moribundo, disse a Jesus pendurado na cruz ao seu lado: “Senhor, lembra-Te de
mim, quando entrares no Teu reino”. E a resposta de Jesus: “Em verdade te digo
hoje, que serás comigo no Paraíso”.
Sobot e Kosil quedaram pensativos.
- Meus amigos – disse o pastor,
tomando-lhes as mãos – nunca em minha vida aconselhei alguém a seguir o exemplo
de um criminoso, agora, porém, peço-vos: imitai este ladrão que morreu ao lado
de Jesus, confessando os seus pecados, naquelas palavras: “E nós, na verdade,
com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum
mal fez”. Este homem voltou-se para Deus e confiou em Jesus para o perdão dos
seus pecados, e quando Deus nos perdoa, os nossos crimes são apagados. Jesus
respondeu à fé daquele homem com as palavras: “Na verdade te digo hoje, que
serás comigo no Paraíso”.
Depois
desta conversação, quando o pastor apareceu à porta da cela, o padre
perguntou-lhe:
- Então que conseguiu?
O pastor apenas lhe respondeu: - Entre,
senhor capelão.
E os dois permaneceram na cela durante dez
minutos apenas. Foram, todavia, momentos santificados, pelo arrependimento dos jovens, pela sua fé
em Cristo, crucificado e vivo.
Depois, foram palavras de agradecimento,
saudação e o adeus...
O padre e o pastor evangélico ficaram
olhando à porta até que de todo se perderam as figuras daqueles que não mais
voltariam e, num movimento espontâneo, apertaram-se às mãos. Ambos haviam visto
que o Evangelho de Cristo é o “poder de Deus para a salvação de todo aquele que
crê”.
26 - NANCY E AS FLORES
A vovó de Nancy tinha uma loja de flores.
Atrás de sua casa havia um viveiro, onde se podia encontrar qualquer variedade
de planta que você possa imaginar.
E atrás do viveiro havia um jardim. E o
jardim transbordava de flores de verão. Haviam flores rosadas, flores azuis,
alaranjadas, douradas e flores amarelas. E atrás, num pequeno cercado, estavam
plantas cheias de rosas vermelhas, brancas, rosadas e amarelas. Quando Nancy ia
visitar a vovó, sempre ajudava a molhar as flores, e também ajudava a capinar,
tirando o mato. Algumas vezes, a vovó lhe dava uma tesoura, e deixava que ela
cortasse algumas flores para fazer um buquê. Ela precisava de tesoura,
especialmente para apanhar rosas. Sempre que podava as flores, Nancy
pensava como devia ter sido lindo no
Jardim do Éden, onde não havia espinhos nas rosas, não havia erva daninha e nem
mato para arrancar. Como devia ter sido lindo antes que o pecado entrasse em
nosso mundo para estragar tantas coisas bonitas! Mas os espinhos eram superados
pela deliciosa fragrância das rosas, e por isto ela era muito agradecida.
Uma manhã a mamãe perguntou: “Nancy, você
gostaria de ir passar o dia com a vovó?”
“Ó, mãe, como eu gostaria de ir. Eu gosto
muito de ir à casa da vovó!” E Nancy batia palmas de felicidade. “Vai ser muito
divertido na casa da vovó”.
Quando a mamãe e Nancy chegaram na entrada
da casa, a vovó já estava esperando por elas. Tinha um grande sorriso em seu
rosto, e deu um beijo em Nancy. “Você é exatamente a ajudante que eu precisava
hoje. Vou estar muito ocupada arrumando flores para um casamento. Não tenho
ninguém para capinar e molhar minhas flores. Você gostaria de fazer isto para
mim?”
“Lógico que sim”, disse Nancy, se sentindo
muito importante e correndo com a vovó para o jardim.
A vovó mostrou quais as flores que
precisavam de atenção, e depois voltou para a loja, para trabalhar nas flores
para o casamento.
Enquanto Nancy trabalhava, lembrava que sua
avó tinha dito, muitas vezes, que ela deveria lembrar de nunca arrancar uma
flor, mas sempre cortar com uma tesoura. A vovó também sempre avisava para não
entrar no cercado onde estavam plantadas as rosas.
“Rosas têm espinhos muito perigosos”, sua
vovó tinha dito, “eles podem machucar
uma menina pequena. Eu conheço uma menininha a quem não quero ver toda
arranhada pelos espinhos”.
Nancy lembrava destas regras enquanto
arrancava o mato e molhava as flores. “Acho que estas regras foram feitas
quando eu era ainda muito pequena para saber como me cuidar” pensou ela, “agora
estou bem crescida, tenho certeza”.
Depois que terminou de capinar o mato,
olhou em volta. As flores estavam muito bonitas. Mas Nancy gostava muito mais
das rosas, e decidiu esquecer a regra antiga e chegou bem perto do cercado para
ver as rosas.
“Ah, como eu gostaria de ter uma rosa” ,
disse alto. E viu uma rosa por cima da
cerca.
Uma vozinha dentro dela parecia dizer: “Por
que você não pega essa linda rosa que está em cima da cerca? Você pode alcançar
muito fácil, e a vovó nunca vai saber”.
Mas, no mesmo instante, outra voz, a voz da
consciência, parecia dizer: “Não! Lembre-se da ordem da vovó. Ela não quer que
você arranque as flores. Você poderá se machucar com os espinhos se tentar
pegar aquela rosa”.
Mas
Nancy desprezou a voz da consciência e subiu na cerca. Esticou a mão e
segurou o talo da rosa, virou de um lado para o outro, torceu, mas não
conseguia arrancar. Usou então as duas
mãos, e de repente perdeu o equilíbrio e caiu diretamente em cima da roseira.
“Ai! Ai! Ai!” Nancy começou a gritar de dor.
Os espinhos que estavam nos ramos da roseira iam arranhando seu rosto conforme
ela caia. Também suas pernas e seus braços estavam arranhados, e, além disso,
seu vestido estava rasgado.
Cada vez que Nancy se mexia, tentando
levantar-se, os espinhos a arranhavam ainda mais. Então chamou pela vovó com
toda a força de seus pulmões. Esqueceu que tinha desobedecido, esqueceu que a
vovó poderia ficar muito zangada com
ela, e somente sabia que queria se ver livre daqueles espinhos horríveis.
A vovó ouviu seus gritos e veio correndo.
Com muito cuidado tirou
Nancy
do meio da roseira, e carinhosamente a carregou para dentro de casa.
Gentilmente
lavou seus ferimentos e arranhões com uma loção desinfetante. Logo Nancy se
sentiu bem melhor.
“Estou muito triste porque desobedeci à
senhora e quebrei a roseira”, disse arrependida.
A vovó a abraçou com todo o cuidado: “Agora
não devemos ficar preocupadas com roseiras quebradas, mas sim dar graças que os
ferimentos”.
De minha netinha não foram
mais graves”, disse a vovó carinhosamente. “Você sabe, as tentações de Satanás
são exatamente como aquelas lindas rosas. Ele as torna tão atrativas que não
vemos os espinhos até que seja tarde demais. Mas então podemos chamar por
Jesus. Ele sempre vai nos ouvir. Ele vai nos tirar do meio dos espinhos e nos
perdoar com todo o amor, assim como a vovó lhe perdoou, querida Nancy ““.
Então, Nancy sorriu. Como era bom ser
perdoada!
27 - O BARCO QUE BRADO
Quem não ficaria orgulhoso do lindo modelo
de veleiro que Jaime tinha feito?
Ele
o havia colocado sobre a toalha da lareira para que todos os que entrassem na
sala pudessem ver.
Um dia seus tios e seu primo favorito,
chamado Marcos, vieram fazer uma visita. Jaime franziu o rosto quanto notou que
Marcos se levantou na ponta dos pés e pegou o lindo veleiro que estava sobre a
lareira. Mas Jaime não disse nada, porque gostava muito de Marcos.
“Jaime trabalhou, fazendo este veleiro, por
mais de três semanas”, disse o papai, colocando orgulhosamente as mãos sobre os
ombros de Jaime.
“Olhe! Cuidado!” Disse a mãe de Jaime,
quando Marcos tropeçou na ponta do tapete. Mas era muito tarde, e Marcos caiu!
O belo modelo de veleiro voou de suas mãos e se espatifou no chão.
Jaime apertou os lábios, enquanto a passos
largos atravessou a sala para juntar seu barco. O mastro principal tinha sido
arrancado, e o mastro menor estava quebrado. Seu modelo de barco tão lindo
estava completamente arruinado!
Marcos olhou para Jaime, seu rosto estava
pálido, e havia lágrimas em seus olhos castanhos. “Eu... eu... sinto muito!”
Seus lábios tremiam e então começou a chorar.
Jaime sentiu muita vontade de xingar e
brigar com ele, mas por um minuto não disse nada – somente olhou para o barco
quebrado que estava em suas mãos. Marcos não tinha nada de ter pegado o barco
de cima da lareira. O barco não pertencia a ele. Agora as três semanas gastas
para construir o barco estavam perdidas. Mas Jaime somente sorriu e disse: “Foi
um acidente, Marcos”, e se abaixou para ajudar o pequeno menino a se levantar, “e,
além disso, eu posso consertar o veleiro. Ele ficará tão bom quanto se fosse
novo. Por favor, pare de chorar”.
Marcos mal podia enxergar através de suas
lágrimas. “Nam...nam...não, você não vai poder consertá-lo”, disse duvidando.
“Sim, eu tenho certeza que poderei
consertar”.
“Ma... ma..., mas o veleiro está todo
quebrado”, disse Marcos, tentando enxugar as lágrimas.
“Ele ficará tão perfeito, como se fosse
novo, depois que eu construir um novo mastro”, disse Jaime.
“Sentimos muito pelo que aconteceu, Jaime”,
disse seu tio, enquanto procurava sua carteira. E tirando algum dinheiro disse:
“Isto é para você. Quero que você construa um novo modelo”.
Jaime sorriu para seu tio. “Muito obrigado,
tio, mas eu já tenho outro modelo para construir. Papai trouxe um para casa
ontem. De qualquer maneira, muito obrigado por seu oferecimento. Mas não foi
causado dano ao barco que não possa ser consertado”.
Quando Marcos e seus pais finalmente se
despediram, Jaime estava na porta com a sua mãe e seu pai e acenou para eles
quando o carro passou na rua.
“Sabem de uma coisa! Já descobri o que
posso dar a Marcos em seu aniversário, no próximo mês”, disse Jaime enquanto
entravam em casa. “Ele gosta de veleiros, e assim vou consertar este que está quebrado
e dar a ele de presente”.
A mamãe e o papai sorriram. “Estamos
orgulhosos pela maneira que você se comportou quando Marcos derrubou o seu
barco”, disse seu pai, mexendo no cabelo negro de seu filho.
“Com certeza estamos orgulhosos”, concordou
a mamãe, “e acho que o seu amigo mais querido também está muito orgulhoso de
você”.
Jaime sorriu para seus pais. Ele estava
lembrando o quanto seu querido Amigo Jesus o amava. Lembrou como Jesus o tinha
ajudado a gostar de Marcos, mesmo quando este tinha quebrado seu lindo veleiro.
Estava muito contente por não ter xingado e nem ter dito palavras feias para
Marcos. “Amizade e amor valem muito mais do que um veleiro” pensou, dizendo
para si mesmo.
“Veleiros podem ser consertados mais
facilmente do que amizades rompidas”.
28 - O CUSTO DE UMA DESOBEDIÊNCIA
Era uma vez dois meninos muito bons amigos.
Chamavam-se João e Santiago, e como estavam sempre juntos, assistiam ambos a
uma escola situada no cume de uma colina.
Próximo dos terrenos para brinquedos da
escola havia um extenso terreno baldio onde tinham sido realizadas escavações
para certas minas. Foram descobertos minérios valiosos a uma grande
profundidade, e tiradas muitas pedras para a superfície para passá-las pelas
máquinas que separavam o minério das escórias.
Os mineiros trabalharam nisto durante muito
tempo, até que finalmente não havia mais minério e o trabalho terminou. Foram
tiradas todas as ferramentas dos poços e das galerias subterrâneas, e a
maquinaria foi levada para onde havia novas minas. A água começou a encher os
túneis, uma vez que foram tiradas as bombas. As chuvas também contribuíram para
encher os poços, até que a água quase chegou à superfície.
Uma ordem muito severa da escola era que
nenhum menino devia pisar nesses terrenos.
Numa tarde, depois que terminaram as aulas,
ocorreu a Santiago uma idéia que lhe pareceu brilhante. Para a maioria das
crianças, há prazer na variação de suas atividades, de modo que Santiago disse
a seu amigo:
- Joãozinho, vamos tomar um caminho de
atalho para nossa casa.
Joãozinho pensou que isso seria
interessante, e o acompanhou. O caminho do atalho passava pelo terreno onde
haviam trabalhado os mineiros, porém os meninos esqueceram-se do regulamento da
escola.
Foi muito divertido ir para casa por um
caminho diferente. Santiago escondeu-se atrás de um montão de pedras, e
Joãozinho tratou de procurá-lo. Logo pararam para examinar o que havia ao redor
de um velho poço. Jogaram pedras ao seu interior para ouvir como golpeavam
contra a água.
Mais
adiante viram um despenhadeiro e um lugar bastante bom para nadar, porém fazia
frio. Fizeram esforço para subir a um grande montão de escórias de cujo cume
podia ser vista grande parte da cidade e até os campos de muito longe.
Outra tarde os meninos detiveram-se para
brincar ao redor de um poço. Santiago correu até muito perto da boca, tropeçou
e caiu de cabeça nas águas turvas. Quando voltou à superfície procurou
agarrar-se a madeiras podres que
flutuavam no pólo. João não podia alcançar o seu amigo com a mão e não tinha
corda para jogar-lhe. Gritou-lhe que ia, em busca de auxílio, e saiu correndo.
Alguém chamou pelo telefone o corpo de
bombeiros. Imediatamente chegaram os caminhões com suas sirenas; veio também o
grande caminhão com escadas. Joãozinho indicou aos homens onde tinha caído
Santiago, porém agora não podia ser visto. Os homens começaram a usar cordas e
ganchos para tirar o menino.
Logo se espalhou pelo povoado a notícia de
que havia acontecido um acidente, e vieram mineiros de todas as partes para
ajudarem a procurar. Chegou a noite, mas os homens, com o auxílio de algumas
pequenas luzes, continuaram trabalhando,
ainda que sem resultado.
No dia seguinte outros homens estenderam
cabos para as luzes elétricas e a força do motor. Foram instaladas duas grandes
bombas, que imediatamente começaram a funcionar, tirando milhares de litros de
água que lançavam em um ribeiro ao pé da colina.
Lentamente foi baixando a água do poço. No
interior deste foi construído um andaime para que os homens pudessem trabalhar
melhor. Passaram-se vários dias. As grandes bombas continuavam funcionando, e
os homens lutavam dia e noite.
Bem no fundo do poço foi encontrado o corpo
do menino. Tiraram-no imediatamente, levaram-no para uma ambulância que
esperava, porém era demasiado tarde. Este caso triste mostra-nos que os meninos
devem atender ao conselho de seus pais e professores e obedecer-lhes sempre.
29 - O FIEL TUPÍ
Tupí era apenas um cãozinho sem lar, sem
ninguém que dele cuidasse. Passava maus bocados, e recebia muitos pontapés e
pancadas de meninos maus que se compraziam em maltratá-lo. Encontrou certo dia
um menininho que se mostrou bondoso para com ele, e acompanhou à casa o pequeno
Roberto. Pediu com tanta insistência que o deixassem entrar, que a mãe do
menino disse: “Sim, Roberto, dê-lhe um bom jantar”.
Tupí portou-se tão bem, e Roberto estava
tão ansioso por tê-lo em casa, que lhe foi permitido ficar. A família toda o
apreciava; mas Mimosa, a gatinha, não queria acamaradar-se com ele, a
princípio. Arranhava-o e cuspia-lhe cada vez que dela se aproximava. Mas, no
decorrer do tempo, Mimosa começou também a gostar dele, e tornaram-se bons
amigos.
Tupí tornara-se útil de várias maneiras.
Guardava a casa, afastava do jardim os pintinhos, levava a cesta à venda e
trazia as coisas de que sua dona necessitava. Fez-se muito amigo de Roberto,
acompanhava-o e brincava com ele.
Uma noite incendiou-se a casa e, si não
fosse a ação imediata de Tupí, teria sido destruída e os habitantes devorados
pelas chamas. Tupí correu para a cama de Roberto, agarrou a colcha, latiu e fez
tanto barulho, que Roberto acordou a
tempo de chamar o pai antes que o fogo tivesse causado muito dano. Embora
somente um cachorro, Tupí era fiel e fazia o que podia para demonstrar sua
gratidão para com o bom lar que o acolhera.
Os cães têm grande amor a seus donos, e
geralmente os servem com a maior fidelidade. Há muitas espécies de cães: dogue,
buldogue, Terra-Nova, São Bernardo, mastim, cão dágua e outros. Alguns são
ferozes e cruéis, e outros amáveis e nobres. Os cães de São Bernardo têm ido a
montanhas cobertas de neve, à procura de viajantes que se extraviaram. Têm
salvo a muitos, conduzindo-os ao lar dos que os enviaram em sua missão de
misericórdia.
Como vêem, queridas crianças, até os mudos
animais se sentem gratos pela bondade com que são tratados. Alguns cães são
muito fiéis como guardas de ovelhas. Vigiam-nas para não se desgarrarem do
rebanho.
Pode-se ensinar muitas coisas aos cães.
Atendem ao que se lhes diz muito melhor que alguns meninos e meninas. Espero
que todos os meus leitores obedeçam prontamente aos pais. Algumas crianças
dizem: “Sim, mamãe, já vou”, mas, a não ser que sejam mandadas outra vez, esquecem-se do que lhes
foi dito. Isso não é direito. Façam sempre o que lhes for mandado, o mais
depressa que puderem. Aprendam a obedecer imediatamente.
30 - O LEMA DE JUDITE
A porta da loja de balas se abriu e cinco
meninas pequenas entraram correndo. Ansiosamente elas olhavam para as muitas
espécies de balas que estavam nos potes.
- Escolham o que desejarem, meninas, porque
eu tenho um monte de dinheiro comigo – disse Judite.
- Obrigada, obrigada, Judite – exclamaram
todas elas ao mesmo tempo.
- Eu quero algumas destas, e destas – disse
Sílvia apontando para os potes de balas.
- Por favor, me dê algumas balas de leite –
disse Maria para o Sr. Mason, que estava atendendo.
Finalmente cada menina havia sido atendida,
Judite abriu sua bolsa vermelha e tirou o dinheiro (diga uma quantia).
- Aqui está o seu dinheiro, Sr. Mason –
disse Judite, entregando o dinheiro para ele.
- Muito bem, Judite, você deve ter feito
aniversário para ter tanto dinheiro assim.
Esta
já é a terceira vez esta semana que você compra balas para suas colegas –
comentou o Sr. Mason.
Judite não disse nada. Ao sair da loja, as
colegas novamente rodearam Judite.
- Muito, muito obrigada pelas balas, Judite. Você é um docinho –
disseram todas.
Judite sorriu.
- Está bem, tudo bem. – E Judite andava
orgulhosa ao lado delas.
A lição da escola no dia seguinte era sobre
Benjamim Franklin.
- Aqui está uma folha de papel para cada um
de vocês – disse a professora Célia. – Cada um vai escrever alguma coisa sobre
Benjamim Franklin. Quando eu chamar, por favor, levante e leia o que escreveu
em sua folha de papel.
A professora passava de uma fila para
outra, chamando cada aluno. Chegou a vez de Judite ler alto, e ela leu o que
havia escrito:
- Uma das frases mais famosas de Benjamim
Franklin foi: ”Honestidade é a melhor política”.
A professora continuou chamando os alunos,
mas Judite quase não ouviu o resto dos trabalhos. Estava pensando profundamente.
Finalmente a aula terminou.
- Você vai agora à loja de balas, Judite? –
perguntaram suas colegas, enquanto saíam pela porta.
- Não, eu não posso ir lá hoje – respondeu
Judite – mas podemos andar juntas por algumas quadras.
- Não, nós não podemos – disse uma delas – o seu caminho é outro e realmente
não podemos acompanhá-la. – E elas saíram andando em outra direção.
Judite continuou seu caminho sozinha, bem
devagar. Ela atravessou a rua em frente à casa do Sr. Mendes. De repente
escorregou em cima de alguma coisa e caiu. Ela olhou para ver o que tinha feito
com que caísse. Você pode achar estranho, mas ao lado de Judite estava um
quadro, com a moldura quebrada, e neste quadro tinha uma frase. Ela olhou com
atenção para ver o que estava escrito, e leu em voz alta. “A honestidade é a
melhor política” – Benjamim Franklin. O velho lema havia caído de uma caixa
estragada que o Sr. Mendes tinha jogado fora, depois que comprou um quadro novo.
Judite se levantou bem devagar, mas, de
repente começou a correr, correr, correr, o mais rápido que podia, entrou
correndo no jardim de sua casa. Abriu a porta e chamou:
- Mamãe, mamãe, onde está você? Eu preciso
muito falar com a senhora.
- Por que, Judite, o que aconteceu?
Perguntou sua mãe, logo que ela entrou na sala.
- Oh! Mamãe – Judite passou os braços ao
redor do pescoço de sua mãe, e apertou bastante – eu fiz uma coisa horrível.
Acho que você não vai me amar mais, eu sei. E lágrimas começaram a correr pelo
rosto de Judite.
-
Conte-me, filhinha, o que está perturbando você – disse a mãe.
- Eu ando pegando dinheiro da caixa que
está na cozinha – disse Judite.
- Oh! Judite estou muito triste – a mamãe
olhou preocupada. – Aquela é minha caixa missionária, onde eu coloco dinheiro
para dar para Jesus. E esse dinheiro
será usado em algum lugar onde tenham uma necessidade especial, no campo
missionário.
Judite começou a chorar.
- Eu peguei o dinheiro para comprar balas
para minhas colegas na escola. Agora ninguém mais vai gostar de mim.
- Minha filhinha, Judite – disse a mãe
olhando em seus olhos – eu sempre amarei você, não importa o que você tenha
feito. E Jesus também ainda ama muito você. Vamos nos ajoelhar e dizer a Jesus
que você está muito arrependida. Depois vamos estudar uma maneira de você
devolver o dinheiro.
Judite e sua mãe ajoelharam juntas e Judite
falou para Jesus como estava arrependida por ter roubado o dinheiro da caixa
missionária de sua mãe. Quando levantaram da oração, Judite estava sorrindo
feliz:
- Como é bom a gente se sentir perdoada.
- Sim, filhinha, eu sei – sorriu a mamãe. –
Agora me diga onde estão as meninas com quem você gastou o dinheiro?
- Elas foram para suas casas. Eu não tinha
dinheiro para gastar com elas hoje, então não quiseram me acompanhar até minha
casa.
- Você não pode comprar amiga com dinheiro,
Judite. Mas, vamos imaginar que você convide algumas meninas para vir aqui em
casa amanhã depois da escola.
- Mas, mamãe, que poderemos fazer aqui? –
Judite queria saber.
- Elas podem ajudar você a assar biscoitos
para vender e devolver o dinheiro para a caixa missionária. – A mãe puxou
Judite para bem perto dela. Tenho certeza de que elas poderiam vir.
- Que bom! Exclamou Judite – será muito
divertido! Tenho certeza de que elas também vão gostar muito!
-
Depois Judite deu um abraço bem apertado na mamãe e disse:
- Benjamim Franklin estava certo quando
disse: “A honestidade é a melhor política”.
O que vocês acham:
Quais eram os sentimentos de Judite,
enquanto estava roubando dinheiro para comprar balas para as meninas, lá na
loja de doces?
A que mandamento ela estava desobedecendo?
Será que Jesus deixou de amar Judite quando
ela começou a roubar?
Por que ou por que não?
Será que Jesus deixou de amar Judite quando
ela começou a roubar?
Por que ou por que não?
Será que foi somente um acidente, aquele
quadro com o lema estar caído na calçada para que Judite caísse em cima?
O que trouxe felicidade para Judite?
31 - O MELHOR CAMINHO
Joel, Maria Assunção e sua irmãzinha brincavam no quintal quando Breno,
João e o pequenino Guilí Almeida passaram pela alta cerca que separava os quintais, para brincar com eles.
Durante horas seguidas as crianças se divertiram
jogando bola e peteca, ou balançando-se no grande balanço de cordas, e
escorregando no plano inclinado que o pai de Joel para eles fizera.
Repentinamente, porém, todos pareceram perder por completo o interesse no que
estavam fazendo.
- Já sei porque, disse Joel, todos nós
estamos com fome.
- Decerto que estamos, disse Maria; e
embora mamãe tenha visitas esta tarde, correrei para casa a fim de ver alguma
coisa para comer.
- Querida, disse-lhe a mãe, quando Maria
lhe contou a que viera, fiz, esta tarde, sanduíches tanto para as visitas, como
para os de casa.Você encontrará uma boa porção deles no guarda-comida. Mas
tenha cuidado, não os leve para o quintal no prato de porcelana.
Maria prometeu-lhe mudá-los de prato, e
apressou-se em sair. Mas ao olhar para dentro do guarda-comida e ver os
sanduíches bem arrumadinhos no lindo prato azul e cor-de-rosa, achou
desnecessária a advertência da mãe.
- Estão tão bem neste prato! Resmungou ela.
Carregá-lo-ei com todo o cuidado, e farei de conta que me esqueci de trocá-lo.
Então, levantando cuidadosamente o prato,
volveu pelo mesmo caminho, rumo do quintal.
Que momentos agradáveis se seguiram à sua
chegada! Tanto os de casa como os de fora, amontoaram-se ao redor do grande
prato, e comeram até que o último farelo lhes havia descido pela goela.
- Bem, disse Maria, nada mais resta agora
senão levar novamente o prato para a cozinha e reiniciar a brincadeira; e
dispôs-se a voltar. Mas, oh, infelicidade! Mal havia dado uma passada e deu uma
topada e lá se foi o prato contra uma pedra, fazendo-se em pedaços.
Por alguns momentos as crianças ficaram a
olhar umas para as outras, depois Joel fez sinal de silêncio. – Nós podemos pôr
a culpa na pequenina, Maria, disse ele baixinho, pois ela não sabe falar.
Esse seria um meio de sair da enrascada –
pôr a culpa em Bessi; mas seria isso direito?
Novamente se agruparam as crianças. De
repente Maria sorriu e levantou a mão direita.
- Não, Joel, disse ela calmamente, não é
direito fazer uma coisa e depois pôr a culpa em outra pessoa; direi a verdade à
mamãe e sofrerei o castigo.
Todos ficaram silenciosos por um minuto;
depois João aproximou-se de Maria dizendo-lhe meigamente: - Não seria bom fazer
sua mãe pensar que foi a pequerrucha quem quebrou o prato, mas seria muito mais
fácil se todos nós a acompanhássemos quando você fosse falar com sua mãe.
Certamente, pareceu mais fácil a Maria
contar à mãe o ocorrido tendo ao lado os amiguinhos, do que fazê-lo sozinha.
32 - O NOME GRAVADO NO BRAÇO DE RAMON
Ramon era um menino hindu que morava com os
pais, lá na Índia. Com oito anos de idade, nunca havia freqüentado escola
alguma. Ele tinha intensa vontade de estudar, mas o pai o enviava para cuidar
das cabras.
Toda pmanhã saía, para apascentar o
rebanho, levando-o aos lugares em que houvesse folhas em abundância, e à noite
voltava com ele para o cercado.
Quando chegava, à noitinha, comia os
alimentos que a mãe lhe preparara e se assentava ao lado do pai. Era costume os
homens comerem primeiro e só depois é que as mulheres se serviam.
Antes de irem dormir em suas esteiras,
Ramon, orava, mas não da maneira que orais. Ele ficava de pé, com as mãos
postas, e repetia muitas e muitas vezes, o nome do deus por que era ele chamado:
“Rama, Rama, Rama,...” dizia ele, esperando que aquele deus o ouvisse e o
amparasse durante a noite e o dia seguinte.
Mas Ramon fez mais do que rezar. Foi á
procura de um homem que soubesse, pela tatuagem, gravar em seu braço o nome de
Rama. Ele cria que o deus visse seu nome lá inscrito e cuidasse dele de modo
especial.
Um dia, enquanto vigiava as cabras, viu
algumas crianças que conduziam ardósias ou pedras de escrever, e livros.
Perguntou aos meninos para onde se dirigiam, e eles lhe responderam que iam à
nova escola da missão, bem distante ainda.
Como Ramon desejava freqüentar a escola,
também! Embora tivesse as cabras de que cuidar, resolveu ir, para saber como
era a instituição. Foi, pois, em direção da escola, levando também seu rebanho
de cabras. Ao chegar lá, procurou escutar tudo quanto o professor disse,
enquanto os animais pastavam. Não tardou muito, e o professor o convidou a
entrar. Procurou um lugar de onde
pudesse ver o rebanho, para estar certo de que nenhum perigo houvesse com os
animais.
Houve uma coisa que Ramon aprendeu muito
depressa: a querida história de Jesus. Dentro de pouco Ramon disse ao professor
que queria tornar-se cristão. E agora, que fazer com o nome gravado em seu
braço? Tinha tanta vergonha disso, que sempre e sempre escondia a tatuagem,
para que ninguém a visse.
- Senhor professor, pode fazer o obséquio
de cortar meu braço? – gaguejou ele, ao erguer a mão.
- Que é que há com seu braço, para querer
que eu o corte? – disse, surpreendido, o professor.
- Senhor – disse Ramon – desejo ser um
menino de Jesus, isto não pode ser
enquanto eu tiver o nome de meu antigo
deus gravado em meu braço. Veja bem as letras onde estão.
O missionário foi tão bondoso, que logo
Ramon criou coragem e disse: - Quero tanto ser um menino de Jesus, que estou
pronto para dar, com alegria, o meu braço.
Não foi difícil o professor missionário
explicar ao pequeno Ramon que Jesus tinha muito prazer em vê-lo disposto a
sacrificar até mesmo o braço, e declarou-lhe que Jesus estava pronto a aceitá-lo, embora com aquele nome do
deus pagão em seu braço. Então, veio-lhe à mente uma nova idéia:
- Senhor, se eu pedir ao homem para gravar
o nome de Jesus por cima do de Rama, de maneira que só se veja o de Jesus, não
será bom?
- Jesus o aceitará, mesmo com o nome de
Rama em seu braço, mas creio que Ele Se alegrará em ver que agora o nome Dele
está em cima do nome de Rama.
Foi desta maneira que Ramon se tornou
cristão e pôde demonstrar seu amor para com Jesus.
33 - O PRATO DE COMIDA PARA PÁSSAROS
Observar as coisas através da janela da
cozinha era muito divertido. Jéssica fazia isto, cada manhã antes do café.
Primeiro ela puxava um banquinho para perto da pia da cozinha, e depois subia
para ver que tipo de passarinho estava comendo no prato preparado para eles
naquele dia.
Mas uma manhã, quando Jéssica subiu no
banquinho e olhou para fora, ela viu que uma criatura muito diferente estava
comendo a comida do prato. Tinha um rabo comprido, fofo e brilhante, e seus
olhos também eram brilhantes; e comia, comia, comia e comia.
Jéssica, assustada, chamou o Tio Bruce.
- Há alguma coisa lá fora, no prato de
comida, que não é um passarinho!
O Tio Bruce veio, parou ao lado de Jéssica,
e disse:
- Sr. Conversador, o esquilo vermelho, é
melhor sair de nosso prato para passarinhos. Então o Tio Bruce pegou a
vassoura, que estava ao lado da porta dos fundos, e na ponta dos pés, bem
silencioso, abriu a porta e saiu. Ele foi devagar até ficar atrás do prato e...
“Vapt!” Bateu com a vassoura em cima do prato, que Jéssica se assustou e deu o
maior grito. O esquilo saiu correndo através do quintal, passou pela cerca e
foi para longe, correu para cima de uma árvore de nozes. O Tio Bruce riu até
não poder mais, por causa da velocidade do esquilo.
Mas Jéssica estava muito preocupada.
- Os esquilos também não ficam com fome,
tio Bruce?
- Sim – disse o tio Bruce – mas eles juntam
nozes durante o outono, antes que caia neve, e assim eles têm o que comer quando
têm fome durante o inverno. Para os passarinhos é muito difícil encontrar
depois que a neve cobre todas as sementes que caíram durante o verão. Mas este
esquilo preguiçoso prefere comer as sementes que colocamos no prato para os
passarinhos, do que se esforçar em lembrar onde escondeu suas próprias nozes!
Jéssica ficou parada em cima do banquinho,
observando até que os passarinhos começaram a vir para o seu café matinal. Só
depois ela chamou a mamãe e pediu:
- Você pode me preparar o meu café agora?
Estou contente porque Jesus providencia comida tanto para os passarinhos e para
os esquilos, como também para todas as crianças.
Quem fez os pássaros? Quem fez os esquilos?
Quem ensinou os esquilos a esconder nozes para ter o que comer no inverno?
________
você tem algum animalzinho? O que você pode fazer hoje para ser bondoso para
com seu bichinho?
34 - O QUE
MERECE SER FEITO
A mãe de Alice tomou um dos pratos e o
colocou de lado. Dele caíram algumas gotas de água que rolaram sobre a mesa.
- Secaste estes pratos Alice? Perguntou
ela.
- Oh, mamãe, exclamou Alice descontente,
porque sempre encontra à senhora defeito no que eu faço?
- O que merece ser feito, merece ser bem feito, respondeu a mãe com voz
serena.
- Eu não gosto de enxugar pratos, resmungou
de mau humor a pequena.
- Oh, suspirou a mãe, quanto gostaria de
encontrar maneira de fazer-te compreender a importância de fazer as coisas
corretamente! Algum dia alguma coisa muito importante irá depender de quão bem
hajas feito teu trabalho... .
- Oh, não se aflija mamãe, interrompeu
Alice, tudo sairá bem!
E acrescentou:
- Posso usar agora a máquina de costura?
A mãe pensou: “Se Alice ao menos fosse tão conscienciosa a respeito
de outras coisas quanto o é sobre suas costuras”.
Alice gostava de costurar. Fazia pontos
nítidos e iguais. Gostava especialmente de casear. As casas que fazia eram bem
feitas e fortes.
- Quando eu crescer irei ser costureira!
Dizia a menina com orgulho.
Alguns dias mais tarde, Alice estava na
escola fazendo os exercícios de aritmética, quando de repente a campainha
grande da parede começou a tocar. Ouviu-se três toques curtos, um momento de
silêncio e em seguida outros três toques curtos.
Isto significava incêndio! Com presteza e
serenidade, a professora conduziu a classe para a janela onde ficava a saída
para os casos de incêndio.
- Talvez não seja mais que outro exercício
pensou Alice. Oxalá deixem de fazer tantos exercícios! Não me agradam nada.
Porém de repente sua atenção foi despertada
pelo silvo agudo de uma sirena. Eram os bombeiros que chegavam! O coração de
Alice começou a bater rápido. Era realmente um incêndio! Os meninos iam saindo
para o campo de recreio.
Algumas das meninas menores começaram a
chorar, porém não Alice. Ela pensava:
- De que vale chorar? Temos tido tantos
exercícios para os casos de incêndio que todos já devem estar fora do edifício.
Olhou para cima e se admirou de que já
houvesse uma cadeira ardendo na plataforma do segundo andar. Dir-se-ia que, nos
momentos de agitação, alguém havia posto aquela cadeira, agora ardendo, sobre a
plataforma da via de escape.
De repente se ouviu um grito, e ao levantar
os olhos, Alice viu na parte superior da escada de escape sua própria irmãzinha
Júlia. Como havia a pequena ficada para trás? Talvez tivesse saído ao corredor
para tomar água, pois Júlia estava sempre querendo tomar água. Talvez houvesse
outro motivo, porém, tudo o que Alice podia pensar nesse momento era que sua irmãzinha
estava só na parte de cima da escada de emergência, e na plataforma que ela
devia atravessar, havia uma cadeira em chamas. Que iria a pequena fazer? Como
poderia passar?
- Espera! Gritaram a Júlia os bombeiros.
Fica aí quietinha que te vamos buscar.
Júlia, porém, estava muito assustada para
ficar quietinha e para escutar o que lhe diziam. Ficou um momento olhando a
multidão em baixo, e logo começou a trepar pela sacada de ferro, em cuja parte
superior havia várias pontas.
- Não! Não faças isso! Gritaram todos de
uma vez. Não faças isso Júlia, espera que te vamos buscar!
Mas Júlia continuou subindo pelo gradil.
Isso lhe era difícil, por causa das pontas de ferro que ficavam a pouca
distância umas das outras. Conquanto fossem providenciadas em seguida escadas
por onde os bombeiros subiam até próximo de Júlia, esta trepava demasiado
depressa para que a alcançassem. Passou por cima das pontas de ferro e, de
repente, escorregou.
Alice fechou os olhos e dela se apoderou um
medo espantoso que nem lhe permitia gritar. Fechou os olhos e elevou uma curta
oração a Deus: “Oh, Senhor, salva Júlia!”
De repente a multidão deixou escapar um grito, e Alice abriu os olhos.
Viu um homem bombeiro na parte superior da escada, e ali estava Júlia também.
Estava presa ao gradil, pois seu vestido se enroscava numa das pontas e o
bombeiro a estava tirando dessa posição perigosa.
Quando o bombeiro chegou em baixo, meia
dezena de mãos se ergueu para ajudá-lo. Júlia chorava, mas estava sã e salva! O
bombeiro dizia:
- A salvação foi às casas bem feitas do
vestido desta menina. Uma das casas se enganchou numa ponta, e se não fosse
forte... .
Uma casa forte! Alice havia caseado o
vestido de Júlia, e o fizera de maneira sólida e forte, pois lhe agradava fazer
qualquer espécie de costura.
Mas, que teria acontecido se ela não
gostasse de coser? Admitamos que ao fazer as casas, fosse essa uma das coisas
que lhe desagradasse fazer? A menina estremeceu ao pensar nisso. Tivesse ela
feito as casas descuidadamente e Júlia não estaria com vida agora.
Essa noite Alice enxugou os pratos para a
mamãe. Secou-os com muito cuidado e reflexão. Lembrava-se de todas as outras
coisas que havia feito com negligência, pouco
se lhe dando que saíssem bem ou não. Decidira que não mais seria
negligente. Havia aprendido que algumas vezes uma vida depende de haver uma
pessoa sido cuidadosa ou não.
35 - O SACRIFÍCIO SUPREMO
A triste e breve mensagem: “S. O. S”, “S.
O. S”, era despachada a intervalos regulares pelo rádio-telegrafista de certo
navio que, açoitado por furiosa tempestade, estava em iminente perigo de
afundar-se entre as ondas do Atlântico, depois de haver enfrentado por longas
horas um temporal violentíssimo.
O casco do navio se achava ainda intacto,
conquanto seus lúgubres e prolongados estalidos indicassem que em breve se
produziria uma brecha capaz de fazê-lo soçobrar
dentro de alguns minutos. Tal era o temor do capitão, e daí seus pedidos de socorro.
- Todos aos botes! Prover-se de salva-vidas!
Não há tempo a perder! Gritou de repente o primeiro piloto, subindo da casa das
máquinas. Haviam-se realizado o temor do comandante da nave, e esta começava a
adernar ligeiramente para bombordo, ante
o peso da água que entrava em torrentes por uma larga abertura.
As ordens imperiosas do piloto deram lugar,
na coberta, a um estado de confusão que parecia ir assumir proporções de
tragédia. Os passageiros lutavam braço a braço com a tripulação, para serem os
primeiros a chegar aos botes, que começavam
a ser desamarrados para estar prontos à primeira ordem de deitá-los na água.
O capitão, provido de poderosa buzina, e
secundado pelos dois pilotos, superou com sua voz os rugidos do mar e os
estridentes sibilos do vento em desencadeada fúria:
- Não
façam confusão! Há lugar para todos! Passem calmamente a ocupar seu lugar!
De repente, uma gigantesca onda, como a
desmentir o marinheiro, arrebatou dois dos botes salva-vidas que, meio
desamarrados, não puderam resistir ao furioso embate do oceano embravecido, e
se perderam em face da consternação de todos.
Era simplesmente impossível que o total dos
passageiros e tripulantes coubessem nos quatro que restavam! A perda era
irreparável!
- As mulheres e as crianças primeiro!
Exclamou a voz forte do capitão.
A ordem cumpriu-se imediatamente, e estas e
aquelas, assim como alguns anciãos, começaram a ocupar as pequenas embarcações em que se encontrava sua
derradeira esperança. Vários vigorosos marinheiros, escolhidos pelos pilotos,
tomaram os remos dos botes, que eram arreados um a um, repletos até ao máximo
de sua capacidade com os atemorizados viajantes.
A manobra realizava-se na maior ordem.
Faziam-se despedidas desoladoras entre os que ficavam a bordo, condenados a uma
morte inevitável, e os que lutariam com a tormenta nos frágeis botezinhos. Algumas senhoras
desmaiavam e eram carregadas em braços até os ditos botes. Os homens proviam-se
de salva-vidas, si bem que de pouco lhes pudesse servir, dada a violência da
agitação do mar. Restava apenas um bote por arrear.
- Um momento o bote número seis! Um
momento!
A ordem do segundo piloto fez com que se
detivesse a manobra, e o último barquinho permaneceu por uns instantes em seu
lugar.
- Duas mulheres mais! Há lugar para elas?
Continuou o marinheiro.
Após uma pausa, ouviu-se a voz do
encarregado da embarcação salva-vidas:
- Há lugar apenas para uma!
Venha
depressa!
E então foi testemunha uma cena que se
desenrolou em menos tempo do que é necessário para contá-la. Uma senhora de
seus quarenta anos, pálida e trêmula, mas com decisão inquebrantável e com a
suprema força emprestada pelo desespero, colocou no bote uma jovenzinha que,
incapaz de articular palavra, e meio desfalecida, caiu nos braços dos
passageiros, ficando o mesmo cheio a mais não poder.
- Tu, minha filha! Salva-te tu, minha
filha! Foi a única despedida que a pobre mãe pôde articular.
E antes que a mocinha houvesse reagido o
suficiente para responder a sua mãe, a ligeira navezinha se achava em meio da
espuma do oceano que rugia em redor, como reclamando as presas que lhe
escapavam... Uns segundos mais, e já se havia alongado do casco do navio, que
cada vez mais se inclinava para bombordo, afundando rapidamente.
Poucos minutos depois, um enorme redemoinho
assinalava o lugar da nave engolida pelo mar.
Consumara-se o sacrifício supremo de uma
mãe!
O nome do navio e data do acontecimento
baniram-se-me da memória; mas oxalá permaneça na tua, prezado leitor, este
exemplo do que é capaz de fazer uma mãe, movida pelo puríssimo amor que o
Eterno lhe gravou no coração.
Recorda também a ordem celestial: “Honra a
teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa”.
36 - OITO MINUTOS
Daniel se apoiou sobre o rastelo, e ficou
olhando para o montão de folhas secas que havia sobre a grama.
“Junte tudo, depois tire as folhas da grama e ponha fogo
nelas”, havia mandado o pai àquela manhã.
Tirar o lixo era muito trabalho. Por que
não podia queimar as folhas ali mesmo? “A grama está bem verde aqui, e não tem
vento”, pensou Daniel, “deve ser perfeitamente seguro queimar as folhas aqui”.
Além disso, havia uma caixa de fósforos no bolso de sua jaqueta, que ele tinha
deixado ali depois de acampar com os Desbravadores.
Ele riscou um fósforo e colocou dentro do
monte de folhas, mas não aconteceu nada. Acendeu um outro palito de fósforo e
cuidadosamente protegeu a chama com sua mão, enquanto se inclinava para pegar
um punhado de grama seca. Novamente o fósforo se apagou.
Então, Daniel se lembrou da lata de
combustível que estava no barracão. Lembrou que muitas vezes o pai o usava para
começar um fogo. Por alguma razão, ele não achava ser muito correto pegar o
óleo. Pensou que seu pai também não gostaria que fizesse aquilo, mas se lembrou
da ordem do pai para limpar e queimar as folhas, e esta era uma maneira mais
fácil. Além disso, o papai ficaria admirado quando visse que trabalho perfeito
ele havia feito.
A lata com o combustível estava exatamente
no lugar que ele imaginava. Daniel correu de volta, com a lata em sua mão.
Derramou uma quantidade generosa sobre a grama e sobre as folhas. Depois riscou
um novo palito de fósforo e colocou em cima do monte de folhas.
As chamas ascenderam e como que lamberam a
grama, as folhas e outro lixo que havia. Daniel juntou mais alguns galhos secos
do pomar, que o pai havia amontoado perto da cerca, depois de ter podado as
árvores. Daniel pensou que o pai ficaria muito contente ao ver que ele havia
limpado o pomar também.
Quando Daniel começou a voltar para onde
estava o fogo, quase, não podia
acreditar no que viu. Uma corrente de vento soprou de repente sobre a
pilha que estava queimando e uma faísca de fogo caiu sobre o pasto.
Daniel jogou o rastelo e correu para onde o
capim estava queimando. Tentou apagar o fogo, e quando parecia que tudo estava
sob controle, uma rajada de vento fez reviver as chamas. Elas começaram a
alcançar os galhos secos mais altos que
havia por perto. Atrás do pasto irrigado, havia um outro campo que não era
usado por algum tempo, e estava cheio de arbustos muito seco.
Se o fogo conseguisse alcançar aqueles
arbustos secos, estaria fora de controle. A casa do vizinho, do outro lado da
estrada, e as construções da fazenda, poderiam ser muito danificadas. Daniel
sabia que o fazendeiro e sua família estavam ausentes. Não havia ninguém para
ajudá-lo a acabar com o fogo.
Se ele pudesse fazer uma trincheira, talvez
pudesse controlar e fazer com que o fogo parasse. Correu para o outro lado e
começou a alimentar a chama. O fogo estava cada vez mais perto da trincheira de
terra que havia feito.
“Somente Deus pode me ajudar”, ele disse em
voz alta. “Por que não tirei para fora o lixo, ao invés de queimar sobre a
grama?” Então começou a orar e trabalhar mais do que nunca.
Subitamente ele parou de cavar e enxugou o
suor de sua testa. Como! Parecia que alguma coisa está empurrando o fogo de
volta!
“O vento mudou de direção!” Gritou Daniel.
“Obrigado, meu Deus, por me ajudar mesmo quando eu não merecia. Muito obrigado
por salvar a casa de meu vizinho”.
As chamas foram enfraquecendo ao redor da
parte já queimada e finalmente se apagaram. Não ficou nada sem queimar depois
que o vento mandou as chamas de volta.
Oito minutos não é um tempo muito grande,
mas foi tempo suficiente. Foi suficiente para o fogo parar e apagar-se
completamente, e para Daniel compreender como Deus tinha sido bondoso para com
ele, mesmo quando havia sido descuidado.
Novamente Daniel olhou para a casa do
vizinho e para as construções da fazenda. Depois, colocando as ferramentas no
ombro, andou por sobre o campo queimado observando bem para ver se não havia
vestígio de fogo. E uma vez após outra agradecia a Deus por ter respondido a
sua oração. Quando chegou em casa disse suavemente: “E pensar que Deus fez tudo
em oito minutos!”.
37 - OS CAMINHOS DO SENHOR
Ao longo de uma praia, na costa da
Inglaterra, entre as cidades de Norwich e Yarmouth, perambulava um pai
acompanhado de seu filhinho de quatro anos.
- Tenho fome, disse o menino.
- Cala-te, desgraçado, respondeu-lhe o pai.
- Sim, tenho fome e sinto dores, prosseguiu
o menino.
- Não te calas? Maroto! Acaso me é possível
arranjar-te pão aqui entre as pedras e areias da praia?
Um estremecimento correu todo o corpo do
menino, que nada mais disse, porque o pai lhe havia falado num tom desabrido e
rude e os seus olhos tinham um brilho estranho.
Caminharam os dois, mudos, um ao lado do
outro; o menino com a cabeça pendida sobre o peito a fim de ocultar ao pai as
lágrimas que estilavam os seus olhos. No coração do pai tumultuavam pensamentos
tenebrosos. Esforçava-se em vão por manter
o equilíbrio, pois, segundo o seu costume, estava embriagado, e vacilava
a cada passo que dava.
De repente o menino prorrompeu em altos
gritos; não tinha podido mais se conter; a violência que se fizera para
reprimir a dor só o havia aumentado. “Pão”! Exclamou o menino, “quero um pedaço
de pão!” O desnaturado pai, porém, acometido de um acesso de fúria e desespero,
pegou do menino e com toda a força de seu braço o arremessou ao mar,
retirando-se precipitado.
Por uma coincidência notável, a que o mundo
dá o nome de acaso, como se por uma palavra vazia de sentido se pudesse
explicar o que o cristão não duvida em considerar como providência divina, uma
tábua sobrenadava ao lado do menino, a que o infeliz pôde agarrar-se, sendo
logo movimento das ondas.
Não muito distante da praia fundeava um
vaso de guerra, de cujo bordo foi avistada a criança que, agarrada ao frágil
destroço, era impelida na direção do navio, em risco de ser despedaçada de
encontro ao mesmo. Acaso deixar-se-á perecer a criança?
Não
haverá ninguém que se disponha a salvá-la? Tais pensamentos apenas tinham tido
tempo de penetrar no espírito da marinhagem, quando um marinheiro já se havia
lançado ao mar, trazendo com risco de vida o menino para bordo, onde foi logo
por todos interrogados.
- Chamo-me Jacob, respondeu o menino, mas,
além disso, nada sabia adiantar que pudesse esclarecer a guarnição com respeito
à família a que pertencia. Resolveu-se, pois, conservá-lo a bordo, onde todos
lhe chamavam “o pobre Jacob”.
Como fosse de gênio pacífico e dócil e,
além disso, muito serviçal, não tardou em conquistar a simpatia de todos. Era
por todos considerado como um filho adotivo, constituindo para todos pontos de
honra não deixar faltar-lhe coisa alguma. Depois de muitos anos de estudos,
Jacob obteve colocação em um dos vasos de guerra como cirurgião da marinha
real. Da maneira mais conscienciosa preencheu as funções desse cargo durante a
longa guerra entre a Inglaterra e a França.
Uma ocasião, havendo o navio a que
pertencia, capturado uma pequena embarcação, foram trazidos para bordo diversos
feridos que se confiaram aos cuidados do cirurgião Jacob. Entre os feridos
havia também um homem já idoso, cujos ferimentos pareciam fatais. Não obstante,
o nosso consciencioso cirurgião lhe dedicou os mais desvelados cuidados. Todos
os seus esforços, porém, foram baldados.
Sentindo o ancião que a morte se
avizinhava, desejou dar ao cirurgião uma prova de sua gratidão, e
solicitando-lhe alguns momentos de atenção, falou-lhe nestes termos:
- O senhor tem usado para comigo de tanta
benevolência, que me sinto constrangido a entregar-lhe o único tesouro que
possuo neste mundo. E, entregando-lhe uma Bíblia, acrescentou: Uma senhora
crente fez-me presente deste livro que me abriu os olhos sobre a minha
miserável condição e me libertou das minhas paixões criminosas. Nesta Bíblia
achei o caminho da salvação, o perdão dos meus pecados por Cristo Jesus, a doce
paz do meu coração, que tanto tempo viveu torturado por indizíveis remorsos, e
a consolação nos dias do meu infortúnio.
Aqui o velho interrompeu-se. Um inditoso
segredo parecia pesar-lhe ainda sobre a alma, mas a vergonha de confessá-lo
travara-se de luta com a necessidade que tinha de desabafar o coração. Essa
luta, porém, durou apenas alguns instantes. Então começou a relatar com voz
pausada, mas grave, todas as desordens e impiedades de sua vida, referindo
entre outras como arremessara ao mar uma criança de quatro anos, seu próprio
filho, por lhe haver pedido de comer.
Ó Deus, seria isto possível? Exclamou o
jovem cirurgião, cujos movimentos e estupefação cresciam à medida que o velho
prosseguia a sua narração. Seria possível tornamo-nos a ver neste mundo?
Diga-me, continuou ele, segurando na mão do velho, em que parte da Inglaterra
sucedeu isto?
- Entre Norwich e Yarmouthm respondeu o
ancião, que não compreendia porque o jovem cirurgião se achava tão comovido ao
fazer-lhe tal pergunta.
- E quanto tempo há que sucedeu isto?
-
Há mais ou menos vinte e três anos,
respondeu o ancião.
- E não se chamava esse menino, Jacob? –
interrompeu o cirurgião, que mal se podia conter.
- Jacob! Sim, era esse o seu nome! Exclamou
o velho, com espanto crescente.
- Meu pai, abençoe o seu filho! – exclamou
o cirurgião, atirando-se de joelhos ante o leito do moribundo. – Abençoe o seu
filho! Foi Deus quem nos ajuntou de novo, quem quis pôr diante dos meus olhos o
exemplo de sua conversão, e de sua pia esperança.
Longo tempo o ancião conservou-se mudo; não
acreditava aos próprios olhos; pensava na possibilidade de um sonho a que havia
de seguir-se amargo desengano. Pouco a pouco, porém, foi reunindo suas idéias e
pediu ao jovem oficial que lhe relatasse os pormenores que ainda lhe lembravam.
Finalmente estava convencido de que era de fato seu filho a quem tinha diante
de si e lágrimas de alegria inundaram-lhe as faces, sobre que pairavam já as sombras
da morte: e, como Simeão, exclamou: “Agora, Senhor, despedes em paz o Teu
servo”.
Faleceu ainda nesse mesmo dia, nos braços
de seu filho, rendendo graças a Deus.
Esta coincidência tão inesperada e tão
admirável fez tal impressão sobre o jovem cirurgião, que ele logo depois
resignou o seu posto na marinha, para dedicar-se à pregação da Palavra de Deus.
E sucedeu que, havendo um servo do
Evangelho relatado essa história em uma reunião religiosa, ele se dirigiu ao
dirigente e disse: “Eu sou aquele pobre Jacob”.
38 - PERDÃO
- Quero
tanto que papai chegue! Disse Ricardo, muito triste e aflito.
- Seu pai
vai ficar zangado com você, respondeu a tia, que se achava na sala, fazendo
tricô.
Ricardo,
levantando-se do sofá, onde estivera
chorando havia meia hora, disse,
indignado, a sua tia: Ficará triste; não zangado. Meu pai nunca fica
zangado.
Ouviram que
alguém estava chegando. – Oh! Felizmente é ele que chega! Exclamou o menino,
correndo em direção à porta, para encontrá-lo, mas voltou, muito desapontado,
dizendo: - Não era ele. Não sei porque está demorando tanto! Quero que volte
depressa!
- Parece que
você está com desejo de ser castigado, disse-lhe a tia, que estava de visita,
havia uma semana, e não era uma senhora amável, nem tinha muita simpatia pelas
crianças.
- Creio que
gostaria de me ver apanhar, porém garanto que não terá esse prazer, retrucou
Ricardo.
- Confesso
que um pouco de disciplina não lhe faria mal. Se você fosse meu, poderia ter
certeza de que não escaparia, tornou a tia.
- Mas,
felizmente não sou seu, nem quero ser. Meu pai é bom e me quer bem, afirmou o
menino.
Ouviram-se
passos, novamente, para os lados da porta, e o menino disse: - Tomara que desta
vez seja ele mesmo! E, correndo, foi abrir a porta.
- Olá, como
vai, meu filhinho? Ora, que é que tens? Está triste? Que foi que aconteceu?
Interrogou o pai.
- Venha
comigo, papai, disse-lhe Ricardo,
puxando-o pela mão, para o escritório. O Sr. Gonçalves assentou-se e
colocando o menino sobre os joelhos, perguntou: Que é que tem, meu filho? Que
aconteceu? Pode contar a papai, sem
receio.
Os olhos do
menino se encheram de lágrimas, enquanto procurava falar, mas não pôde por causa
de um nó na garganta. Desceu, abriu um armário e trouxe os pedaços de uma
estatueta quebrada e os pôs diante de seu pai. A peça fora comprada no dia
anterior e, sendo uma obra de arte, custara muito.
- Quem fez
isto? Perguntou o pai, surpreendido.
- Fui eu,
papai.
- Como?
- Oh! Papai
esqueci-me e joguei a bola aqui dentro de casa. Joguei-a uma só vez, mas
quebrei a estatueta. Estou tão triste por ter feito isto, papai! E, dizendo
isso, o menino desatou a chorar.
O Sr.
Gonçalves ficou pensando alguns momentos e depois disse:
- Pois bem,
Ricardo, não podemos desfazer o que já está feito. Você confessou, e está
perdoado. Guarda os cacos. É claro que já sofreu bastante. Não é preciso que eu
diga mais nada. Julgo que o seu castigo já foi suficiente e que aprendeu uma
boa lição.
- Oh! Papai,
como o senhor é bom! Pode ter a certeza de que, daqui por diante, farei todo o
esforço para lhe obedecer. Como gosto de meu paizinho! É o melhor do mundo!
Exclamou o menino, dando um forte abraço no pai.
Os dois
foram, então, para a sala, onde estava a titia. Esta, vendo-os, disse: - Que
menino feio é o Ricardo! Merece ser severamente castigado pelo que fez. O
menino precisa aprender que não se brinca dentro de casa com bola. Certamente
que ele vai pagar bem caro pela sua arte!
- Já
ajustamos contas, Julieta. Uma das regras desta casa é: sair das trevas e
entrar na luz, o mais cedo possível, explicou o pai, amavelmente, à irmã que,
no íntimo, era boa e somente um pouco severa.
Julieta,
surpreendida, ficou quieta. Refletindo sobre o incidente e concluiu que ambos
tinham razão, e que era, mesmo, muito melhor sair das trevas do rancor e
permanecer na luz do amor e da harmonia.
39 - PERDIDOS
A senhora
Barbosa estava muito admirada. ...
Mais alguns
longos minutos se passaram e então Lauro falou:
- Não
estamos adiantando caminho, mamãe. Estamos perdidos. Aqui está o velho tronco
de novo. Com esta são três vezes que passamos por aqui. Estamos fazendo
círculos. Eu não quis dizer isso antes porque não queria atemorizá-la. Mas
creio que precisamos parar.
- Eu sabia
que estávamos perdidos, disse Janete. Notei que havíamos passado por aqui, por
este velho tronco, já duas vezes. Que caminho tomará agora?
- Sim, eu
estava certa de que estávamos perdidos, mas julgava que pudéssemos atravessar
este capão se continuássemos, retrucou a Sra. Barbosa. Estou muito preocupada!
- Mamãe,
aventurou Lauro, com expressões de esperança. A senhora se recorda da história
que nos contou na semana passada, do missionário que estava perdido e orou a
Deus pedindo que o ajudasse a encontrar o caminho? A senhora contou que ele
assim que acabou de orar começou a andar e encontrou o caminho. Deus o ajudou.
Vamos orar nós também?
E assim os
três se ajoelharam e cada um fez uma curta oração, pedindo a Deus que os
ajudasse a achar o caminho.
Acabaram de
orar e já era escuro. Lauro segurou a mão da mãe e a da irmãzinha e começaram a
andar, por entre os arbustos e macegas daquele capão escuro.
Não haviam
andado muito quando Lauro exclamou, cheio de satisfação:
- Olhem lá
uma luz!
- Mas não é
nenhuma casa, respondeu a mãe, pois não há moradores aqui por perto. Deve ser
alguém, andando. Vamos ver se o alcançamos.
- A lanterna
está balançando e não sai do lugar. Vamos ligeiro até ela, disse Lauro.
Quando
chegaram bem perto da luz puderam observar que se tratava de três homens que
estavam de passagem. Haviam parado ao ouvir vozes.
- Podem
dizer-nos onde estamos? Perguntou a Sra. Barbosa.
Os homens
explicaram onde se encontravam e ofereceram-se para guiá-los até a estrada.
Quando chegaram ao caminho reconheceram-no e rumaram para casa. Andaram um
pouco mais no escuro e logo avistaram a luz de casa.
- Espero
que vovô tenha deixado alguma comida quente para nós, disse Janete, que sentia
bastante fome, agora que passara todo o temor.
- É mesmo,
pois estou até fraco de fome, respondeu Lauro.
- Para mim, o melhor é poder ver nossa
casinha já bem perto, falou a Sra. Barbosa.
- Estivemos
perdidos, vovô, disse Janete assim que entrou em casa.
- Eu estava
mesmo imaginando, respondeu o avô. E continuou: vocês devem ter ficado até
muito tarde na roça!
- É
verdade, concordou a Sra. Barbosa.
- Mas,
vovô, nós oramos e Deus nos ajudou a achar caminho. Não foi bom termos
orado? Perguntou Janete.
- Orar é
sempre uma boa coisa, queridinha. Deus sempre nos mostra o caminho de casa. E
não somente o caminho desta casa, mas o caminho do lar celestial, respondeu o
avô, em tom amorável de voz grave, ao mesmo tempo em que punha sobre a mesa o
alimento quentinho e cheiroso.
40 - PERSEGUIDO POR UM LEOPARDO
Tinha Tomás treze anos de idade, e
freqüentava uma escola da missão localizada no sopé dos montes Himalaia, ao
norte da Índia. Era inverno, e havia neve por toda parte, cobrindo florestas,
campos e veredas com grosso lençol branco.
Uma tarde, depois da reunião na capela da
missão, pediram a Tomás que acompanhasse uma senhora idosa que voltava ao lar,
cuidando de que chegasse sã e salva ao destino. Isto significava uma caminhada
de cinco quilômetros através da neve. Parecia longa a jornada, pois
naturalmente a idosa senhora não podia andar muito depressa. Finalmente,
contudo, os dois chegaram seguros à casa da anciã, e Tomás voltou para a
escola.
Então começou a notar que já era bem tarde.
O sol estava preste a se esconder, e logo escurecia. De repente lembrou-se dos
leopardos da neve e começou a correr. Se havia uma coisa que desejava evitar,
era encontrar-se com um destes animais selvagens depois do escurecer.
Diferente do leopardo comum, de pêlo pardo
e manchas pretas, o leopardo da neve tem pêlo acinzentado e manchas
vermelho-pardas. É fera horripilante e difícil de ver contra a neve, sendo
perigosa quando faminta ou molestada. No inverno, descem dos planaltos,
procurando alimento até nos lugares povoados. Seus rastos sempre eram vistos na
floresta que ficava perto da missão, e que agora estava entre Tomás e a casa.
De modo que correu, mas não tão depressa
como gostaria. Dentro de pouco tempo escureceu por completo. Entrou na
floresta. Decorridos poucos minutos percebeu que era seguido. Voltando-se, viu
um par de olhos fitos nele, brilhando na escuridão. Era um leopardo da neve.
Ousadamente marchou para o animal, que
se desviou do caminho.
Aí foi que Tomás começou a orar como nunca
dantes. Orava, enquanto corria. Então viu novamente os olhos. Tomás correu
novamente até pressentir que o leopardo estava mais perto. Parou; fitou-o
nos olhos e correu novamente. Durante
todo o tempo estava orando por auxílio.
O leopardo da neve estava agora bem perto.
...
Justamente aí chegou a uma encruzilhada no
caminho. Um trilho desviava-se para a esquerda; o outro, através de um trilho
bem íngreme, levava à porta dos fundos da escola da missão. Qual seguiria, com
o leopardo tão perto de si?
Nesse momento alguma coisa atravessou o
trilho correndo, bem na sua frente. Parecia-lhe ser um homem, mas na escuridão
da mata não podia dizer quem ou o que era. Mas pensou que isso confundiria o
leopardo, e que ele perderia a pista. E tinha razão.
Quando o estranho passou para um lado, ele
seguiu para o outro, subindo a toda o curto atalho em busca de segurança.
Encontrei-me com Tomás um dia destes.
Disse-me ele que, apesar de se terem passado vinte e cinco anos desde aquela
terrível noite, nunca deixou de agradecer a Deus por livrá-lo do leopardo da
neve.
41 - “POSSO FAZER QUALQUE R COISA”
Ao iniciarem Tomaz e Jorge
seus estudos universitários, fizeram-no com o objetivo de alcançar não só um
título, mas também o preparo necessário para se destacarem na vida como
profissionais. Os anos passados nas aulas da Faculdade de Direito foram de
árduo estudo, e às vezes se lhes afiguraram intermináveis, mas chegaram ao fim
como todas as coisas desta vida.
Ao receber o diploma, verificaram que as
condições econômicas, em geral, haviam-se
modificado muito desde o momento em que iniciaram sua carreira, aguda
crise abalava o mundo, e não lhes foi possível instalar-se como advogados. Que
fazer nessas circunstâncias? Ambos eram jovens resolutos, pelo que não se
intimidaram. Resolveram procurar emprego, embora não fosse no desempenho de sua
profissão.
No porto em que viviam, estava instalado um
grande estaleiro. Em suas oficinas e escritórios trabalhavam vários milhares de
empregados, pelo que decidiram solicitar trabalho ao gerente dessa poderosa
instituição.
Tomaz foi o primeiro a apresentar-se com
seu flamante título em baixo do braço.
- Em que pode ocupar-se? Perguntou-lhe
cortesmente o diretor da empresa, depois de lançar um olhar ao diploma do
solicitante.
- Como o senhor compreenderá, não posso
submeter-me a ser simples empregado. De acordo com meus conhecimentos, solicito
um cargo de certa responsabilidade, com remuneração equivalente.
- Muito bem, jovem. Deixe-me seu endereço e, quando se
apresentar à oportunidade em que haja uma vaga para um cargo de
“responsabilidade”, pensaremos no senhor, respondeu-lhe o gerente, com certa
ironia.
Claro está que essa oportunidade nunca
chegou.
- Que é capaz de fazer, jovem? Interrogou-o
gerente que se advertira da capacidade intelectual de Jorge ,
por suas palavras de introdução.
- Posso fazer qualquer coisa, senhor. Para
começar, satisfar-me-ia qualquer ocupação.
O diretor tocou uma campainha.
- Tem alguma vaga para este jovem?
Perguntou, segundos depois, ao chefe de uma seção do estaleiro, que se
apresentou ao seu chamado.
- Sim, precisamente, necessitamos de alguém
que se encarregue da limpeza do departamento das máquinas.
E o formado da universidade começou essa
humilde tarefa no dia seguinte.
Depois de três meses, o gerente chamou o
chefe da seção em que Jorge
trabalhava.
- Como vai Jorge ?
Perguntou-lhe.
- Muito bem. Demonstra tal dedicação ao
trabalho, que o departamento de máquinas está sempre reluzindo. Parece incrível
que um advogado tenha tão boa vontade para trabalho tão humilde.
O Sr. Silveira, tal era o nome do diretor
do estabelecimento, sorriu enigmaticamente e limitou-se a dizer:
- Está bem, pode retirar-se.
Outros três meses se passaram e, depois de
ter pedido algumas informações quanto à conduta do jovem advogado, mandou-o
chamar ao escritório.
- Nesta empresa, principiou, temos por norma
experimentar por seis meses os novos empregados. Durante esse tempo,
pagamos-lhes o ordenado fixo de Cr$ 300,00 mensais, importância essa que o
senhor tem recebido até agora. Mas isso
não é o mais importante, prosseguiu. O
que nos interessa principalmente, nesse período, é a conduta, a fidelidade e
dedicação ao trabalho do que se acha à prova. Ora, como a esse comportamento se
unem ainda suas aptidões intelectuais, seus conhecimentos gerais e preparo
universitário... Uma tossezinha
interrompeu as palavras do gerente. Mudando de assunto, dir-lhe-ei que
meu secretário particular foi ocupar um posto de maior responsabilidade no
estrangeiro e preciso de alguém que tome esse importante lugar. Que o senhor,
Dr. Jorge – e o diretor fez
ressaltar o título – considerar a possibilidade de ser seu sucessor? De minha
parte estou convencido de que o senhor é a pessoa mais indicada. Informo-lhe
ainda que os vencimentos são de Cr$ 3.500,00 mensais.
O doutor, que momentos antes estivera a
trabalhar de escova na mão, não respondeu imediatamente. Oprimia-o profunda
emoção. Por fim, com uma voz que ele mesmo estranhou, respondeu:
- Agradecido, Sr. Silveira, que outra coisa
poderia desejar?
Ao cabo de cinco anos, era Jorge o braço direito da empresa. E, ao passo que
ocupava um cargo de muito maior responsabilidade que o de secretário particular
do gerente e que seu ordenado se escrevia com várias cifras... Seu companheiro
Tomaz escondera o título no fundo de um velho baú, onde guardava muitos
“trastes” inúteis e, premido pela crise, lavava automóveis numa garage.
Vale a pena dizer: “Posso fazer qualquer
coisa...”. E fazê-la.
42 - PREPARADO PARA A VOLTA DE JESUS
Tinha sido um sábado muito feliz para a
família Smith. Eles tinham acampado num parque muito bonito e tinham se
maravilhado observando todas as coisas criadas por Deus. O esquilo malhado era
novidade para a família. Estevão estava andando bem perto do esquilo antes que
ele se escondesse em seu buraco. Chorando, Estevão correu para a mamãe:
- Eu
só queria fazer um carinho nele, queria pegá-lo no colo. Eu não ia machucá-lo.
- Estêvão, o esquilo está com medo de você.
E também não é uma boa idéia pegar qualquer animal, porque o animal pode
mordê-lo e fazer com que você fique
doente – respondeu a mãe.
Estêvão caminhou de volta até o buraco do
esquilo e olhou.
- Mãe, por que ele morde? Por que ele fica
com medo?
A mamãe pensou um pouco antes de responder.
- Bem, querido, esta é uma das coisas que
aconteceram quando o pecado entrou neste mundo. Não será maravilhoso quando
chegarmos ao Céu e pudermos pegar os animais? Eles não terão medo; não irão
fugir e também não irão morder ou atacar como agora.
Depois de descansarem um pouco, a família
queria ir a um lugar especial para ver o pôr-do-sol. O papai disse:
- Vamos subir até o topo do Monte
Sentinela. Poderemos ver uma porção de coisas novas, mesmo no caminho até lá, e
não será muito difícil para Karen e Estevão. O pôr-do-sol será colorido lá em
cima.
Karen e Estevão ficaram encantados com a
idéia, e começaram a pular de alegria.
Assim que começaram a subir a montanha, o
cheiro dos pinheiros enchia o caminho. A caminhada através da fresca floresta
foi um tempo feliz quando observaram bem de perto um inseto em uma flor. Depois
que deixaram as árvores para trás e começaram a subir por cima das pedras,
puderam ver todos os campos e vales.
Foi então que a mamãe perguntou:
- Estevão e Karen, vocês sabiam que o Céu
vai ser muito mais bonito que qualquer destas coisas? Sabiam que será muito
mais bonito do que possam imaginar?
- Quando Jesus vai voltar? Quando poderemos
ir para o Céu? Haverá veadinhos lá no Céu?
Poderemos
ver quando passeiam? Vou poder agradar um veadinho? – perguntou Estevão.
Calmamente a mamãe começou a responder:
- Jesus vai voltar depois que cada pessoa
deste mundo tenha tido a oportunidade de
ouvir sobre Ele. Devemos estar preparados e contar aos outros sobre Jesus, como
Ele os ama e quer que estejam no Céu também. Estou segura de que vai haver
veadinhos lá no Céu, e você vai poder acariciá-los lá. Não sei se vamos ver
algum veadinho hoje. Precisaremos observar e esperar, mas se conseguirmos ver
um, não poderemos chegar perto deles. Eles, provavelmente correriam para longe
se tentássemos.
Lá no topo do Cume Sentinela, eles
observaram as brilhantes cores do pôr-do-sol, e logo viram a Lua nascer
cor-de-rosa. Quando começaram a descer, já estava um pouco escuro. De repente
ouviram um ruído num arbusto ali perto. Todos pararam muito calmos e ficaram
bem silenciosos. Estavam escutando. Seria um coelho? Ou será que era um urso? O
papai focou a lanterna em direção do som. Justamente ao lado do caminho estava
parado um veadinho. Ele olhou para todos por um minuto e depois desapareceu no
escuro da noite.
- Mãe – sussurrou Estevão – eu vi um
veadinho hoje. Eu quero ir para o Céu.
- Eu também – respondeu a mãe bem baixinho.
– Vamos fazer a vontade de Jesus e falar DELE cada dia para que possamos estar
preparados.
Quais são alguns dos motivos pelos quais
vocês querem ir para o Céu com Jesus?
43 - SABES MANDAR?
Maurício estava completamente entregue ao
brinquedo, no pátio, quando a mãe o advertiu:
- Brincaste bastante por hoje, filho.
Pensa em fazer os trabalhos que ainda não acabaste.
Aparentemente contrariado, Maurício, que
estava por fazer entrar a sua pedra no “céu”, entrou em casa, resmungando.
Certamente lhe ouviram pronunciar alguma amarga reflexão acerca dessa cruel
necessidade de “sempre obedecer”.
- Como quisera ser grande, para fazer
minhas quatro vontades!
Contudo, exprimiu esse desejo de maneira
bastante discreta. Papai, porém, tem o ouvido bem apurado e nada lhe escapa; de
maneira que deteve o homenzinho ao passar.
- Tua mãe acaba de dizer-te que deves
terminar os teus deveres escolares. Quando estiverem acabados, vem ver-me:
tenho alguma coisa para mostrar-te.
A voz do pai não era de ralho. Além disso,
não costumava mostrar-se ríspido. É de gênio bom e afável, e, se chega a
moralizar, fá-lo de maneira tão agradável, tão interessante, que torna
aprazível e proveitoso ser por ele admoestado.
Maurício apressou, pois, a terminação dos
deveres e foi, com a confiança dum rapazinho sem medo nem culpa, apresentar-se
diante do pai.
- Que quer o Senhor dizer-me, papai?
- Isto, filho: Sabes mandar?
- Mas, exclamou Maurício, estupefato, nunca
tenho de mandar; só se exige de mim obediência.
- Que engano! Tu mandas, meu amigo, e todos
os dias, a um bom número de serviçais.
A
mais ou menos nove.
- O senhor está brincando comigo, papai!
- De maneira nenhuma. Como me permitiria
tal coisa? Convencer-te-ás rapidamente desta verdade. Examinemos juntos esses
servidores. Vejo dois neste momento, que me olham fixamente, com ar bastante
assombrado.
- Meus olhos! São meus olhos, mas eu nunca
tinha pensado nisso!
- Que fossem teus servidores? Entretanto,
quantos bons serviços te prestam! Obedecem tão somente à tua vontade. Vêem o
que lhes ordenas ver. Graças a eles desfrutas da luz, das delícias da natureza,
do sorriso de teus pais, e nem sei
quantas outras coisas mais. Se queres ler, decifram para ti os caracteres de
imprensa. Enfim, são dois maravilhosos auxiliares, dóceis e atentos. Mas,
existem também outros. Vejo outros dois, igualmente amáveis. Por meio deles
vais e vens, corres, saltas, brincas com a bola, etc. Penso que não precisarei
mencioná-los.
- Minhas pernas! – exclamou Maurício, muito
divertido com essa aventura de descobrimento. – Logo chegará também a vez dos braços.
-
Exatamente; eles também merecem
toda a nossa atenção. Como farias sem eles, para lavar-te, alimentar-te,
trabalhar, brincar? Façamos uma breve recapitulação: Dois olhos, duas pernas,
dois braços; são, pois, seis escravos
sujeitos à tua pessoa. Não te custará descobrir os outros. Um deles é a língua
precioso instrumento pelo qual podes comunicar teu pensamento à tua família e
aos que te rodeiam, falar, assobiar, cantar, etc. E, finalmente, esses pequenos
aparelhos acústicos que ornam os lados de tua cabeça; eles percebem os sons, a voz dos que vivem perto de ti,
permitem também que gozes a música da harmonia da natureza. E pretendias ter de
só “obedecer”, com tão numeroso pessoal sob as tuas ordens! Estarás convencido
do contrário? Mandas, meu filho. Eis, pois, a explicação de minha pergunta de
há pouco: Sabes mandar?
- Mas, disse Maurício, que quer o senhor
dizer com isso, papai?
- Isto, meu filho: Esses servidores fiéis,
amáveis, que são os teus membros e sentidos, podes empregar para o bem ou para
mal. Podem, segundo a tua vontade, ser úteis ou prejudiciais à tua vida moral.
“Com o mesmo braço, por exemplo, podes
retirar do pântano uma pessoa que nele caiu, ou atirar uma pedra que cegue um
companheiro. Com as mesmas pernas, podes ir buscar auxílio para um ferido, ou
seguir maus companheiros em suas malandragens. Com os mesmos lábios, a mesma
boca, podes louvar a Deus ou proferir
odiosas mentiras.
“Trata-se, pois, para ti, meu amigo, de
saber mandar com inteligência, discernimento e energia, as faculdades do teu
ser. Esse domínio próprio, temos continuamente de exercer também, nós, os
“grandes”. Mandar-se a si mesmo é, às vezes, mais difícil que obedecer ao mando
duma mãe que nos faz pensar nos trabalhos que estão por acabar”.
Com essa conclusão, qualquer outro teria
baixado a cabeça, mas Maurício ergueu-a, olhar firme, luminoso, armado de nova
resolução.
- Procurai mandar bem e ser como o senhor,
papai.
- Façamos o melhor, meu filho, e também,
sejamos orgulhosos desta gloriosa liberdade de ação, pois se ela pode
causar-nos a miséria, pode também criar nossa grandeza.
44 -
AS SEMENTES DE ABÓBORA REVELAM UM SEGREDO
Acaso já alguma vez trabalharam vocês
quando desejavam brincar? Se assim foi hão de imaginar o que sentiu o menino
desta história ao ter que ficar em casa e trabalhar na roça enquanto os
companheiros iam nadar.
O pai de Eduardo era fazendeiro nos
primitivos tempos. Naquela época de desbravadores, a maior parte da terra
achava-se coberta de florestas, e não tinha fim o trabalho por fazer. Havia nas
matas animais selvagens que penetravam de quando em quando nas plantações em
crescimento. As raposas e gambás comiam
os frangos e perus. Estando pronto o trabalho regular da fazenda, havia sempre
mais terras para limpar. Isso queria dizer derribada de grandes árvores e
arrancamento de enormes tocos. E depois, também, Eduardo era o único rapaz da
família.
Certa manhã, na estação própria, disse o pai
ao filho:
- Eduardo, quero que você leve algumas sementes
de abóbora à roça, e as plante numa carreira de milho sim, e noutra não. Quando
as tiver plantado todas, pode ir nadar.
Era fácil compreender, pela fisionomia de
Eduardo, que ele não estava contente. Era feriado, e os meninos da vizinhança,
que residiam alguns quilômetros de distância, iam nadar no rio, mas ele tinha
de passar a manhã plantando aboboreiras. Fizera esse trabalho noutros anos, e
sabia que se pusesse apenas três ou quatro sementes em cada cova, levar-lhe-ia
a manhã inteira para plantar a roça
toda.
Parecia-lhe, enquanto trabalhava, que a roça
crescera muito desde a última vez que a plantara, um ano antes. E ia abaixo e
acima nas longas filas, sentindo-se cada vez
mais mal. Estava tão aborrecido que sequer ouvia o cântico dos pássaros,
conquanto em geral procurasse responder aos seus trinados.
Ouviu então um convite que o fez ferver
interiormente, eram os rapazes vizinhos, de caminho para o rio.
- Tem de trabalhar, hein, Edu? Nós vamos
nadar. Você não deveria trabalhar nos feriados. Poderá vir à tarde?
Isso foi demais para Eduardo.
- Esperem um minuto, exclamou ele. Eu vou
agora.
O vento soprava na direção contrária, e os
rapazes não ouviram Eduardo dizer que ia nadar também. De modo que não viram o
frenesi com que cavou junto à grande pilha de galhos, próximo ao mato. Eduardo
estava ofegante ao chegar junto aos seus companheiros.
- Mas você não tinha de trabalhar esta
manhã? Perguntaram. Já plantou todo o campo?
- Sim, já plantei todas as sementes, disse
Eduardo, pondo-se a assobiar uma canção. Como se havia mudado a expressão de
sua fisionomia! Desaparecera-lhe a carranca, mas fosse como fosse, não tinha ar
muito natural, embora procurasse agir como quem se sente feliz.
- Não conseguiu por certo plantar já todas
aquelas sementes, não foi? Indagou o outro rapaz. Sim, cada semente está na terra. Mas
se entendo de sementes, aposto que não muitas delas vão vingar, pois não me
parecem em muito bom estado, talvez este não seja um ano bom para abóboras.
Nadando com os rapazes, a manhã passou
rápido para Eduardo; depois vestiu-se e apressou-se em voltar pelo campo,
chegando a casa, de enxada ao ombro, à hora do almoço.
A primeira coisa que o pai perguntou:
- Então, filho, você plantou todas as
sementes?
- Sim, papai, cada semente está na terra.
Mas não me parecem muito boas. Duvido que vão nascer todas.
Pensava ele que esta declaração haveria de
preparar o pai para a surpresa, quando nenhuma aboboreira brotasse em grande
parte do campo.
Mas eram boas as sementes, e nascerão bem.
Nas leiras em que Eduardo as plantou não falhou um só pé. Mas em muitas das
filas de milho não havia nenhum pé de abóbora. Estava bem evidente onde ele
havia parado de plantar naquela manhã, quando os rapazes passaram.
E o lugar onde enterrara o resto das
sementes, próximo a pilha de galhos, junto à mata, não se podia ocultar. Ele
pensava que as tinha enterrado tão fundo que elas nunca haveriam de brotar. E
que o pai pensaria que estivesse plantado o campo todo. Mas junto à velha pilha
vieram a crescer centenas de aboboreiras, e, conquanto estivessem tão juntas
que algumas morreram, uma porção delas vingou, mas treparam sobre a pilha, e no
verão pareciam como um manto verde salpicado de amarelo.
Eduardo não escondera seu mal feito. As
sementes de abóbora revelaram-lhe o segredo. Toda vez que olhava na direção do
milharal sentia-se condenado. E uma porção de vezes, quando o pai se dirigia
para ali, Eduardo notava-lhe no rosto uma expressão de tristeza. Ele não
repreendeu o rapaz, nem disse coisa alguma a respeito das abóboras.
Um dia, sentindo-se Eduardo com a
consciência perturbada acerca desse negócio, procurou o pai dizendo a verdade
quanto a não haver aboboreiras naquela parte do campo.
- Fui nadar aquela manhã, papai, enterrei a
maior parte das sementes à pilha de galhos, no fundo do campo.
- Sei, tudo respondeu-lhe o pai.
- Mas, quem lhe contou, papai? Indagou-lhe
o menino.
- Olhe só para o monte de galhos, filho, e
há de ver como o seu segredo foi descoberto. Mas não falemos mais nisso. Estou
certo de que você aprendeu a lição, e sei que daqui em diante posso confiar em
que meu filho será fiel e honesto. Você aprendeu, filho, que não é possível
encobrir as más ações.
45 - SILKY, A URSA VEGETARIANA
Silki era a mais bonita, e a mais mimosa
bolinha de pele preta que já tinha brincado e dado cambalhotas, na gruta dos
ursos, no Zoológico da cidade. Tinha uma irmã gêmea chamada Cetim. E como se
divertiam correndo em volta e brincando o dia inteiro! Silky tinha olhos
pretos, brilhantes, que olhavam de uma maneira tão amistosa, que você teria a
impressão de que se ela pudesse falar nossa linguagem diria: “Entre aqui em
nossa gruta para se divertir! Não vamos machucá-lo!” Mas, naturalmente, nunca
entrou ninguém, porque as pessoas sempre pensam que os ursos são ferozes.
Um dia o Sr. Ferreira veio visitar o
Zoológico. Ele gostava muito de animais e sempre os tratava com bondade e
gentilmente. Ele havia tido muitos animais de
estimação em sua casa, e esses animais gostavam muito dele porque sempre
os tratava com muito amor e bondade. Quando
o Sr. Ferreira viu Silky e Cetim, pensou consigo mesmo: Oh! Como eu
gostaria de ter um ursinho assim como Silky! Vou pesquisar para saber onde
posso encontrar um filhote assim “. Saiu dali e foi procurar o zelador do
zoológico, pensando que, talvez, ele pudesse indicar alguma pessoa que lhe
vendesse um filhote de urso”.
Bem depressa o Sr. Ferreira encontrou o
zelador colocando feno na casa dos elefantes. Quando saiu dali, o Sr. Ferreira
caminhou até ele, dizendo: “Como são lindos os ursinhos que você tem na gruta
dos ursos! Você não saberia me dizer onde posso encontrar uma pessoa que venda
um filhotinho de urso como aqueles?”.
Os
olhos do zelador brilharam enquanto se virava para colocar de lado o garfo do
feno, antes de responder a pergunta do Sr. Ferreira. “Ora, você pode comprar um
aqui mesmo. Nós encomendamos um casal de filhotes de urso – queríamos um macho
e uma fêmea. Mas acontece que os dois filhotes, que nos mandaram, são fêmeas e
precisaremos comprar um filhote macho, para tomar o lugar de uma das fêmeas. E
assim o senhor pode escolher entre Silky e Cetim, e levar para sua casa a que
quiser”.
Não demorou muito tempo para que os Sr.
Ferreira escolhesse o filhote que queria. Ele havia se encantado com Silky, e
por isto escolheu aquele filhote e o levou para sua casa.
A primeira coisa que precisava fazer era
construir uma jaula, ou um cercado para ela. Construir uma jaula para urso não
é um trabalho pequeno. E mesmo antes que a jaula estivesse terminada, as
pessoas já vinham de todas as partes para ver Silky.
A princípio, Silky se sentiu muito
solitária longe se sua irmã Cetim. As duas nunca tinham ficado separadas antes.
De noite Silky chorava muito. Quando ouvia seu choro, o Sr. Ferreira levantava
e ia consolar Silky. Em certas noites tinha de levantar três ou mais vezes, mas
ele não se importava, e ficava satisfeito por ser capaz de fazer com que ela se
sentisse melhor e voltasse a dormir novamente.
Uma coisa estranha com este filhote era que
não gostava de leite, mas gostava de sorvete, mel, grama, alface, cenoura,
maçãs, e outras coisas parecidas, mas nunca tocava em carne e nem peixe. Silky
era o que chamamos de “vegetariana”, porque não comia carne e nem peixe.
Silky tinha o mais lindo conjunto de dentes
e garras afiadas, mas nunca tentava morder ou arranhar. Ela gostava de
perseguir seu dono ao redor do quintal, mas nunca ficava nervosa nem mal-humorada.
Quando o Sr. Ferreira tinha que viajar,
Silky sempre queria ir junto. Certa vez ele a levou em um passeio com alguns
meninos e meninas, e como ela gostou de brincar com as crianças! Ela corria em
círculos ao redor de todos eles, parecia nunca se cansar. Enquanto o Sr.
Ferreira dirigia o carro, Silky colocava sua cabeça do lado de fora da janela
para poder observar tudo que estava acontecendo. Muitas vezes, o Sr. Ferreira
saía para o campo com Silky e faziam excursões pela mata. Silky gostava muito
de trepar nas árvores, nestas excursões subia em praticamente todas as árvores
que encontrava ao longo do caminho.
Uma vez, depois de terem dado um longo
passeio, chegaram a uma estrada de ferro. O Sr. Ferreira decidiu seguir a estrada. Mas Silky parecia pensar que
estavam indo por um caminho errado, e o Sr. Ferreira teve muito trabalho para
conseguir que ela o seguisse, pois pulava e puxava a sua corrente. Finalmente
saíram da estrada de ferro, e chegaram no fim da rua onde moravam. Então Silky,
praticamente, arrastou o Sr. Ferreira em direção da casa. Desde aquela vez, ele
não conseguiu mais que Silky saísse do
quintal. Tentou puxar e empurrá-la para fora, mas ela não se movia. É quase
impossível fazer com que um urso de 200 quilos vá a algum lugar contra a sua
vontade! Parece que Silky estava muito satisfeita em casa e não queria dar
outra oportunidade de se sentir perdida.
Silky agora está com mais de seis anos de
idade. Continua sendo tão amorosa como quando era apenas um filhote. Algumas
vezes seu dono manda que ela sente em seu colo, e podem acreditar, realmente é
um peso pesado! Ela gosta de sentar ao lado dele com sua pata ao redor de seu
ombro: e sempre que ele se deita de bruços sobre a grama, no quintal, ela se
deita em suas costas. Mas isto terá que parar – está muito pesado! Silky também
gosta muito de lutar com o Sr. Ferreira, e
sempre o deixa vencer. Ela teria
muito mais força para vencer se quisesse, mas Silky é realmente muito
amorosa. Na verdade um urso vegetariano é um maravilhoso animalzinho de
estimação.
Agora Silky, que era uma bolinha de pele
preta, está bem grande, alta e gorda. Seu pêlo tem mais ou menos uns 12 cm. de
comprimento. Ela é sadia e muito feliz. De fato, tanto quanto alguém saiba,
nunca ficou doente.
Como Adão e Eva devem ter se divertido com
todos os animais, no Jardim do Éden! Agora vamos pensar no que a Bíblia nos diz
sobre o Céu, em Isaías 11:7. “A vaca e a ursa pastarão juntas, e as crias
juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi”.
O Céu será um lugar muito, muito feliz, e
eu estou ansiosa esperando para ter um
lar ali, onde Jesus colocará animais mansos para que todos possamos brincar com
eles. Vocês também estão desejosos de ir par o Céu?
46 - SUNDAR E A RODA DE ORAÇÃO
“Sundar, precisamos comprar nossa roda de
oração hoje!”.
Sundar suspirou quando seu pai o chamou da
entrada de sua casa feita de barro, perto de Lhasa, lá no distante Tibet.
Estava na hora de sua família ir a Lhasa fazer compras, mas a última coisa que
Sundar queria trazer para casa era uma roda de Oração.
“Se eu pudesse contar para meu pai o que
aprendi sobre Jesus com o Tio Bula, ele não iria mais querer uma roda de
oração. Ele também saberia que foi Deus quem criou a Terra e que também criou
todas as coisas viventes. Saberia que é somente Deus quem faz com que a nossa
plantação cresça. Daí que não haveria mais necessidade de uma roda de oração”,
pensava Sundar.
O vento gelado castigava Sundar e seu pai,
enquanto desciam o sinuoso caminho que os levava de sua casa até Lhasa. O pai
se enrolou bem em seu manto grosso e sorriu para seu filho.
“Como é bom ter você novamente em casa”,
ele disse, tentando falar acima do ruído do vento. “Você gostou de ficar com o
Tio Bula?”.
“Oh, sim, papai, gostei muito!”, Sundar se
apressou em responder. “A Índia é um país muito bonito, e o Primo Ratu é muito
divertido”.
O pai de Sundar concordou, balançando a
cabeça, mas seu rosto estava um pouco triste. “Eu acho que na Índia não é tão
frio como aqui”, suspirou o pai.
Sundar meneou sua cabeça. “Não, pai, não é
frio, mas eu não me importo com o frio”.
“Não se importa?”, disse seu pai muito
surpreso. “Antes de ir visitar seu tio e primo, você se queixava muito por
causa do vento”.
“Eu sei, papai?”, concordou Sundar, “mas
não vou mais me queixar”.
Seu pai franziu o rosto e olhou muito
admirado para seu filho, mas Sundar não disse mais nada. Ele não poderia
explicar que não iria mais se queixar do vento, porque agora sabia que Jesus tinha criado a Terra e feito o vento para
soprar, o Sol para brilhar e a chuva para cair. Se seu pai pudesse saber disto
também, como seria bom!
Sundar tinha aprendido todas estas coisas
maravilhosas na Escola Cristã, onde seu tio o tinha levado. O missionário havia
explicado que Jesus é o único Deus verdadeiro que está no Céu, e que é tolice
adorar a outros deuses ou acreditar em roda de oração.
Embora Sundar soubesse que seu pai achava
errado falar de qualquer outra religião que não adorasse o Grande Lama ou o
sacerdote no templo, ele se arriscou a tocar no assunto da roda de oração.
“Papai, por que você quer uma roda de
oração?”.
O pai de Sundar parou de repente naquele
estreito caminho.
“Filho, a visita a seu tio o fez mudar de
verdade!”, ele exclamou. “Você sabe muito bem para que precisamos de uma roda de oração.
Precisamos colocar no córrego perto de casa. A roda de oração vai fazer com que
o córrego não seque, e também vai fazer com que a nossa plantação cresça e
possamos ter uma boa colheita. No ano passado não tivemos uma roda de oração, e
nossa colheita não foi nada boa. Será que você não se lembra? Certamente a sua
viagem não fez com que esquecesse tanto assim!”.
“Eu lembro, papai”, respondeu,
tranqüilamente, Sundar.
O pai de Sundar continuou andando pelo estreito caminho. “Será seu trabalho
observar que a roda de oração continue girando”, acrescentou o pai para Sundar.
Sundar se sentiu ainda mais infeliz. Sabia que devia obedecer a seu
pai. Um dos mandamentos de Jesus manda honrar aos pais, mas como tinha pavor do
trabalho de atender a roda de oração!
Pouco antes de chegar à cidade, Sundar e
seu pai atravessaram uma ponte estreita sobre um ruidoso rio. O menino quase
sempre tinha medo daquela água correntosa, mas desta vez atravessou a ponte com
muita confiança. “Jesus tirou todo o meu medo”, murmurou para si mesmo.
“Lá está o lugar do chefe Lama”, disse seu
pai, como tinha feito muitas outras vezes quando visitavam a cidade.
“Sim”, respondeu Sundar. Ele tinha ouvido a
história muitas vezes, e podia lembrar sobre o poderoso legislador que vestia
um manto amarelo e sentava sobre um alto trono. Com ele, dentro do palácio,
estavam os monges carregando rodas de oração e cantando a única oração que
conheciam. “Oh, jóia no coração do lótus”.(Lótus é uma bonita flor).
“Como são diferentes as orações feitas a
Jesus Cristo!”, pensou Sundar. Ele desejava muito contar a seu pai sobre a
bonita oração do Pai Nosso que Ratu, seu primo, tinha ensinado para ele.
“Talvez algum dia eu possa fazer isto”,
pensou Sundar, para se confortar. “Vou orar a Jesus pedindo que me ajude”.
Depois de terem feito todas as compras,
Sundar e seu pai voltaram para casa. Enquanto Sundar alimentava e dava água
para o iak, o animal de trabalho da família, seu pai instalou a roda de oração
no pequeno riacho que irrigava a plantação.
“Agora nossa plantação vai crescer forte,
sadia e alta, o pendão vai se dobrar até a terra, por causa de seu peso”,
afirmou o pai.
Sundar também desejava um lindo campo de
cereais, mas sabiam que a roda de oração não poderia fazer nada para isto.
Cada dia ele observava a roda para ver se
estava girando, assim como seu pai tinha mandado que fizesse. O riacho
continuou correndo e a plantação cresceu mais alta do que anteriormente.
“Está vendo a plantação, filho!”, exclamou
seu pai um dia. “Nossa roda de oração está funcionando”.
Mas Sundar balançou sua cabeça: “Pai”, ele
disse, “a roda não pode fazer a plantação crescer. Mas existe Alguém que faz
com que a plantação cresça”.
Seu pai se virou rapidamente, tirando os
olhos da plantação.
“O que você está dizendo, meu filho! Por
que você está com estas idéias estranhas? Onde você aprendeu estas coisas?
Lógico que nossa roda de oração está fazendo com que a plantação cresça. Não
quero ouvir você falar isto novamente!”.
Sundar sabia que não poderia responder as
perguntas de seu pai sem falar sobre Jesus. Mas também sabia que não era a hora
propícia. “Vou continuar orando a Jesus para que Ele me mostre quando devo
falar sobre isto novamente”, pensou.
Não demorou muito tempo para que as orações
de Sundar começassem a ser respondidas. Uma manhã, quando ia para a plantação,
viu que a força da água tinha arrancado a roda de oração de onde estava
amarrada, e também a tinha quebrado.
“Agora nossa plantação não vai dar uma boa
colheita!” Resmungou o pai de Sundar, por ter perdido a roda de oração. “O
riacho, com certeza, vai secar”.
Sundar quase falou, mas uma voz parecia lhe
dizer para que ficasse em silêncio.
Os dias passavam e o vento continua
soprando. Mas a água do riacho não secou. A plantação cresceu bem alta, e os
grãos começaram a se formar.
O pai de Sundar olhava o campo com muita
admiração. Algumas vezes viu como ele balançava a cabeça, e um dia o pai disse:
“Não posso entender como nossa plantação
cresceu depois que a roda de oração foi quebrada. Você não me disse um dia que
Alguém faz com que ela cresça?”.
O coração de Sundar bateu bem depressa, e
um sentimento de emoção encheu seu coração. Sabia que agora era o tempo de
falar para seu pai sobre Jesus.
“Jesus, o verdadeiro Deus que está no Céu,
Ele é quem faz com que as plantas cresçam”, explicou Sundar alegremente. “Ele
criou a Terra e todas as coisas que existem. Ele é o nosso grande Criador e
Salvador. Se acreditarmos NELE, Ele nos levará para o Seu reino quando voltar
um dia”.
O pai de Sundar escutava com muita atenção.
“Onde você aprendeu todas estas coisas? Foi na casa de seu tio?”.
“Sim”, concordou Sundar. “Eu aprendi sobre
Jesus com o Tio Bula e com o Primo Ratu. Eles me levaram para a escola da
missão, e eu aprendi muitas coisas com os missionários”.
Os dias chegavam e passavam, e a plantação
crescia cada vez mais alta. Um dia notaram que o riacho estava com muito pouco
água, era somente um filete correndo por entre a plantação. Mas isto não
importava. Os grãos do cereal já estavam bem formados, em poucos dias
começariam a ficar maduros e sem demora todo o campo se parecia com um enorme
cobertor dourado.
“Amanhã começaremos a colheita!”, disse o pai
de Sundar, uma tarde, parado na porta de entrada de entrada de casa e radiante.
“Nossa plantação amadureceu mesmo sem a roda de oração, e eu acho que vamos ter
a melhor colheita, como nunca antes”. Por que, Sundar? Será que é por causa do
seu Jesus?”
Rapidamente, Sundar respirou bem fundo: “Oh
sim, papai! Eu orei muito para que nossa plantação crescesse, também orei
pedindo ajuda para fazer você crer em Jesus, que criou a Terra; e eu creio que
Ele respondeu as duas orações. Eu estou muito, muito feliz!”.
Por um momento o pai de Sundar ficou em
silêncio. Mas Sundar viu a expressão de seu rosto, e não ficou surpreso quando
seu pai passou o braço em seu ombro, e disse com voz gentil:
“Você precisa me contar tudo o que sabe
sobre nosso Jesus. No ano que vem, depois que a neve tiver derretido, vamos
novamente visitar o Tio Bula e o Primo Ratu. Ali você vai me levar para a
Escola Cristã para ver os missionários que lhe ensinaram sobre o Deus do Céu
que criou a Terra e que faz as coisas crescerem”.
E Sundar sabia que seu pai iria cumprir a
promessa.
47 -UM BOM AMIGO
Quando o ônibus parou defronte da escola,
Paulo se dirigiu ao local em que se encontravam os meninos. Ele tinha dez anos
de idade mas era grande, bem desenvolvido. Podia avantajar-se aos demais,
conseguindo o melhor assento, perto da janela. Sua teoria era: “Quem primeiro
chega, melhor é servido”.
Certa vez tomou seu lugar, como de costume,
junto da janela, e ocupou a maior parte do banco, de tal maneira que o
companheiro ficou mesmo na ponta.
Paulo lançou um golpe de vista ao colega de
viagem e percebeu que era mais ou menos de sua idade. Era desconhecido, porém.
Sua vestimenta era semelhante, mas Paulo estava com as mãos sujas, ao passo que
o vizinho tinha as mãos bem limpas. Paulo sentiu atração por ele e, quase sem
se sentir, afastou-se para lhe dar mais lugar no banco. O rapazinho sorriu e
disse: “Muito obrigado”.
Isto fez com que Paulo se sentisse bem. Viu
que um pouco de cortesia não fazia mal algum, de quando em quando. Desejou
fazer amizade com ele.
Paulo não era um menino mau. Era apenas
egoísta. Não tinha irmãos e ficava como que solitário. E quando se relacionava
com alguns companheiros, a amizade durava pouco tempo. Não sabia conservar os
amigos. Logo cortavam as relações de amizade com ele.
A mãe notara isto. “Temo que você goste
muito de mandar, Paulo”, disse ela, “por isso que seus amigos fogem de você.
Não procure estar só mandando. Dê oportunidade aos outros, também. Não seja
egoísta”.
O filho não respondeu. Não gostava de ser
criticado. A mãe dele era viúva e trabalhava num escritório, para poder mantê-lo. Estava sempre cansada, e não
dispunha de mais tempo para cuidar do menino.
Quando o ônibus parou, o menino desceu
juntamente com Paulo e saíram ambos na mesma direção. “Moro nesta rua”, disse
ele.
Paulo sorriu. “Nunca tinha visto você. Como
se chama? Meu nome é Paulo”.
“O meu é David”, respondeu o outro. “Nós
nos mudamos para aquela casa faz poucos dias”. E apontou para o edifício que
ficava algumas casas da de Paulo.
“Então somos vizinhos!” Exclamou Paulo, com
um sorriso de felicidade. Ele desejava que David o houvesse simpatizado, para
se tornarem bons amigos. Pensou que a mãe tivesse razão, na advertência que lhe
fizera, e decidiu não mandar tanto em David, se fizessem amigos.
Quando chegaram defronte da casa de Paulo,
David disse: “Até logo. Amanhã nos encontraremos de novo”, e prosseguiu
caminhando.
“Alô”! Bradou Paulo. “Por que não entra
para brincarmos no quintal? Não tenho o que fazer até que minha mãe venha do
trabalho, e terei prazer em sua companhia”.
“Sinto muito, Paulo”, respondeu David.
“Tenho que ajudar minha mãe. Atendo a mandados e cuido de meus irmãozinhos”.
“Bem”, disse Paulo, em voz baixa, mas
realmente não compreendia a situação. Ele nunca ajudara à mãe, a não ser indo
ao armazém, de bicicleta, para fazer compras, algumas vezes.
“Você não quer ir comigo”, disse David,
“para que minha mãe o conheça? Ela gosta de conhecer meus amiguinhos”.
Paulo concordou. “Vá caminhando, David, que
irei guardar meus livros”. Estava muito feliz com o novo amigo, mas não queria
dizer-lhe que ia lavar as mãos, antes de chegar lá.
Alguns minutos depois, Paulo se encontrava
defronte da casa de David. O rosto e as
mãos estavam limpos e o cabelo bem penteado, mas ele se sentia acanhado. Se
David não houvesse aparecido imediatamente para encontra-lo, ele teria voltado
para casa. Foi um prazer, porém, encontrar a mãe de David. Ela o cumprimentou
alegremente, com muito carinho. Era uma senhora ainda jovem. Paulo sentiu-se
muito bem.
Não pôde,
porém, demorar-se muito lá, porquanto tinha que vigiar a casa. Costumava
andar de bicicleta, ao redor da residência, ou ler alguma coisa, até a hora da
chegada da mãe. Desta vez, porém, ao chegar em casa, lembrou-se de como David
ajudava à mãe. Quis imitar o bom exemplo.
Foi à cozinha e lavou todos os pratos,
porque a mãe não tivera tempo de lavá-los antes de sair.
Quando ela chegou e viu os pratos lavados, tudo arrumado, chorou de
alegria, abraçou o filho e beijou-o.
Paulo contou-lhe do novo amigo e disse que
iria deixá-lo mandar também.
Na manhã seguinte, quando estavam esperando
o ônibus, havia duas meninas para tomarem o veículo. Paulo observou que David,
em lugar de subir primeiro no ônibus, afastou-se e gentilmente deixou que as
meninas subissem antes. Paulo seguiu-lhe
o exemplo.
Afinal, Paulo chegou à conclusão de que é
agradável ser gentil, cortês e bondoso. Foi uma felicidade encontrar um bom
amigo.
48 - UM ESTRANHO NA JANELA
A mamãe espetou o seu dedo com a agulha que
estava costurando, quando pulou de susto ao ouvir um barulho de batida na
janela. O mesmo barulho fez com que Jane batesse na torre que estava
construindo com seus blocos.
- Que foi isto? – disse Jane pulando e
arregalando os olhos.
Havia uma porção de penas na janela. A
mamãe e Jane foram até a janela e olharam para fora. Lá estava um pássaro de
peito amarelo (use o nome de um pássaro conhecido, como Bem-te-vi) caído na
grama, bem embaixo da janela.
- Oh! – exclamou Jane, e saiu correndo pela
porta. Gentilmente ela pegou o pássaro que estava mole. Ele não se movia. O
passarinho havia batido no vidro da janela.
- Ele está morto, mãe. Seu coração ainda
está batendo. Pegue depressa, será que pode fazer alguma coisa por ele?
A mamãe pegou o passarinho (Bem-te-vi) em
suas mãos. Ele abriu um dos olhos e se acomodou nas mãos da mamãe de Jane. As
duas, mamãe e Jane, voltaram para dentro de casa. Jane foi procurar uma caixa
grande e um pedaço de pano fofinho para colocar dentro. Depois colocaram o
pássaro (Bem-te-vi) dentro da caixa. Tudo o que faziam parecia não interessar
ao pequeno pássaro. Ele não queria comida. Elas tentaram dar um pouco de água
com um conta-gotas, mas parecia que ele não conseguia engolir.
- Mamãe – disse Jane bem baixinho, depois
de algum tempo em silêncio – eu fiz uma oração pedindo pelo Bem-te-vi. Você
sabe que Jesus cuida dos pardais, e isto
quer dizer que Ele também cuida destes Bem-te-vis, não é mesmo?
- Sim, querida, e Jesus gosta de ver que
cuidamos de Suas criaturas – respondeu a mamãe com um sorriso.
O passarinho não melhorava, e a mamãe
começou a pensar que ele havia batido com tanta força na janela que não poderia
sarar.
Jane não dizia nenhuma palavra. Mais tarde
se notou uma pequena movimentação dentro da caixa. Mamãe e Jane ouviram um
“tiu-tiu” muito fraco, o que fez com que corressem para a caixa. Olharam para dentro
e Jane exclamou:
- Mamãe, parece que ele está melhor!
Realmente, o pássaro parecia estar um pouco
melhor, mas ainda continuava sem querer comida. Antes de ir para a cama aquela
noite, a mamãe disse:
- Como seria maravilhoso se o pássaro Bem-te-vi
estivesse melhor amanhã cedo, assim eu poderia mostrá-lo para as crianças da
escola, aquelas bem pequenas! Então elas poderiam ver o passarinho voar
novamente!
Na manhã seguinte Jane e sua mãe estavam
lavando louça na cozinha, quando ouviram alguns “tiu, tiu” vindos da caixa.
Parece que o Bem-te-vi estava respondendo aos chamados dos outros Bem-te-vis lá
nas árvores.
Quando as crianças chegaram para as aulas
do jardim de infância, a mamãe pegou o pássaro (tipo) e foi encontrar as
crianças na porta. Contou como tinham encontrado o pássaro ferido. Todas
olharam com muita atenção e interesse quando o pássaro foi colocado em cima da
grama. Primeiro ele afofou sua penas, depois olhou de um lado para outro. Então
de repente ele bateu suas asas e saiu voando pelo ar. Voou direto para a árvore
mais próxima.
- Tchal, Bem-te-vi, tchal! Gritavam as
crianças. Estamos contentes por você poder voar novamente. Depois todas
entraram em casa para ter sua lição.
Jane ficou mais um pouco do lado de fora, e
bem baixinho ela disse: “Muito obrigado, querido Jesus, porque Você cuidou do Bem-te-vi fazendo com
que ele ficasse bom outra vez. Também
lhe agradeço, porque Você me ama e cuida de mim”.
O que Jesus disse para Adão e Eva fazer
para todos os animais no Jardim do Éden? (Cuidar deles) Jane estava obedecendo
a Jesus quando cuidou do Bem-te-vi! (Sim). Quem cuida de vocês? (Os pais).
Vocês querem dizer “Muito Obrigado” a Jesus por nos amar e por nos ter dado
todos os animais e pássaros para cuidarmos? Vocês querem dizer “Muito Obrigado”
pelos seus pais?
49 - UM JOVEM DE FIBRA
Era um rapaz que tinha apenas catorze anos.
Ocupava-se em entregar frutas a um grande armazém de uma pequena cidade.
Quanto devo a você? Perguntou o comerciante ao rapazinho, ao
terminar este de descarregar as frutas. Não me parece que já seja homem para
dizer-me quanto devo.
- Sim, posso, posso dizer – replicou o
jovem, prontamente. Logo se pôs a consultar as anotações que fizera em sua
caderneta. Tornou a verificá-las, para estar certo de que não se havia enganado
na soma. Disse, depois:
- A conta é vinte mil réis.
- Dez mil réis, não são? Disse o
comerciante, procurando experimentar o rapazinho.
Depois de passar as cifras pelas
engrenagens metálicas, voltou:
- Você tem razão, rapaz; são vinte mil réis
mesmo. Diga-me: que idade tem você?
Respondida a pergunta, volveu o negociante:
-Você é quase um homem. Só falta uma coisa
– é um bom trago de pinga. Não pagarei a você sem que o beba. Venha cá, comigo.
- Eu não bebo! Respondeu apressadamente o
jovem.
- Mas beberá desta vez! Gritou o homem,
pegando o rapaz e arrastando-o para o lugar das bebidas.
Sem dúvida, o comerciante estava
embriagado, senão não faria isso.
O pequeno esbracejava desesperadamente e
olhava com ansiedade para todos os lados, ao ser arrastado para o bar. Notou
então, na mesa, várias garrafas de gasolina. Passou-lhe, aí, uma idéia pela
mente.
- Que quer que sirva? Perguntou ao chefe o
que atendia ao balcão.
- Dê-me um trago de pinga forte, disse o
comerciante.
- E para mim, um copo de gasosa, pediu o
jovem.
O homem bebeu rapidamente seu trago, e em
seguida tomou um copo dágua, para tirar o gosto forte da boca. Olhou para o
rapazinho, e viu que estava tomando soda, e não pinga.
- Ah! Você não vai se escapar assim, não!
Grunhiu irado, o borracho. Você vai beber um trago de pinga.
Pegando novamente do garoto, gritou ao
caixeiro que trouxesse mais pinga e o ajudasse a fazer aquele “malandro” beber.
Como era ligeiro e forte, o rapazinho conseguiu derrubar o borracho, e estava
para fugir quando o caixeiro do bar o segurou por trás. Pegando-o pelas costas
e com a ajuda de seu patrão embriagado, procurava introduzir-lhe entre os
lábios um copo de bebida.
A uma mesa no canto do salão estavam três
homens jogando. Um deles, de aspecto bastante rude, alto e forte, com os
cabelos em desalinho e com tabaco a escorrer dos cantos da boca, parou de jogar
para presenciar a cena. Viu que aqueles dois homens estavam maltratando um
menor de catorze anos, e começou a refletir. Acendeu-se em seu íntimo, então
uma fagulha de virilidade e sentimento de justiça.
Imediatamente, duas mãos fortes pegaram o
caixeiro por trás e o lançaram pesadamente ao solo. Quando o comerciante se
endireitou, assustado, o homem segurou-o também, arrastou-o até à porta da rua
e o jogou fortemente na calçada, dizendo-lhe que voltasse para o armazém e ali
ficasse até aprender a ser homem. Enquanto isso, o rapazinho fugia apressadamente
e tomava seu carro.
Como tivesse medo de voltar ao armazém para
receber o dinheiro que lhes devia, entregou o resto da carga a outras casas
comerciais, e horas depois se aproximaram, cautelosamente, daquele lugar. Vendo
que o patrão não estava, dirigiu-se rapidamente ao caixa, apresentou sua conta
e recebeu a importância. Mas ao sair encontrou o chefe, que estava na porta da
rua.
- Venha cá, diz o comerciante, um tanto
calmo, quero: conversar com você um instante.
Vendo que sua atitude parecia ser mais
amistosa e de respeito, o rapazinho atendeu. Foi com ele, a seu convite, até ao
escritório.
- Você é um homem, um verdadeiro homem, diz
o comerciante. É o primeiro rapaz que vejo passar por uma prova como esta sem
beber coisa alguma. Você é um jovem de
fibra. E disse mais, ao rapazinho, que ia sair em férias, mas que ele podia
continuar trazendo suas mercadorias, todas as semanas.
- Não traga menos do que você tem trazido,
até eu voltar. Apresente-me então a conta e pagarei a você. Confio no que me
disser.
Semanas
depois, ao regressar o comerciante, cumpriu sua palavra, pagando tudo que o
jovem disse que ele lhe devia. Logo terminaram as férias e o rapazinho tinha de
voltar para o ginásio. Foi despedir-se
de seu freguês, comunicando-lhe que ia continuar os estudos e passar para um
ano mais adiantado.
- Deixe os estudos, diz-lhe o comerciante.
Preciso de um jovem honesto como você, que tenha bastante caráter para ficar
firme no que é direito. Quero que trabalhe comigo.
E o homem fez o oferecimento de bom
ordenado e muitas vantagens. Mas isso de nada valeu. O jovem, que tinha firmeza de propósito para
não beber pinga, custasse o que custasse, também possuía fibra para não se
iludir com aqueles oferecimentos e abandonar seus estudos.
Esse rapaz é agora homem feito, e leciona
num conhecido estabelecimento de ensino.
50 - UMA ESTRADA COM PAGAMENTO DE PEDÁGIO
Ana e Alfredo gostavam muito de viajar.
Gostavam, especialmente de visitar a vovó e o vovô Martins. Como era gostoso ir
para lá.
Só a viagem já era divertida, e depois
estar na fazenda do vovô era o melhor de tudo.
Enquanto o pai dirigia, saindo da cidade,
Ana e Alfredo falavam sobre todas as coisas maravilhosas que fariam na fazenda.
- Eu vou ajudar o vovô a dar comida para a Princesa – disse Alfredo
– depois ele me deixará montar nela e vai me levar para dar uma volta.
- Muito bem, e eu estou curiosa para ver se
o filhote da Princesa já está grande para eu poder montar – disse Ana.
- Talvez o vovô coloque a Princesa na
carroça novamente, e nos deixe ir apanhar abóboras e melancias – disse Alfredo,
lembrando o que tinham feito no ano passado.
- Eu acho que já cresci bastante este ano,
e já posso ajudar também, não preciso somente andar a cavalo – disse Ana.
O tempo estava passando rápido para Alfredo
e Ana. Logo o papai parou para pagar o pedágio.
- Nós vamos até (cite uma cidade conhecida)
– disse o pai para o cobrador que lhe
entregou o recibo.
- Deixe-me ver o recibo, pai? – pediu
Alfredo se inclinando para frente.
O papai entregou o recibo para ele. Parecia
muito interessante com todos aqueles sinais e marcas.
- A viagem até (dê o nome de uma cidade
conhecida) sempre é muito bonita – disse sorrindo a mamãe.
- Eu também gosto muito – disse Ana – gosto
muito de passar pelos túneis.
- É muito bom, e logo, logo vamos ter um
túnel – disse Alfredo.
Ana bateu palmas de felicidade.
- As cores amareladas, âmbar, enferrujada e
vermelha vivo das folhas, tornam muito bonitas estas montanhas – disse a mãe.
- Sim, querida. As variações e mudanças de
estações são uma das maneiras de podermos saber que servimos a um Deus de amor
– disse o papai – Ele faz muitas coisas para nossa satisfação.
Algumas horas mais tarde e depois de ter
passado por três túneis, começaram a notar sinais de que (a cidade) estava se
aproximando.
- Está na hora de sairmos da estrada
principal - disse o pai.
- Pai, deixe-me o recibo para o cobrador? –
pediu Alfredo, e se inclinou para frente, pegando o recibo que o pai lhe dava.
Justamente, neste momento uma corrente de vento soprou fazendo com que o recibo
voasse para longe das mãos de Alfredo.
- Oh, não! – gritou Alfredo – o vento levou
o recibo para longe.
O
papai parou o carro o mais rápido possível. – Espero que possamos encontrar o
recibo – disse o pai, enquanto corria para o lugar onde, imaginava, o recibo
poderia ter caído.
Alfredo descobriu naquele momento como o
recibo era importante. O pai havia dito que teriam de pagar uma muita grande se
não estivessem com o recibo.
Mamãe e Ana olhando pelo vidro detrás
observavam como o papai procurava o recibo ao lado da estrada.
Grandes lágrimas rolavam pelo rosto de
Alfredo e caíam em sua camisa. Ele se sentia muito mal. Muitas preocupações
vieram à mente de Alfredo. E só um pensamento feliz. Ele se lembrou de seu
verso de sábado: “Invoca-me no dia da angústia, Eu te livrarei e tu Me
glorificarás”. Salmo 50:15.
- Eu vou orar! – disse calmamente Alfredo e
fechou os olhos. “Querido Jesus, por favor, ajude o papai a encontrar o recibo.
Nós precisamos muito dele. Muito obrigado. Amém”.
Alfredo voltou a olhar pela janela de trás,
e viu o pai correr uns passos, se abaixar e pegar alguma coisa. O pai se virou
e sorriu, depois voltou para o carro.
- Oh! Muito obrigado, querido Jesus! –
disse Alfredo.
O papai entrou no carro e Alfredo se
inclinou para frente e deu um abraço no pai.
- Desculpe, papai – ele disse – eu não
queria causar nenhum problema.
- Está tudo bem, Alfredo, você não sabia o
que podia acontecer – disse o pai. – Eu acho que tudo aconteceu para o bem.
- Eu também acho – disse Alfredo – e você
conseguiu encontrar o recibo porque eu fiz uma oração, pedindo que Jesus o ajudasse
a encontrar.
- E você já agradeceu a Jesus?
- Sim, papai, eu já agradeci – respondeu
Alfredo.
- Logo que sairmos desta estrada, vou parar
e todos nós vamos curvar a cabeça para agradecer pelo amor e cuidado de Jesus –
disse o pai. – Certamente Ele é o nosso melhor amigo, nunca nos deixa ficar com
problemas.
Que coisas aconteceram antes que o recibo
voasse que nos dá a certeza de que a família de Alfredo e Ana estavam tendo um
feriado muito feliz?
Que vocês acham, Alfredo foi ou não
descuidado quando deixou o recibo voar?
Como vocês se sentiram com o final da
história?
Como, pensam vocês, se sentiu a família de
Ana e Alfredo?
51 - UMA VOZ DESCONHECIDA
Michele gostava muito de ficar fora de casa
observando o maravilhoso mundo de Jesus. Quase sempre chorava bastante quando
mamãe dizia que já estava na hora de entrar. Havia tantas coisas lindas e
interessantes para ver lá fora!
Algumas vezes papai e a mamãe levavam
Michele para um passeio, saíam pelo quintal e passavam para o outro lado da
cerca. Depois tomavam um caminho que cruzava a linha dos trens. Como era
divertido equilibrar-se sobre os trilhos, cair fora e depois pular em cima
outra vez. “Hi, hi, hi”, ria Michele se deliciando, quando o papai e a mamãe a
balançavam entre eles sobre os trilhos dos trens.
Ao lado dos trilhos cresciam lindas flores, e elas pareciam dizer: “Me
apanhe! Me apanhe!”!
A parte mais excitante do passeio ficava
bem perto, um pouquinho mais na frente. O primeiro sinal era o som de água
correndo, caindo cada vez mais rápido. Normalmente, Michele primeiro espiava a
ponte e depois corria lá para frente.
- Espere por nós, filhinha – diziam a mamãe
e o papai. – É muito perigoso atravessar a ponte sozinha. – Mas, Michele desobedecia
e corria na frente, e o papai tinha que correr atrás dela. Eles ficavam sem
fôlego e riam quando a mamãe conseguia alcançá-los; e juntos, de mãos dadas
eles atravessavam a ponte.
Não é fácil atravessar uma ponte de estrada
de ferro quando se tem somente três anos de idade. Os dormentes parecem estar
muito separados, e um pequeno pezinho, como o de Michele, poderia pisar justo
no espaço que fica entre eles. “Ui, ui”! Dizia Michele, segurando bem forte a
mão da mamãe. “Uau”! Ela exclamava, observando, entre cada espaço, a água
correr lá embaixo.
Quando estavam em cima da ponte o melhor de
tudo era ficar parado segurando na cerca. Que vista maravilhosa da cachoeira!
Que quantidade de pedras grandes com uma espuma branquinha caindo ao redor, e cobrindo
todas elas.
Com a mamãe e o papai segurando bem forte,
Michele jogava flores lá de cima, de um lado da ponte sobre a água, e depois
corriam para o outro lado para ver as flores coloridas caindo lá embaixo.
“Tchal, tchal”! Dizia Michele, abanando a mão, enquanto observava as flores
deslizando em cima da água.
A mamãe sempre ficava aliviada quando eles
estavam fora da ponte e em segurança. A madeira
dos trilhos estava ficando velha. Mas eles sempre faziam seus passeios
depois que o último trem do dia já havia passado.
Numa manhã bonita de sol, a mamãe estava
superocupada. Ela fechou bem forte o portão do quintal e deixou Michele
brincando na caixa de areia.
- Brinque bastante agora, filhinha, e não
saia do quintal – disse a mamãe.
-
Está bem – respondeu Michele e pegou sua pazinha vermelha para brincar.
A mamãe entrou depressa em casa, colocou a
roupa na máquina para lavar, e começou a lavar a louça. Alegremente ela
cantarolava, mas seus ouvidos estavam prestando atenção nos barulhos do
quintal.
“É estranho”, pensou a mamãe, “já passou da
hora do trem da manhã, e eu não ouvi o seu apito. Que terá acontecido”!
De repente a mamãe se virou, como se alguém
tivesse falado com ela. Não, não havia ninguém ali; mas ela tinha escutado
muito bem uma voz dizer: “Vá procurar Michele”.
A mamãe voltou para a pia e continuou
lidando com a louça, mas a voz estava bem mais forte: “VÁ PROCURAR MICHELE”!
Ela ainda não via ninguém ali dentro, mas desta vez a mamãe jogou longe o pano
de secar pratos e correu para a porta, desceu a escada, e foi para o quintal.
- Oh, não! – ela disse nervosa, e
imediatamente viu o portão aberto. Que direção tomar?
Um caminho levava para uma
rua principal muito perigosa, o outro caminho levava para a estrada do trem. E
lá na frente, neste caminho ela viu a pazinha vermelha de Michele jogada sobre
a grama. Os pés da mamãe quase não tocava no chão, parecia que ela estava
voando em direção a estrada de ferro. Ela levantou Michele em seus braços
justamente um pouquinho antes que ela começasse a atravessar a ponte.
- Flores bonitas, mamãe! – chorava Michele,
enquanto a mamãe a levava em segurança de volta para casa. Logo que chegaram no
quintal, ouviram o apito do trem.
Por que o papai e a mamãe não queriam que
Michele atravessasse a ponte sozinha? Michele sempre obedecia a seus pais? Como
vocês sabem? Por que a mamãe queria que Michele brincasse no quintal e não
fosse para fora? E Michele, obedeceu a sua mamãe? Por quê? Quem, você acha,
avisou a mamãe para ir procurar Michele? Apesar de Michele ter
desobedecido, quais eram os sentimentos
da mamãe? Você acha que foi isto que Deus sentiu quando Adão e Eva pecaram? O
que Deus fez para Adão e Eva?
52 - VALE A PENA OBEDECER
“Vamos sair agora”, disse a mãe. “Sejam
bonzinhos, busquem a lenha e arranjem tudo, até que voltemos”.
“Sim,
mamãe”, prometeu Paulo e José.
“Se tudo estiver pronto quando chegarmos de
volta, teremos uma agradável surpresa para vocês”, disse a mãe.
“Mais ainda”, adicionou o pai, “não saiam ao lago enquanto estivermos fora”.
José e Paulo prometeram não ir ao lago.
Houve as despedidas e o casal Carson partiu em sua viagem de algumas léguas, à
cidade.
“Bem”, disse Paulo, “é melhor que apanhemos
a lenha agora mesmo, para não ficarmos preocupados com isto. Assim também
estaremos certos de receber o que a mamãe nos prometeu, se nossa tarefa for
feita”.
“Está fazendo muito calor agora”, replicou
José. “Vou esperar até à tardinha, para fazer minha parte”.
Enquanto ainda conversavam sobre o trabalho
a ser feito, surgiu à porta da residência um de seus amiguinhos. De fato, era
um de seus mais íntimos amigos.
“Oh!” Exclamou José, chegou o David! Para
onde irá ele?
“Alô, David, para onde vai você? Perguntaram
os dois irmãos, quase ao mesmo tempo”.
“Vou nadar um pouco no lago. Vamos
juntos?”.
“Não podemos, David, porque o papai e a
mamãe foram à cidade e nos disseram que não fôssemos ao lago”.
“Eles não irão saber disso. Estaremos de
volta muito antes que regressem”.
“Mas”, disse Paulo, “nós prometemos que não
iríamos ao lago”.
“Vamos, vamos”, insistiu David, “está
fazendo calor e será bom um banho agora”.
José e Paulo bem sabiam que não deviam ir.
Mas estava um tempo muito quente e eles, pensando no banho, ficaram quase a
ceder à tentação. Tinham certeza de que chegariam em casa antes do regresso dos
pais.
“Espere um momento”, disse Paulo, “e iremos
também”.
Entraram apressadamente, apanharam os
calções de banho e correram com o David, em demanda do lago.
O lago ficava a uma distância de cerca de
meia légua, de maneira que, ao chegarem lá, estavam bem molhados de suor.
“Estou alegre por havermos decidido vir”,
disse José, “pois depois do banho ficaremos mais dispostos para o trabalho a
ser feito”.
A água estava tão agradável, que eles logo
se esqueceram de seus deveres. José avistou uns botes à distância e sugeriu a
idéia de nadarem até lá.
Paulo objetou, chamando a atenção do irmão
para a profundidade das águas naquele lugar.
“Mas descansaremos nos botes”, respondeu
José, conseguindo convencer os companheiros. Todos começaram a nadar com
destino ao local das embarcações.
Num dado momento, cansado de brincar nos
barcos, José salta nágua, sem atender aos conselhos dos outros. Sabiam que ele
não nadava bem e logo ficaram assustados quando o viram desaparecer no lago.
Subiu, mais uma vez, para afundar em seguida e, na terceira vez, não voltou
mais à tona!
“José! José!...” clamaram os dois que
ficaram nos barcos, mas tão perplexos que não sabiam o que fazer.
David, que era bom nadador, mergulhou para
ver se encontrava o companheiro, não achando nada, infelizmente.
Enquanto isso, Paulo já havia saído em
busca de socorro. A casa mais próxima se encontrava a mais de um quilômetro de
distância. Ao chegar o primeiro homem, David já estava exausto de mergulhar,
sem resultado algum. Depois de muito trabalho, o mergulhador encontrou o corpo
de José e o conduziu à margem do lago.
Apareceu, no momento, outro morador daquela
vizinhança, enfermeiro da Cruz Vermelha e começou logo a fazer respiração
artificial, para tentar salvar o menino, mas todos os esforços foram em vão.
Estava morto!
David e Paulo oraram, para que Deus os
ajudasse. O enfermeiro tentou mais uma vez, fazendo respiração artificial, mas
não foi possível obter resultado.
“Vão avisar aos pais do José”, disse o enfermeiro, “pois já está quase
anoitecendo”.
Os dois meninos partiram apressadamente
para casa. À distância perceberam que havia fumaça da chaminé do fogão, sinal
de que os pais já haviam voltado.
Ao chegar Paulo em casa, os pais fizeram
logo várias perguntas, pois estranhavam a ausência de José, mas ele não podia
responder, até que, com a voz embargada, pôde pronunciar: “no lago...”.
Num instante o casal, havendo buscado o
automóvel, partiu em direção do local. Paulo queria contar a história, mas não
podia, pois o choro não permitia que falasse.
Chegaram, afinal, à margem do lago. Lá
estava o corpo do José. Foi uma cena tocante, quando a mãe abraçou e beijou o
filho, inerte e frio, em conseqüência da desobediência.
O pai, o Sr. Carson providenciou o enterro.
Acalmados os ânimos, Paulo se dirigiu à mãe
e disse-lhe:
“Mamãe, estou pronto para sofrer meu
castigo. Eu fui o maior culpado. Eu o induzi a ir ao lago”.
“Meu filho”, respondeu-lhe muito comovida a
mãe, “você já sofreu seu castigo. Quero que jamais se esqueça da dura lição que
lhe foi dada: Vale a pena obedecer aos pais e a Deus”.
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