link do vídeo
parte 1 ⇒
parte 2 ⇒
áudio ⇒
texto
parte 1 ⇒
parte 2 ⇒
áudio ⇒
texto
Capítulo 14 —
“Achamos o Messias”
Este capítulo é
baseado em João 1:19-51.
João Batista estava agora
pregando e batizando em Betábara, além do Jordão. Não longe desse lugar
detivera Deus o curso do rio até que Israel houvesse passado. A pouca distância
dali fora derribada a fortaleza de Jericó pelos exércitos celestiais. A memória
desses acontecimentos foi por esse tempo reavivada, comunicando vivo interesse
à mensagem do Batista. Aquele que operara tão maravilhosamente nos séculos
passados, não manifestaria novamente Seu poder em prol da libertação de Israel?
Tal era o pensamento que agitava o coração dos que se aglomeravam diariamente
às margens do Jordão.
A pregação de João
exercera tão profunda influência sobre o povo, que chamara a atenção das
autoridades religiosas. O perigo de uma insurreição fez com que todo
ajuntamento popular fosse considerado com suspeita por parte dos romanos, e
tudo que indicasse um levante do povo despertava os temores dos governadores
judeus. João não reconhecera a autoridade do Sinédrio em buscar a sanção do
mesmo para sua obra; e reprovava príncipes e povo, fariseus e saduceus
semelhantemente. No entanto, o povo o seguia ardorosamente. O interesse em sua
obra parecia aumentar de contínuo. Conquanto João não condescendesse com eles,
o Sinédrio considerava que, como mestre público, se achava sob sua jurisdição.
Essa organização era
constituída de membros escolhidos dentre o sacerdócio, e dos principais e
doutores da nação. O sumo sacerdote era em geral o presidente. Todos os seus
membros deviam ser homens avançados em anos, se bem que não velhos; homens de
saber, não somente versados na religião e história hebraicas, mas em
conhecimentos gerais. Deviam ser isentos de defeito físico, casados, e pais, a
fim de serem mais aptos que outros a ser humanos e compreensivos. Reuniam-se
num aposento ligado ao templo de Jerusalém.
Nos tempos da
independência dos judeus, o Sinédrio era o supremo tribunal da nação, possuindo
autoridade secular, da mesma maneira que eclesiástica. Conquanto agora
subordinado aos governadores romanos, exercia ainda forte influência, tanto em
assuntos civis como religiosos.
O Sinédrio não podia
razoavelmente adiar uma investigação na obra do Batista. Havia alguns que se
recordavam da revelação feita a Zacarias no templo e da profecia do pai, que
indicava ser a criança o precursor do Messias. Em meio dos tumultos e mudanças
de trinta anos, essas coisas haviam sido em grande parte esquecidas. Eram agora
relembradas pelo despertar em torno do ministério de João Batista.
Passara-se muito
tempo desde que Israel tivera um profeta, desde que se testemunhara uma reforma
como a que se operava agora. A exigência quanto à confissão do pecado parecia
nova e assustadora. Muitos dentre os guias não iam ouvir os apelos e censuras
de João, não viessem a ser levados a revelar os segredos da própria vida.
Todavia, a pregação dele era um positivo anúncio do Messias. Era bem conhecido
que as setenta semanas da profecia de Daniel, abrangendo a vinda do Messias, se
achavam quase no fim; e todos estavam ansiosos por partilhar daquela era de
glória nacional, então esperada. Tal era o entusiasmo popular, que o Sinédrio
seria em breve forçado a rejeitar, ou a sancionar a obra de João. A influência
deles sobre o povo já decrescia. Estava-se tornando uma questão séria, a
maneira por que manteriam sua posição. Na esperança de chegar a qualquer
resultado, enviaram ao Jordão uma delegação de sacerdotes e levitas, a fim de
conferenciarem com o novo mestre.
Ao aproximarem-se os
delegados, estava reunida uma multidão, ouvindo-lhe a palavra. Com ar de
autoridade destinado a impressionar o povo e inspirar a deferência do profeta,
chegaram os altivos rabis. Com um movimento de respeito, quase de temor, a
multidão abriu passagem. No orgulho da posição e do poder, os grandes homens,
com ricas vestimentas, postaram-se perante o profeta no deserto.
“Quem és tu?”
indagaram.
Sabendo o pensamento
deles, João respondeu: “Eu não sou o Cristo”.
“Então quê? És tu
Elias?” “Não sou”.
“És tu profeta?”
“Não”.
“Quem és? para que
demos resposta àqueles que nos enviaram; que dizes tu de ti mesmo?”
“Eu sou a voz do que
clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías”.
João 1:19-23.
A escritura a que
João se referiu é aquela bela profecia de Isaías:
“Consolai, consolai
o Meu povo, diz o vosso Deus. Falai benignamente a Jerusalém, e bradai-lhe que
já a sua malícia é acabada, que a sua iniquidade está expiada. [...] Voz do que
clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor: endireitai no ermo vereda a
nosso Deus. Todo vale será exaltado, e todo monte e todo outeiro serão
abatidos: e o que está torcido se endireitará, e o que é áspero se aplainará. E
a glória do Senhor se manifestará, e toda carne juntamente verá”. Isaías 40:1-5.
Antigamente, quando
um rei jornadeava pelas partes menos frequentadas de seu domínio, um grupo de
homens era enviado à frente do carro real, para aplainar os lugares
acidentados, encher [85] as depressões, a fim de o rei poder viajar com
segurança, e sem obstáculos. Esse costume é empregado pelo profeta para
ilustrar a obra do evangelho. “Todo vale será exaltado, e todo o monte e todo
outeiro serão abatidos”. Isaías 40:4. Quando o Espírito de Deus, com Seu
maravilhoso poder vivificante, toca o coração, abate o orgulho humano.
Prazeres, posições e poder mundanos aparecem como sem valor. “Os conselhos e
toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus” (2 Coríntios 10:5)
são derribados; todo pensamento é levado cativo “à obediência de Cristo”. Então,
a humildade e o abnegado amor, tão pouco apreciados entre os homens, são
exaltados como as únicas coisas de valor. Esta é a obra do evangelho, do qual a
de João era uma parte.
Os rabis continuaram
suas interrogações: “Por que batizas pois, se tu não és o Cristo, nem Elias,
nem o profeta?” João 1:25. As palavras “o profeta” referiam-se a Moisés. Os
judeus inclinavam-se a crer que Moisés ressuscitaria, e seria levado para o
Céu. Não sabiam que já fora ressuscitado. Quando o Batista começara o
ministério, muitos pensaram que talvez fosse o profeta Moisés, ressuscitado;
pois parecia possuir inteiro conhecimento das profecias e da história de
Israel.
Acreditava-se também
que, antes da vinda do Messias, Elias apareceria pessoalmente. Essa esperança
enfrentou João em sua negativa; suas palavras tinham, porém, mais profundo
sentido. Jesus disse posteriormente, referindo-Se a João: “Se quereis dar
crédito, é este o Elias que havia de vir”. Mateus 11:14. João veio no espírito
e poder de Elias, para fazer uma obra idêntica à daquele profeta. Houvessem-no
recebido os judeus, e ela teria sido realizada em favor deles. Mas não lhe
receberam a mensagem. Para eles João não foi Elias. Não podia realizar em seu
benefício a missão que viera cumprir.
Muitos dos que se
achavam reunidos no Jordão, haviam estado presentes quando do batismo de Jesus;
o sinal dado, porém, não fora manifesto senão a poucos dentre eles. Durante os
precedentes meses do ministério do Batista, muitos se tinham recusado a atender
ao chamado ao arrependimento. Haviam assim endurecido o coração e entenebrecido
o entendimento. Quando o Céu deu testemunho de Jesus, no Seu batismo, não o
perceberam. Os olhos que nunca se haviam volvido com fé para Aquele que é
invisível, não contemplaram a revelação da glória de Deus; os ouvidos que lhe
tinham escutado a voz, não ouviram as palavras de testemunho. O mesmo se dá
agora. Frequentemente a presença de Cristo e dos anjos ministradores se
manifesta nas assembleias do povo e, no entanto, muitos há que o não sabem.
Nada percebem de extraordinário. A alguns, porém, é revelada a presença do
Salvador. Paz e alegria lhes animam o coração. São confortados, animados,
abençoados.
Os emissários de
Jerusalém haviam perguntado a João: “Por que batizas?” (João 1:25) e esperavam a
resposta. Subitamente, ao percorrer seu olhar a multidão, arderam-se-lhe os
olhos, a fisionomia iluminou-se, o ser inteiro foi-lhe agitado de profunda
emoção. Estendendo a mão, exclamou: “Eu batizo com água; mas no meio de vós
está Alguém a quem vós não conheceis. Este é Aquele que vem após mim, que foi
antes de mim, do qual eu não sou digno de desatar a correia da alparca”. João
1:26, 27.
Era positiva e
inequívoca a mensagem a ser levada de volta ao Sinédrio. As palavras de João
não se podiam aplicar a nenhum outro senão ao longamente Prometido. O Messias
Se achava entre eles! Sacerdotes e principais olharam em torno, com assombro,
na esperança de descobrir Aquele de quem João falara. Ele, porém, não era
distinguível entre a multidão.
Quando, por ocasião do
batismo de Jesus, João O designara como o Cordeiro de Deus, nova luz foi
projetada sobre a obra do Messias. O espírito do profeta foi dirigido às
palavras de Isaías: “Como um cordeiro foi levado ao matadouro”. Isaías 53:7.
Durante as semanas seguintes, João estudou, com novo interesse, as profecias e
os ensinos quanto ao serviço sacrifical. Não distinguia claramente os dois
aspectos da obra de Cristo — como vítima sofredora e vitorioso Rei — mas viu
que Sua vinda tinha significação mais profunda do que lhe haviam percebido os
sacerdotes ou o povo. Ao ver Cristo entre a multidão, de volta do deserto,
esperou confiantemente que Ele desse ao povo um sinal de Seu verdadeiro
caráter. Aguardava quase com impaciência ouvir o Salvador declarar Sua missão;
no entanto nenhuma palavra foi proferida, não foi dado nenhum sinal. Jesus não
correspondeu ao anúncio do Batista a Seu respeito, mas misturou-Se com os
discípulos de João, não dando nenhum testemunho visível de Sua obra especial,
nem tomando nenhuma providência para Se fazer notado.
No dia seguinte,
João viu Jesus, que para ele Se dirigia. Com a glória de Deus a repousar sobre
ele, João estende a mão, declarando: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado
do mundo. Este é Aquele do qual eu disse: Após mim vem um Varão que foi antes
de mim;... e eu não O conhecia; mas, para que fosse manifestado a Israel, vim
eu, por isso, batizando com água. [...] Vi o Espírito descer do céu como uma
pomba, e repousar sobre Ele. E eu não O conhecia, mas O que me mandou a batizar
com água, Esse me disse: Sobre Aquele que vires descer o Espírito, e sobre Ele
repousar, Esse é O que batiza com o Espírito Santo. E eu vi, e tenho
testificado que Este é o Filho de Deus”. João 1:29-34.
Era esse o Cristo?
Com respeito e curiosidade olhou o povo
Àquele de quem se
acabava de declarar ser o Filho de Deus. Haviam sido profundamente comovidos
pelas palavras de João. Ele lhes falara em nome de Deus. Tinham-no escutado dia
a dia, ao reprovar-lhes os pecados, e de dia para dia neles se fortalecera a convicção
de ser ele enviado pelo Céu. Mas quem era Esse, maior que João Batista? Não
havia em Seu trajar coisa alguma que indicasse posição. Era, na aparência, um personagem simples, vestido, como eles, nos
humildes trajes dos pobres.
Havia entre a multidão
alguns que, por ocasião do batismo de
Cristo, tinham
testemunhado a glória divina, e ouvido a voz de Deus. Desde então, porém,
mudara grandemente a aparência do Salvador. Em Seu batismo, tinham-Lhe visto o
semblante transfigurado à luz do Céu; agora, pálido, esgotado, emagrecido,
ninguém O reconhecera senão o profeta João.
Ao olhar o povo para
Ele, no entanto, viram uma fisionomia em que se uniam a divina compaixão e o
poder consciente. Toda a expressão do olhar, todo traço do semblante, assinalava-se
pela humildade, e exprimia indizível amor. Parecia circundado duma atmosfera de
influência espiritual. Ao passo que Suas maneiras eram suaves e
despretensiosas, imprimia nos homens um sentimento de poder que, embora oculto,
não podia inteiramente velar. Era esse Aquele por quem Israel tão longamente
esperava?
Jesus veio em
pobreza e humildade, para que pudesse ser nosso exemplo, ao mesmo tempo que
nosso Redentor. Houvesse aparecido com pompa real, e como poderia ter ensinado
a humildade? como poderia haver apresentado tão incisivas verdades como as do
sermão da montanha? Onde estaria a esperança dos humildes da vida, houvesse
Jesus vindo habitar como rei entre os homens?
Para a multidão, no
entanto, parecia impossível que Aquele que era designado por João Se pudesse
relacionar com suas elevadas antecipações. Assim, muitos ficaram decepcionados
e grandemente perplexos.
As palavras que os
sacerdotes e rabis tanto desejavam ouvir, de que Jesus havia de restaurar então
o reino a Israel, não foram proferidas. Por um rei assim haviam eles esperado
ansiosamente; tal rei estavam prontos a receber. Mas um que buscasse
estabelecer-lhes no coração um reino de justiça e paz, não aceitariam.
No dia seguinte,
enquanto dois discípulos estavam ao seu lado, João viu novamente Jesus entre o
povo. O rosto do profeta iluminou-se outra vez com a glória do Invisível, ao
exclamar: “Eis aqui o Cordeiro de Deus”. Estas palavras fizeram pulsar o
coração dos discípulos. Não as compreenderam plenamente. Que significaria o nome
que João Lhe dera — “o Cordeiro de Deus”? O próprio João não as explicara.
Deixando João, foram
em busca de Jesus. Um deles era André, o irmão de Simão; o outro, João
evangelista. Foram estes os primeiros discípulos de Jesus. Movidos de
irresistível impulso, seguiram a Jesus — ansiosos de falar-Lhe, todavia
respeitosos e em silêncio, abismados na assombrosa significação da ideia: “É
esse o Messias?”
Jesus sabia que os
discípulos O estavam seguindo. Eram as primícias de Seu ministério, e o coração
do divino Mestre alegrou-se ao corresponderem essas pessoas a Sua graça. No
entanto, voltando-Se, perguntou apenas: “Que buscais?” João 1:38. Queria
deixá-los em liberdade de voltar atrás, ou de falar de seus desejos.
De um único desígnio
tinham eles consciência. Uma só era a presença que lhes enchia o pensamento.
Exclamaram: “Rabi, onde moras?” João 1:38. Numa breve entrevista à beira do
caminho, não podiam receber aquilo por que ansiavam. Desejavam estar a sós com
Jesus, sentar-se-Lhe aos pés e ouvir-Lhe as palavras. Ele lhes disse: “Vinde, e
vede. Foram, e viram onde morava, e ficaram com Ele aquele dia”. João 1:39.
Houvessem João e
André possuído o incrédulo espírito dos sacerdotes e principais, e não se
teriam encontrado como discípulos aos pés de Jesus. Teriam dEle se aproximado
como críticos, para Lhe julgar as palavras. Muitos cerram assim a porta às mais
preciosas oportunidades. Assim não fizeram esses primeiros discípulos. Haviam
atendido ao chamado do Espírito Santo na pregação de João Batista. Então reconheceram
a voz do Mestre celestial. As palavras de Jesus foram para eles cheias de
novidade, verdade e beleza.
Divina luz foi
projetada sobre o ensino das Escrituras do Antigo
Testamento. Os
complexos temas da verdade apareceram sob nova luz.
É contrição, fé e
amor que habilitam a mente a receber sabedoria do Céu. Fé que opera por amor é
a chave do conhecimento, e todo que ama “conhece a Deus”. 1 João 4:7.
O discípulo João era
homem de fervorosa e profunda afeição, ardente, se bem que contemplativo. Começara
a discernir a glória de Cristo — não a pompa mundana e o poder que fora
ensinado a esperar, mas “a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de
verdade”. João 1:14. Absorveu-se na contemplação do assombroso tema.
André buscou
comunicar o júbilo que lhe enchia o coração. Indo à procura de Simão, seu
irmão, exclamou: “Achamos o Messias”. João 1:41. Simão não esperou segundo
convite. Também ele ouvira a pregação de João Batista, e apressou-se em ir ter
com o Salvador. Os olhos de Jesus pousaram nele, lendo-lhe o caráter e a
história. Sua natureza impulsiva, o coração amorável e compassivo, a ambição e
confiança próprias, a história de sua queda e arrependimento, seus labores e a
morte de mártir — o Salvador leu tudo, e disse: “Tu és Simão, filho de Jonas;
tu serás chamado Cefas (que quer dizer Pedro). “No dia seguinte quis Jesus ir à
Galiléia, e achou a Filipe, e disse-lhe: Segue-Me”. João 1:42, 43. Filipe
obedeceu à ordem, tornando-se também, desde logo, obreiro de Cristo.
Filipe chamou a
Natanael. Este se encontrava entre a multidão quando o Batista designara Jesus
como o Cordeiro de Deus. Ao olhar Natanael para Jesus, ficou decepcionado.
Poderia esse homem que apresentava os vestígios da labuta e da pobreza, ser o Messias?
Entretanto, não se podia decidir a rejeitar a Jesus; pois a mensagem do Batista
lhe infundira convicção.
Ao tempo em que
Filipe o chamou, Natanael se havia retirado para um bosque sossegado, a fim de
meditar sobre o anúncio de João, e as profecias concernentes ao Messias. Orou
para que se Aquele que João anunciara fosse o libertador, isso lhe fosse dado a
conhecer, e o Espírito Santo repousou sobre ele com a certeza de que Deus
visitara Seu povo, levantando-lhes um poder salvador. Filipe sabia que seu
amigo estava examinando as profecias, e enquanto Natanael orava sob uma
figueira, descobriu-lhe o retiro. Muitas vezes haviam orado juntos nesse
isolado lugar, ocultos pela folhagem.
A mensagem: “Havemos
achado Aquele de quem Moisés escreveu na lei, e os profetas”, pareceu a
Natanael uma resposta direta a sua oração. Mas Filipe tinha ainda fé vacilante.
Acrescentou, duvidoso: “Jesus de Nazaré, filho de José”. João 1:45. Novamente
surgiu o preconceito no coração de Natanael. Exclamou: “Pode vir alguma coisa
boa de Nazaré?” João 1:46.
Filipe não entrou em
discussão. Disse: “Vem, e vê. Jesus viu Natanael vir ter com Ele, e disse dele:
Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo”! João 1:46, 47.
Surpreendido, exclamou Natanael: “De onde me conheces Tu? Jesus respondeu, e
disse: Antes que Filipe te chamasse, te vi Eu, estando tu debaixo da figueira”.
João 1:48.
Foi suficiente. O
divino Espírito que dera testemunho a Natanael em sua solitária oração sob a
figueira, falou-lhe agora nas palavras de Jesus. Conquanto em dúvida, e de
algum modo cedendo ao preconceito, Natanael fora ter com Cristo, possuído do
sincero anelo de conhecer a verdade, e agora seu desejo foi satisfeito. Sua fé
foi além da daquele que o levara a Jesus. Respondeu: “Rabi, Tu és o Filho de
Deus, Tu és o Rei de Israel”. João 1:49.
Se Natanael houvesse
confiado na direção dos rabis, nunca haveria encontrado a Jesus. Foi vendo e
julgando por si mesmo, que se tornou discípulo. Assim acontece no caso de
muitos hoje em dia, a quem o preconceito impede de aceitar o bem. Quão diverso
seria o resultado, viessem eles e vissem!
Enquanto confiar na
guia da autoridade humana, ninguém chegará a um salvador conhecimento da
verdade. Como Natanael, necessitamos estudar por nós mesmos a Palavra de Deus,
e orar pela iluminação do Espírito Santo. Aquele que viu Natanael debaixo da
figueira, ver-nos-á no lugar secreto da oração. Anjos do mundo da luz acham-se
ao pé daqueles que, em humildade, buscam a guia divina.
Com a vocação de
João, André e Simão, Filipe e Natanael, começou o fundamento da igreja cristã.
João dirigiu dois de seus discípulos a Cristo. Então, um deles, André, achou a
seu irmão, e chamou-o para o Salvador. Foi logo chamado Filipe, e este foi em
busca de Natanael. Esses exemplos nos devem ensinar a importância do esforço
pessoal, de fazer apelos diretos a nossos parentes, amigos e vizinhos. Existem
pessoas que, durante uma existência, têm professado estar relacionadas com
Cristo, e todavia nunca fizeram um esforço pessoal para levar uma pessoa sequer
ao Salvador. Deixam todo o trabalho ao ministro. Este pode ser apto para sua
vocação, mas não lhe é possível fazer aquilo que Deus deixou aos membros da
igreja.
Muitos há que
necessitam do serviço de amoráveis corações cristãos. Têm-se imergido na ruína
muitos que poderiam ter sido salvos, houvessem seus vizinhos, homens e mulheres
comuns, se esforçado em benefício deles. Muitos há à espera de que alguém se
lhes dirija pessoalmente. Na própria família, na vizinhança, na cidade em que
residimos, há trabalho para fazermos como missionários de Cristo. Se somos
cristãos, essa obra será nosso deleite. Mal está uma pessoa convertida, nasce
dentro dela o desejo de tornar conhecido a outros que precioso amigo encontrou
em Jesus. A salvadora e santificadora verdade não lhe pode ficar fechada no
coração.
Todos quantos se
consagram a Deus, podem ser portadores de luz. Deus os torna instrumentos Seus
para comunicar a outros as riquezas de Sua graça. Sua promessa é: “E a elas, e
aos lugares ao redor do Meu outeiro, Eu porei por bênção; e farei descer a
chuva a seu tempo; chuvas de bênçãos serão”. Ezequiel 34:26.
Filipe disse a
Natanael: “Vem, e vê”. João 1:46. Não lhe pediu que aceitasse outro testemunho,
mas que fosse a Cristo por si mesmo. Agora, que Jesus subiu ao Céu, Seus
discípulos são Seus representantes entre os homens, e um dos meios mais
eficazes de conquistar almas para Ele, é exemplificar-Lhe o caráter na vida
diária. Nossa influência sobre outros não depende tanto do que dizemos, mas do
que somos. Os homens podem combater ou desafiar a nossa lógica, podem resistir
a nossos apelos; mas a vida de amor desinteressado é um argumento que não pode
ser contradito. A vida coerente, caracterizada pela mansidão de Cristo, é uma
força no mundo.
O ensino de Cristo
era o resultado de firme convicção e experiência, e os que dEle aprendem se
tornam mestres de uma ordem divina. A Palavra de Deus falada por uma pessoa
santificada por ela, tem poder comunicador de vida, que a torna atrativa aos
que a escutam, convencendo-os de que é uma divina realidade. Quando alguém
recebeu a verdade em amor, isso se tornará manifesto na persuasão de suas
maneiras e nos tons de sua voz. Torna conhecido o que ele próprio ouviu, viu e
manuseou da palavra da vida, a fim de outros poderem partilhar com ele mediante
o conhecimento de Cristo. Seu testemunho, de lábios tocados com a brasa viva do
altar, é verdade para o coração apto a receber, e opera a santificação do
caráter.
E aquele que procura
comunicar luz aos outros, será ele próprio abençoado. “Chuvas de bênçãos
serão.” “O que regar também será regado”. Provérbios 11:25. Deus poderia haver
realizado Seu desígnio de salvar pecadores sem o nosso auxílio; mas a fim de desenvolvermos
caráter semelhante ao de Cristo, é-nos preciso partilhar de Sua obra. A fim de
participar da alegria dEle — a alegria
de ver pessoas
redimidas por Seu sacrifício — devemos tomar parte em Seus labores para
redenção delas.
A primeira expressão
de fé da parte de Natanael, soou como música aos ouvidos de Jesus. E Ele
“respondeu, e disse-lhe: Porque te disse: Vi-te debaixo da figueira, crês?
coisas maiores do que estas verás”. O Salvador antecipava com alegria Sua obra
de pregar boas novas aos mansos, restaurar os contritos de coração e proclamar
liberdade aos cativos de Satanás. Ao pensamento das preciosas bênçãos que
trouxera aos homens, Jesus acrescentou: “Na verdade, na verdade vos digo que
daqui em diante vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo
sobre o Filho do homem”. João 1:50, 51.
Com isso, Cristo
virtualmente diz: nas margens do Jordão os céus se abriram, e o Espírito desceu
como pomba sobre Mim. Aquela cena não era senão um testemunho de que Eu sou o
Filho de Deus. Se crerdes em Mim como tal, vossa fé será vivificada. Vereis que
os céus se acham abertos, e nunca se hão de fechar. Eu os abri a vós. Os anjos
de Deus estão subindo, levando as orações dos necessitados e aflitos ao Pai em
cima, e descendo, trazendo bênçãos e esperança, ânimo, auxílio e vida aos
filhos dos homens.
Os anjos de Deus
estão sempre indo da Terra ao Céu e do Céu à Terra. Os milagres de Cristo pelos
aflitos e sofredores, foram operados pelo poder de Deus através do ministério
dos anjos. E é por meio de Cristo, pelo ministério de Seus mensageiros
celestiais, que toda bênção nos advém de Deus. Tomando sobre Si a humanidade,
nosso Salvador une Seus interesses aos dos caídos filhos de Adão, ao passo que
mediante Sua divindade, lança mão do trono de Deus. E assim Cristo é o mediador
da comunicação dos homens com Deus, e de Deus com os homens.
Comentários
Postar um comentário