Jesus purifica o templo
O Desejado de Todas as Nações
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CAPÍTULO 16
Em Seu Templo
O Desejado de Todas as Nações
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O Desejado de Todas as Nações
CAPÍTULO 16
Em Seu Templo
"Depois disto desceu a Cafarnaum, Ele, e Sua mãe, e Seus
discípulos, e ficaram ali não muitos dias. Estava próxima a Páscoa dos judeus,
e Jesus subiu a Jerusalém." João 2:12 e 13.
Nessa jornada, uniu-Se Jesus a
um grande grupo que ia de caminho para a capital. Ainda não havia anunciado
publicamente Sua missão, e misturava-Se despercebido com o povo. Nessas
ocasiões, a vinda do Messias, a que o ministério de João dera tanta
preeminência, era muitas vezes o tema de conversação. Com vivo entusiasmo
consideravam a esperança da grandeza nacional. Jesus sabia que essa esperança
haveria de sofrer decepção, pois baseava-se em uma falsa compreensão das
Escrituras. Com profundo zelo explicava Ele as profecias, e procurava despertar
os homens para mais acurado estudo da Palavra de Deus.
Os guias judaicos haviam
instruído o povo de que em Jerusalém deviam ser ensinados quanto ao culto a
Deus. Ali, durante a semana da Páscoa, se reuniam em grande número, vindos de
todas as partes da Palestina, e mesmo de terras distantes. Os pátios do templo
enchiam-se de uma multidão promíscua. Muitos não podiam levar consigo os
sacrifícios que deviam ser oferecidos em símbolo do grande Sacrifício. Para
comodidade destes, compravam-se e vendiam-se animais no pátio exterior do
templo. Ali se reunia toda espécie de gente para comprar suas ofertas. Ali se
trocava todo o dinheiro estrangeiro pela moeda do santuário.
Todo judeu tinha por dever pagar anualmente meio siclo como
"resgate da sua alma" (Êxo. 30:12-16); e o dinheiro assim obtido era
empregado para manutenção do templo. Além disso, levavam-se grandes somas, como
ofertas voluntárias, para serem depositadas no tesouro do templo. E exigia-se
que todo dinheiro estrangeiro fosse trocado por uma moeda chamada o siclo do
templo, a qual era aceita para o serviço do santuário. A troca do dinheiro dava
lugar a fraude e extorsão, havendo descaído em desonroso tráfico, fonte de
lucros para os sacerdotes.
Os mercadores exigiam preços
exorbitantes pelos animais vendidos, e dividiam o proveito com os sacerdotes e
principais, que enriqueciam assim à custa do povo. Ensinara-se aos adoradores
que, se não oferecessem sacrifícios, as bênçãos de Deus não repousariam sobre
seus filhos e sua terra. Assim era garantido elevado preço pelos animais;
porque, depois de vir de tão longe, o povo não queria voltar para casa sem
realizar o ato de devoção que ali o levara.
Grande era o número de
sacrifícios oferecidos por ocasião da Páscoa, e avultadas as vendas no templo.
A consequente confusão dava a ideia de uma ruidosa feira de gado, e não do
sagrado templo de Deus. Ali se podiam ouvir ásperos ajustes de compras, o mugir
do gado, o balir de ovelhas, o arrulho de pombos, de mistura com o tinir de
moedas e violentas discussões. Tão grande era a confusão, que os sacerdotes
eram perturbados, e as palavras dirigidas ao Altíssimo, afogadas pelo tumulto
que invadia o templo. Os judeus orgulhavam-se extremamente de sua piedade.
Regozijavam-se por causa de seu templo, e reputavam blasfêmia uma palavra
proferida em desmerecimento do mesmo; eram muito rigorosos quanto à execução
das cerimônias com ele relacionadas; o amor do dinheiro, porém, desfazia todos
os escrúpulos. Mal se apercebiam de quão longe tinham sido levados do original
desígnio do serviço instituído pelo próprio Deus.
Quando o Senhor descera sobre o
monte Sinai, o lugar fora consagrado por Sua presença. Moisés recebeu ordens de
pôr limites em volta do monte e santificá-lo, e a palavra do Senhor se fez
ouvir em advertência: "Guardai-vos que não subais ao monte, nem toqueis o
seu termo; todo aquele que tocar o monte certamente morrerá. Nenhuma mão tocará
nele, porque certamente será apedrejado ou asseteado; quer seja animal, quer
seja homem, não viverá." Êxo. 19:12 e 13. Assim foi ensinada a lição de
que sempre que Deus manifesta Sua presença, o lugar é santo. As dependências do
templo de Deus deviam ser consideradas sagradas. Na luta pelo ganho, porém,
tudo isso se perdeu de vista.
Os sacerdotes e principais, chamados para ser representantes de
Deus perante a nação, deviam ter corrigido os abusos do pátio do templo. Deviam
haver dado ao povo um exemplo de integridade e compaixão. Em lugar de cuidar do
próprio proveito, deviam ter considerado a situação e as necessidades dos
adoradores, e estado prontos a ajudar os que não podiam comprar os sacrifícios
exigidos. Mas assim não fizeram. A avareza lhes endurecera o coração.
Iam a essa festa pessoas que se achavam em sofrimento, em
necessidade, em aflição. O cego, o coxo, o surdo, ali se achavam. Alguns eram
levados em leitos. Iam muitos demasiado pobres para comprar a mais humilde
oferta para o Senhor, pobres demais mesmo para comprar o alimento com que
saciassem a própria fome. Estes ficavam grandemente desanimados com as
declarações dos sacerdotes. Os sacerdotes gloriavam-se de sua piedade;
pretendiam ser os guardas do povo; eram no entanto, faltos de simpatia e
compaixão. O pobre, o doente, o moribundo, em vão suplicavam favor. Seus
sofrimentos não despertavam piedade no coração dos sacerdotes.
Ao penetrar Jesus no templo,
abrangeu toda a cena. Viu as desonestas transações. Viu a aflição do pobre, que
julgava que, sem derramar sangue, não havia perdão para seus pecados. Viu o
pátio exterior do Seu templo convertido em lugar de comércio profano. O sagrado
recinto transformara-se em vasta praça de câmbio.
Cristo viu que era necessário
fazer alguma coisa. Numerosas eram as cerimônias exigidas do povo, sem a devida
instrução quanto ao sentido das mesmas. Os adoradores ofereciam seus
sacrifícios, sem compreender que eram símbolos do único Sacrifício perfeito. E
entre eles, não reconhecido nem honrado, achava-Se Aquele a quem prefiguravam
todos os seus cultos. Ele dera instruções quanto às ofertas. Compreendia-lhes o
valor simbólico, e via que estavam agora pervertidas e mal interpretadas. O
culto espiritual estava desaparecendo rapidamente. Nenhum laço ligava os
sacerdotes e principais ao seu Deus. A obra de Cristo era estabelecer um culto
totalmente diverso.
Enquanto ali, de pé, nos
degraus do pátio do templo, Cristo abrangeu com penetrante visão, a cena que
estava perante Ele. Seu olhar profético penetra o futuro, e vê, não somente
anos, mas séculos e gerações. Vê como sacerdotes e principais despojam o
necessitado de seu direito, e proíbem que o evangelho seja pregado ao pobre. Vê
como o amor de Deus seria ocultado aos pecadores, e os homens fariam de Sua
graça mercadoria. Ao contemplar a cena, exprimem-se-Lhe na fisionomia
indignação, autoridade e poder. A atenção do povo é para Ele atraída. Voltam-se
para Ele os olhares dos que se acham empenhados no profano comércio. Não podem
dEle despregar os olhos. Sentem-se que esse Homem lhes lê os mais íntimos
pensamentos, e lhes descobre os ocultos motivos. Alguns tentam esconder o
rosto, como se suas más ações lhes estivessem escritas no semblante, para serem
perscrutadas por aqueles olhos penetrantes.
Silencia o tumulto. O som do tráfico e dos ajustes cessa. O
silêncio torna-se penoso. Apodera-se da assembleia um sentimento de respeito. É
como se estivessem citados perante o tribunal de Deus, para responder por seus
atos. Olhando para Cristo, vêem a divindade irradiando através do invólucro
humano. A Majestade do Céu está como o Juiz há de estar no derradeiro dia - não
circundado agora da glória que O acompanhará então, mas com o mesmo poder de
ler a alma. Seu olhar percorre rapidamente a multidão, abrangendo cada
indivíduo. Seu vulto parece elevar-se acima deles, em imponente dignidade, e
uma luz divina ilumina-Lhe o semblante. Fala, e Sua clara, retumbante voz - a
mesma que, do Sinai, proclamara a lei que sacerdotes e principais ora
transgridem - ouve-se ecoar através das arcadas do templo: "Tirai daqui
estes, e não façais da casa de Meu Pai casa de venda." João 2:16.
Descendo silenciosamente, e
erguendo o açoite de cordéis apanhado ao entrar no recinto, manda aos
vendedores que se afastem das dependências do templo. Com zelo e severidade
nunca dantes por Ele manifestados, derriba as mesas dos cambistas. Rola a
moeda, ressoando fortemente no mármore do chão. Ninguém Lhe pretende questionar
a autoridade. Ninguém ousa deter-se para apanhar o mal-adquirido ganho. Jesus
não lhes bate com o açoite de cordéis, mas aquele simples açoite parece, em
Suas mãos, terrível como uma espada flamejante. Oficiais do templo, sacerdotes,
corretores e mercadores de gado, com suas ovelhas e bois, saem precipitadamente
do lugar, com o único pensamento de escapar à condenação de Sua presença.
Um pânico percorre pela
multidão, que se sente ofuscada por Sua divindade. Gritos de terror escapam-se
de centenas de lábios desmaiados. Os próprios discípulos tremem. São abalados
pelas palavras e maneiras de Jesus, tão diversas de Sua atitude habitual.
Lembram-se de que está escrito a Seu respeito. "O zelo da Tua casa Me
devorou." Sal. 69:9. Dentro em pouco a tumultuosa turba com as mercadorias
é removida para longe do templo do Senhor. Os pátios ficam livres do comércio
profano, e sobre a cena de confusão baixam silêncio e solenidade profundos. A presença
do Senhor, que outrora santificara o monte, tornou agora sagrado o templo
erigido em Sua honra.
Com a purificação do templo, anunciou Jesus Sua missão como Messias.
Aquele templo, erigido, para morada divina, destinava-se a ser uma lição
objetiva para Israel e o mundo. Desde os séculos eternos era o desígnio de Deus
que todos os seres criados, desde os luminosos e santos serafins até ao homem,
fossem um templo para morada do Criador. Devido ao pecado, a humanidade cessou
de ser o templo de Deus. Obscurecido e contaminado pelo pecado, o coração do
homem não mais revelava a glória da Divindade. Pela encarnação do Filho de
Deus, porém, cumpriu-se o desígnio do Céu. Deus habita na humanidade, e
mediante a salvadora graça, o coração humano se torna novamente um templo. O
Senhor tinha em vista que o templo de Jerusalém fosse um testemunho contínuo do
elevado destino franqueado a toda alma. Os judeus, no entanto, não haviam
compreendido a significação do edifício de que tanto se orgulhavam. Não se
entregavam como templos santos para o divino Espírito. Os pátios do templo de
Jerusalém, cheios do tumulto de um tráfico profano, representavam com exatidão
o templo da alma, contaminado por paixões sensuais e pensamentos profanos.
Purificando o templo dos compradores e vendilhões mundanos, Jesus anunciou Sua
missão de limpar a alma da contaminação do pecado - dos desejos terrenos, das
ambições egoístas, dos maus hábitos que a corrompem. "De repente virá ao
Seu templo o Senhor, a quem vós buscais, o anjo do concerto, a quem vós
desejais; eis que vem, diz o Senhor dos Exércitos. Mas quem suportará o dia da
Sua vinda? E quem subsistirá quando Ele aparecer? porque Ele será como o fogo
dos ourives e como o sabão dos lavandeiros. E assentar-Se-á, afinando e
purificando a prata; e purificará os filhos de Levi, e os afinará como ouro e
como prata". Mal. 3:1-3. "Não sabeis vós que sois o templo de Deus, e
que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus
o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo". I Cor. 3:16
e 17. Homem algum pode de si mesmo expulsar a turba má que tomou posse do
coração. Unicamente Cristo pode purificar o templo da alma. Não forçará, porém,
a entrada. Não vem ao templo do coração como ao de outrora; mas diz: "Eis
que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta,
entrarei em sua casa". Apoc. 3:20. Ele virá, não somente por um dia; pois
diz: "Neles habitarei, e entre eles andarei: ... e eles serão o Meu
povo". II Cor. 6:16.
"Subjugará as nossas iniquidades, e lançará todos os nossos
pecados nas profundezas do mar". Miq. 7:19. Sua presença purificará e
santificará a alma, de maneira que ela seja um santo templo para o Senhor, e
uma "morada de Deus em Espírito". Efés. 2:21 e 22.
Dominados de terror, os
sacerdotes e os principais haviam fugido do pátio do templo, e do olhar
penetrante que lhes lia o coração. Em sua fuga, encontraram-se com outros que
iam para o templo, e pediram-lhes que voltassem, contando-lhes o que tinham
visto e ouvido. Cristo olhava para os homens a fugir, em compassiva piedade
pelo temor deles, e por sua ignorância do que constituísse o verdadeiro culto.
Viu, nessa cena, simbolizada a dispersão de todo o povo judeu por causa de sua
maldade e impenitência.
E por que fugiam do templo os
sacerdotes? Por que não defenderam sua posição? Aquele que lhes ordenava que se
fossem era o filho de um carpinteiro, um pobre galileu, sem posição nem poder
terrestre. Por que Lhe não resistiram? Por que deixaram o tão mal-adquirido
ganho, e fugiram ao mando de uma pessoa de tão humilde aparência?
Cristo falava com a autoridade
de um rei, e em Seu aspecto, e no tom de Sua voz havia alguma coisa a que eles
não podiam resistir. À voz de comando compreenderam, como nunca dantes, sua
verdadeira posição de hipócritas e roubadores. Quando a divindade irradiou
através da humanidade, não viram apenas indignação na fisionomia de Cristo;
perceberam o significado de Suas palavras. Sentiram-se como perante o trono do
eterno Juiz, tendo sobre si Sua sentença para este século e a eternidade. Por
algum tempo, ficaram convencidos de que Cristo era profeta; e muitos
acreditaram ser o Messias. O Espírito Santo, como num relâmpago, lhes fez
acudir à mente palavras dos profetas com respeito a Cristo. Render-se-iam a
esta convicção?
Arrepender-se, não o queriam
eles. Sabiam que se haviam despertado as simpatias de Cristo para com os
pobres. Sabiam-se culpados de extorsão em seu trato com o povo. Como Cristo
lhes penetrasse os pensamentos, aborreceram-nO. Sua pública repreensão
humilhava-lhes o orgulho, e tinham ciúmes da crescente influência que ia
conquistando entre o povo. Decidiram intimidá-Lo a declarar com que autoridade
os expulsara, e quem Lha conferira.
Lenta e refletidamente, mas com
ódio no coração, voltaram ao templo. Que mudança, porém, se operara durante sua
ausência!
Ao fugirem, haviam ficado atrás os pobres; e estes contemplavam
agora a Jesus, cujo semblante exprimia amor e simpatia. Com olhos marejados de
lágrimas, dizia às trêmulas criaturas que O cercavam: Não temas; Eu te
livrarei, e tu Me glorificarás. Para isso vim ao mundo.
O povo comprimia-se diante
dEle, dirigindo-Lhe insistentes e lastimosos apelos. Mestre, abençoa-me! Seus
ouvidos escutavam a todo clamor. Com uma compaixão maior que a de uma terna
mãe, inclinava-Se para os sofredores. Todos eram objeto de Sua atenção. Cada um
era curado de qualquer moléstia que tivesse. Os mudos abriam os lábios em
louvor; os cegos contemplavam o rosto de seu Restaurador. Alegrava-se o coração
dos enfermos.
Ao passo que os sacerdotes e
oficiais do templo testemunhavam essa grande obra, que revelação não era para
eles o que lhes chegava aos ouvidos! O povo contava a história de seus
padecimentos, das frustradas esperanças, dos dolorosos dias e noites insones.
Quando a última centelha de esperança parecia extinta, Cristo os curara. O
fardo era pesado, dizia um, mas encontrei um Ajudador. Ele é o Cristo de Deus,
e devotarei minha vida a Seu serviço. Pais diziam aos filhos: Ele te salvou a
vida; levanta a tua voz e bendize-O. A voz das crianças e a dos jovens, pais e
mães, amigos e espectadores uniam-se em louvor. Esperança e alegria
enchiam-lhes o coração. O espírito possuía-se de paz. Eram restaurados na alma
e no corpo, e voltavam para casa proclamando por toda parte o incomparável amor
de Jesus.
Na crucifixão, os que assim
foram curados não se uniram à turba vil que exclamava: "Crucifica-O,
crucifica-O". Suas simpatias eram para Jesus; pois Lhe haviam sentido a
grande compaixão e o maravilhoso poder. Sabiam que era seu Salvador; pois lhes
dera saúde física e espiritual. Escutaram as pregações dos apóstolos, e a
entrada da Palavra de Deus em seu coração lhes dera entendimento. Tornaram-se
instrumentos da misericórdia de Deus, de Sua salvação.
A multidão que fugira do
templo, passado algum tempo, foi voltando devagar. Haviam-se recobrado em parte
do terror que deles se apoderara, mas suas fisionomias exprimiam irresolução e
timidez. Olhavam com pasmo as obras de Jesus, e ficavam convencidos de que nEle
tinham cumprimento as profecias concernentes ao Messias. O pecado de profanação
do templo cabia, em grande parte, aos sacerdotes. Fora por arranjos da parte
deles que o pátio se transformara em mercado. O povo era relativamente
inocente. Foi impressionado pela divina autoridade de Jesus; mas para ele a
influência dos sacerdotes e principais era suprema. Estes consideravam a missão
de Cristo como uma inovação, e punham em dúvida Seu direito de interferir
naquilo que era permitido por autoridades do templo. Ofenderam-se por haver
sido interrompido o comércio, e sufocaram as convicções originadas pelo
Espírito Santo.
Mais que quaisquer outros, deviam os sacerdotes e principais ter
visto que Jesus era o ungido do Senhor; pois tinham nas próprias mãos os rolos
que Lhe descreviam a missão, e sabiam que a purificação do templo era uma
manifestação de poder sobre-humano. A despeito de aborrecerem a Jesus, não se
podiam eximir ao pensamento de que fosse um profeta enviado por Deus, para
restaurar a santidade do templo. Com uma deferência nascida desse temor, a Ele
se dirigiram com a indagação: "Que sinal nos mostras para fazeres
isto?" João 2:18.
Jesus lhes mostrara um sinal.
Fazendo com que a luz brilhasse no coração deles, e realizando em sua presença
as obras que o Messias devia efetuar, dera convincentes provas de Seu caráter.
Ora, ao pedirem um sinal, respondeu-lhes por meio de uma parábola, mostrando
que lhes lia a malevolência, e via a que ponto esta os levaria. "Derribai
este templo", disse, "e em três dias o levantarei". João 2:19.
Estas palavras encerravam um
duplo sentido. Ele não Se referia somente à destruição do templo judaico e do
culto, mas a Sua própria morte - a destruição do templo de Seu corpo. Esta os
judeus estavam já tramando. Quando os sacerdotes e principais voltaram ao
templo, haviam-se proposto matar Jesus, livrando-se assim do perturbador. Ao
apresentar-lhes Ele seus desígnios, porém, não O compreenderam. Tomaram-Lhe as
palavras como se aplicando ao templo de Jerusalém, e exclamaram com indignação:
"Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e Tu o levantarás em
três dias?" Acharam então que Jesus lhes justificara a incredulidade, e
confirmaram sua rejeição dEle.
Não era intenção de Jesus que
Suas palavras fossem compreendidas no momento pelos incrédulos judeus, nem
mesmo pelos discípulos. Sabia que seriam torcidas pelos inimigos, e voltadas
contra Ele próprio. Em Seu julgamento, seriam apresentadas como acusação,
sendo-Lhe, no Calvário, arremessadas como insulto. Explicá-las, no entretanto,
seria dar a conhecer aos discípulos Seus sofrimentos, trazendo sobre eles uma
dor que ainda não estavam aptos a suportar. E uma exposição delas seria
desvendar prematuramente aos judeus o resultado de seus preconceitos e
incredulidade. Já tinham entrado num caminho em que deliberadamente haviam de
prosseguir, até que Ele fosse levado como ovelha ao matadouro.
Foi por amor dos que haviam de
crer em Cristo que essas palavras foram proferidas. Ele sabia que seriam
repetidas. Pronunciadas por ocasião da Páscoa, seriam levadas aos ouvidos de
milhares, e a todas as partes do mundo. Depois de Ele haver ressuscitado dos
mortos, o sentido delas se tornaria claro. Para muitos, seriam conclusiva prova
de Sua divindade.
Devido a sua treva espiritual,
os próprios discípulos de Jesus deixaram muitas vezes de Lhe compreender as
lições. Muitas delas se tornaram claras, porém, em vista de acontecimentos
posteriores. Quando Jesus já não andava com eles, Suas palavras lhes serviam de
esteio ao coração.
No que se referia ao templo de
Jerusalém, as palavras do Salvador: "Derribai este templo, e em três dias
o levantarei", tinham mais profundo sentido do que o apreendido pelos
ouvintes. Cristo era o fundamento e a vida do templo. Os cultos deste eram
típicos do sacrifício do Filho de Deus. O sacerdócio fora estabelecido para
representar o caráter mediador e a obra de Cristo. Todo o plano do culto
sacrifical era uma representação da morte do Salvador para redimir o mundo. Não
haveria eficácia nessas ofertas, quando o grande acontecimento a que por
séculos haviam apontado, se viesse a consumar.
Uma vez que toda a ordem ritual
era simbólica de Cristo, não tinha valor sem Ele. Quando os judeus selaram sua
rejeição de Cristo, entregando-O à morte, rejeitaram tudo quanto dava
significação ao templo e seus cultos. Sua santidade desaparecera. Estava
condenado à destruição. Daquele dia em diante, as ofertas sacrificais e o
serviço com elas relacionado eram destituídos de significado. Como a oferta de
Caim, não exprimiam fé no Salvador. Condenando Cristo à morte, os judeus
destruíram virtualmente seu templo. Quando Cristo foi crucificado, o véu
interior do templo se rasgou em dois de alto a baixo, significando que o grande
sacrifício final fora feito, e que o sistema de ofertas sacrificais cessara
para sempre.
"Em três dias o
levantarei". Por ocasião da morte do Salvador as potências das trevas
pareciam prevalecer, e exultaram em sua vitória. Do fendido sepulcro de José,
porém, saiu Jesus vitorioso. "Despojando os principados e potestades, os
expôs publicamente e deles triunfou em Si mesmo". Col. 2:15. Pela virtude
de Sua morte e ressurreição, tornou-Se o ministro do "verdadeiro
tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem". Heb. 8:2. Foram
homens que erigiram o tabernáculo judaico; homens construíram o templo; o
santuário de cima, porém, do qual o terrestre era o símbolo, não foi construído
por nenhum arquiteto humano. "Eis aqui o Homem cujo nome é Renovo; Ele
mesmo edificará o templo do Senhor, e levará a glória, assentar-Se-á, e dominará
no Seu trono". Zac. 6:12 e 13.
O serviço sacrifical que
apontara a Cristo passou, mas os olhos dos homens voltaram-se para o sacrifício
verdadeiro pelos pecados do mundo. O sacerdócio terrestre terminou; mas nós
olhamos a Jesus, o ministro do novo concerto, e "ao sangue da aspersão,
que fala melhor do que o de Abel". Heb. 12:24. "O caminho do
santuário não estava descoberto enquanto se conservava em pé o primeiro
tabernáculo, ... mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um
maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, ... mas por Seu próprio
sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna
redenção". Heb. 9:8-12.
"Portanto, pode também
salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para
interceder por eles". Heb. 7:25. Conquanto o serviço houvesse de ser
transferido do templo terrestre ao celestial; embora o santuário e nosso grande
Sumo Sacerdote fossem invisíveis aos olhos humanos, todavia os discípulos não
sofreriam com isso nenhum detrimento. Não experimentariam nenhuma falha em sua
comunhão, nem enfraquecimento de poder devido à ausência do Salvador. Enquanto
Cristo ministra no santuário em cima, continua a ser, por meio de Seu Espírito,
o ministro da igreja na Terra. Ausente de nossos olhos, cumpre-se, entretanto,
a promessa que nos deu ao partir: "Eis que Eu estou convosco todos os
dias, até à consumação dos séculos". Mat. 28:20. Conquanto delegue Seu
poder a ministros inferiores, Sua vitalizante presença permanece ainda em Sua
igreja.
"Visto que temos um grande
sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus ... retenhamos firmemente a nossa
confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-Se de
nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.
Cheguemos pois com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar
misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno".
Heb. 4:14-16.
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