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Capítulo 6
— À porta do templo
Este
capítulo é baseado em Atos dos Apóstolos 3; 4:1-31.
Os
discípulos de Cristo tinham profundo senso da própria ineficiência e, com
humilhação e oração, uniam sua fraqueza a Sua força, sua ignorância a Sua
sabedoria, sua indignidade a Sua justiça e sua pobreza a Sua inesgotável
riqueza. Assim fortalecidos e equipados, não hesitaram em avançar a serviço do
Mestre.
Pouco tempo
após a descida do Espírito Santo, e imediatamente depois de um período de
fervorosa oração, Pedro e João, subindo ao templo para adorar, viram à porta
Formosa, um coxo, de quarenta anos de idade, cuja vida, desde o seu nascimento,
tinha sido de dor e enfermidade. Esse infeliz havia durante muito tempo
desejado ver Jesus para ser curado, mas encontrava-se quase ao desamparo, e
estava muito afastado do cenário dos labores do grande Médico. Seus rogos
finalmente induziram alguns amigos a levá-lo à porta do templo, mas chegando
ali, soube que Aquele em quem suas esperanças se centralizavam havia sido morto
cruelmente.
Seu
desapontamento provocou a simpatia dos que sabiam por quanto tempo ele
avidamente esperara ser curado por Jesus, e diariamente o levavam ao templo, a
fim de que os que passavam fossem, pela piedade, induzidos a dar-lhe uma
ninharia para lhe aliviar as necessidades. Ao passarem Pedro e João, pediu-lhes
uma esmola. Os discípulos olharam-no com compaixão, e Pedro disse: “Olha para
nós. E olhou para eles, esperando receber deles alguma coisa. E disse Pedro:
Não tenho prata nem ouro”. Atos dos Apóstolos 3:4-6. Ao declarar Pedro desta
maneira a sua pobreza, o rosto do coxo descaiu; mas tornou-se radiante com
esperança ao continuar o apóstolo: “Mas o que tenho isso te dou. Em nome de
Jesus Cristo o Nazareno, levanta-te e anda”. Atos dos Apóstolos 3:6.
“E,
tomando-o pela mão direita, o levantou, e logo os seus pés e artelhos se
firmaram. E, saltando ele, pôs-se em pé, e andou, e entrou com eles no templo,
andando, e saltando, e louvando a Deus”. Atos dos Apóstolos 3:7, 8.
“E,
apegando-se o coxo, que fora curado, a Pedro e João, todo o povo correu atônito
para junto deles, ao alpendre chamado de Salomão”. Atos dos Apóstolos 3:11.
Estavam estupefatos de que os discípulos pudessem efetuar milagres semelhantes
aos que foram realizados por Jesus. Contudo, ali estava aquele homem que,
durante quarenta anos, fora um coxo inválido, regozijando-se agora em pleno uso
de seus membros, livre de dor, e feliz por crer em Jesus. Quando os discípulos
viram o espanto do povo, Pedro perguntou:
“Por que
vos maravilhais disto? Ou, por que olhais tanto para nós, como se por nossa
própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem?” Atos dos Apóstolos
3:12. Assegurou-lhes que a cura tinha sido operada em nome e pelos méritos de
Jesus de Nazaré, a quem Deus ressuscitara dos mortos. “Pela fé no Seu nome”,
declarou o apóstolo, “fez o Seu nome fortalecer a este que vedes e conheceis; e
a fé que é por Ele deu a este, na presença de todos vós, essa perfeita saúde”.
Atos dos Apóstolos 3:16.
Os
apóstolos falaram claramente do grande pecado dos judeus, em terem rejeitado e
matado o Príncipe da vida; mas foram cuidadosos em não levar seus ouvintes ao
desespero. “Vós negastes o Santo e o Justo”, disse Pedro, “e matastes o
Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dos mortos, do que nós somos
testemunhas” “E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como
também os vossos príncipes, mas Deus assim cumpriu o que já antes pela boca de
todos os Seus profetas havia anunciado; que o Cristo havia de padecer”. Atos
dos Apóstolos 3:14, 15, 17, 18. Ele declarou que o Espírito Santo os estava
chamando para arrependimento e conversão, e assegurou-lhes que não havia
esperança de salvação a não ser mediante a graça dAquele a quem haviam
crucificado. Somente pela fé nEle podiam seus pecados ser perdoados.
“Arrependei-vos,
pois, e convertei-vos,” exclamou ele, “para que sejam apagados os vossos
pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor”. Atos
dos Apóstolos 3:19.
“Vós sois
os filhos dos profetas e do concerto que Deus fez com nossos pais, dizendo a
Abraão: Na tua descendência serão benditas todas as famílias da Terra.
Ressuscitando Deus a Seu Filho Jesus, primeiro O enviou a vós, para que nisso
vos abençoasse, e vos desviasse, a cada um, das vossas maldades”. Atos dos
Apóstolos 3:25, 26.
Assim os
discípulos pregaram a ressurreição de Cristo. Muitos entre os que os ouviam
estavam esperando por este testemunho e, quando o ouviram, creram. Vieram-lhes
à mente as palavras que Cristo havia dito, e tomaram posição ao lado dos que
aceitaram o evangelho. A semente que o Salvador havia plantado brotava e
produzia frutos.
Enquanto os
discípulos falavam ao povo, “sobrevieram os sacerdotes, e o capitão do templo,
e os saduceus, doendo-se muito de que ensinassem o povo, e anunciassem em Jesus
a ressurreição dos mortos”. Atos dos Apóstolos 4:1, 2.
Após a
ressurreição de Cristo, os sacerdotes tinham espalhado longe e perto a mentira
de que Seu corpo tinha sido roubado pelos discípulos enquanto a guarda romana
dormia. Não é de admirar que tenham ficado descontentes quando ouviram Pedro e
João pregar a ressurreição dAquele que haviam matado. Os saduceus,
especialmente, estavam sobremodo alvoroçados. Sentiam que suas mais acariciadas
doutrinas estavam em perigo e sua reputação em risco.
Os
conversos à nova fé estavam rapidamente aumentando, e tanto fariseus como
saduceus concordaram em que, se permitissem a esses novos ensinadores
prosseguir livremente, sua própria influência estaria em maior perigo do que
quando Jesus estava na Terra. Em conformidade com isso, o capitão do templo,
com auxílio de alguns dos saduceus, deteve Pedro e João, e os pôs na prisão,
visto ser muito tarde para os interrogar naquele dia.
Os inimigos
dos discípulos não podiam deixar de estar convencidos de que Cristo
ressuscitara dos mortos. A prova era por demais clara para que fosse posta em
dúvida. Não obstante, endureceram o coração, recusando arrepender-se da
terrível ação que haviam cometido, matando Jesus. Haviam sido dadas aos
príncipes judeus abundantes evidências de que os apóstolos estavam falando e
agindo sob a divina inspiração, mas eles firmemente resistiram à mensagem da
verdade. Cristo não tinha vindo da maneira como esperavam e, embora, às vezes,
tivessem estado convictos de que Ele era o Filho de Deus, fizeram calar a
convicção e O crucificaram. Por misericórdia, Deus lhes deu novas provas, e
agora outra oportunidade era-lhes concedida para voltarem a Ele. Ele enviou os
discípulos para dizerlhes que haviam matado o Príncipe da vida, e nesta terrível
acusação deu-lhes outra oportunidade para arrependimento. Mas, sentindo-se
seguros em sua própria justiça, os ensinadores judeus recusaram-se a admitir
que os homens que os acusavam de haverem crucificado a Cristo estivessem
falando pela direção do Espírito Santo.
Tendo-se
entregue a uma atitude de oposição a Cristo, cada ato de resistência tornava-se
para os sacerdotes um adicional incentivo para prosseguirem nesse procedimento.
Sua obstinação tornara-se mais e mais determinada. Não que eles não se pudessem
render; podiam, mas não o queriam. Não era só porque fossem culpados e
merecedores de morte, nem apenas por terem levado à morte o Filho de Deus, que
estavam apartados da salvação; mas porque se armaram de oposição contra Deus.
Persistentemente rejeitaram a luz, e sufocaram as convicções do Espírito. A
influência que controla os filhos da desobediência operava neles, levando-os a
maltratar os homens por cujo intermédio Deus estava agindo. A malignidade de
sua rebelião era intensificada por todo ato sucessivo de resistência contra
Deus e contra a mensagem que Ele mandara transmitir por Seus servos. Cada dia,
em sua recusa de se arrepender, os líderes judeus retomavam sua rebelião,
preparando-se para ceifar o que estavam semeando.
A ira de
Deus não é declarada contra pecadores impenitentes, apenas por causa dos
pecados por eles cometidos, mas porque, quando chamados a arrepender-se
escolhem continuar em resistência, repetindo os pecados do passado em desafio à
luz que lhes é dada. Se os líderes judeus se tivessem submetido ao convincente
poder do Espírito Santo, teriam sido perdoados; mas estavam determinados a não
se render. De igual forma, o pecador, pela contínua resistência, coloca-se onde
o Espírito Santo não o pode influenciar.
No dia
seguinte ao da cura do coxo, Anás e Caifás, com os outros dignitários do
templo, reuniram-se para o julgamento, e os prisioneiros foram trazidos perante
eles. No mesmo recinto e diante de alguns dos mesmos homens, Pedro tinha
vergonhosamente negado seu Senhor. Isso lhe veio claramente à memória, ao
comparecer ele próprio para ser julgado. Agora, tinha oportunidade para reparar
sua covardia.
Os
presentes que se lembravam da parte que Pedro havia desempenhado no julgamento
de seu Mestre, lisonjeavam-se de que ele seria intimidado pela ameaça de prisão
e morte. Mas o Pedro que negara a Cristo na hora de Sua maior necessidade era
impulsivo e cheio de confiança própria, diferindo grandemente do Pedro que fora
trazido perante o Sinédrio para ser interrogado. Depois de sua queda, ele se
havia convertido. Não mais era orgulhoso e jactancioso, mas modesto e sem
confiança em si mesmo. Estava cheio do Espírito Santo e, com o auxílio desse
poder, estava resolvido a remover a mancha de sua apostasia, honrando o nome
que repudiara.
Até então,
os sacerdotes tinham evitado mencionar a crucifixão ou ressurreição de Jesus.
Mas agora, em cumprimento de seu propósito, foram obrigados a indagar do
acusado como se efetuara a cura do inválido. “Com que poder, ou em nome de quem
fizestes isto?” perguntaram. Atos dos Apóstolos 4:7.
Com santa
ousadia e no poder do Espírito, destemidamente Pedro declarou: “Seja conhecido
de vós todos, e de todo o povo de Israel, que em nome de Jesus Cristo, o
Nazareno, Aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou dos mortos,
em nome dEsse é que este está são diante de vós. Ele é a Pedra que foi
rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina. E
em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há,
dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”. Atos dos Apóstolos
4:10-12.
Essa
corajosa defesa aterrorizou os chefes judeus. Haviam suposto que os discípulos
seriam vencidos pelo temor e confusão, quando trazidos perante o Sinédrio. Mas
em vez disso, aquelas testemunhas falavam como Cristo havia falado, com um
poder convincente que silenciava os adversários. Não havia indício de temor na
voz de Pedro, quando declarou acerca de Cristo: “Ele é a Pedra que foi
rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina”.
Atos dos Apóstolos 4:11.
Pedro usou
aqui uma figura de linguagem familiar aos sacerdotes. Os profetas haviam falado
da pedra rejeitada; e o próprio Cristo, falando uma ocasião aos sacerdotes e
anciãos, disse: “Nunca lestes nas Escrituras: A Pedra, que os edificadores
rejeitaram, essa foi posta por cabeça de ângulo; pelo Senhor foi feito isto, e
é maravilhoso aos nossos olhos? Porquanto Eu vos digo que o reino de Deus vos
será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos. E quem cair sobre
essa Pedra despedaçar-se-á; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó”.
Mateus 21:42-44.
Ao ouvirem
os sacerdotes as destemidas palavras dos apóstolos, “tinham conhecimento que
eles haviam estado com Jesus”. Atos dos Apóstolos 4:13.
Depois da
transfiguração de Cristo, é dito dos discípulos que, ao fim da maravilhosa
cena, “ninguém viram senão unicamente a Jesus”. Mateus 17:8.
Nas
palavras “unicamente a Jesus”, está contido o segredo da vida e do poder que
marcaram a história da igreja primitiva. Ao ouvirem pela primeira vez as
palavras de Cristo, os discípulos sentiram sua necessidade dEle. Eles O
buscaram, O acharam e O seguiram. Com Ele estavam no templo, à mesa, na encosta
das montanhas ou no campo. Eram como alunos com o professor, dEle recebendo
diariamente lições da eterna verdade.
Após a
ascensão do Salvador, o senso da divina presença, plena de amor e luz,
permanecia ainda com eles. Era uma presença pessoal. Jesus, o Salvador, que
tinha andado com eles, com eles falado e orado, que lhes falara de esperança e
conforto ao coração, tinha sido tomado deles para o Céu, quando a mensagem de
paz ainda estava em Seus lábios. Enquanto o séquito de anjos, O recebia, dEle
lhes vieram as palavras: “Eis que Eu estou convosco todos os dias, até à
consumação dos séculos”. Mateus 28:20. Ele havia ascendido ao Céu na forma
humana. Sabiam que, diante do trono de Deus, Ele ainda era seu Salvador e
Amigo; sabiam que Sua simpatia era imutável; que Ele estaria para sempre
identificado com a humanidade sofredora.
Sabiam que
Ele estava apresentando diante de Deus os méritos de Seu sangue, mostrando Suas
mãos e pés feridos, como lembrança do preço que havia pago por Seus redimidos;
e esse pensamento os fortalecia para suportar a injúria por Sua causa. Sua
união com Ele era mais forte agora do que quando Ele estava com eles em pessoa.
A luz, o amor e o poder de um Cristo sempre presente brilhava por meio deles,
de maneira que os homens, contemplando, se maravilhavam. Cristo pôs o Seu selo
às palavras que Pedro falara em Sua defesa. Bem ao lado dos discípulos, como
convincente testemunha, estava o homem que tão milagrosamente havia sido
curado. A aparência desse homem, poucas horas antes um aleijado ao desamparo,
mas agora restaurado à perfeita saúde, acrescentava peso de testemunho às
palavras de Pedro. Sacerdotes e príncipes ficaram em silêncio. Eram incapazes
de refutar as declarações de Pedro, mas nem por isso estavam menos decididos a
pôr um paradeiro ao ensino dos discípulos.
O mais
importante milagre de Cristo — a ressurreição de Lázaro — tinha selado a
determinação dos sacerdotes de excluir do mundo Jesus e Suas maravilhosas
obras, as quais estavam rapidamente destruindo sua influência sobre o povo.
Eles O haviam crucificado; mas ali estava uma convincente prova de que não
haviam feito cessar a obra de milagres em Seu nome, nem a proclamação da
verdade que Ele ensinara. A cura do coxo e a pregação dos apóstolos já haviam
enchido Jerusalém de agitação.
A fim de
ocultarem sua perplexidade, os sacerdotes e príncipes ordenaram que os
apóstolos fossem afastados, para que pudessem aconselhar-se entre si.
Concordaram todos que seria inútil negar que o homem fora curado. Pensaram em
encobrir o prodígio por meio de falsidades, mas isso era impossível, pelo fato de
que o milagre fora operado em plena luz do dia, diante de uma multidão de
pessoas, e já chegara ao conhecimento de milhares. Sentiam que a obra dos
discípulos devia cessar, ou Jesus ganharia mais adeptos. Sua própria desgraça
poderia seguir-se, pois estariam sujeitos a ser responsabilizados pelo
assassínio do Filho de Deus.
Apesar do
seu desejo de destruir os discípulos, os sacerdotes não ousaram fazer mais que
ameaçá-los com o mais severo castigo, se continuassem a falar nem agir no nome
de Jesus. Chamando-os novamente perante o Sinédrio, ordenaram-lhes não falar ou
ensinar no nome de Jesus. Mas Pedro e João responderam: “Julgai vós se é justo,
diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus; porque não podemos deixar
de falar do que temos visto e ouvido”. Atos dos Apóstolos 4:19, 20.
De boa
vontade, teriam os sacerdotes punido esses homens por sua inamovível fidelidade
a sua sagrada vocação, mas temeram o povo; “porque todos glorificavam a Deus
pelo que acontecera”. Atos dos Apóstolos 4:21. Assim, com repetidas ameaças e
admoestações, foram os apóstolos libertados.
Enquanto
Pedro e João estavam prisioneiros, os outros discípulos, conhecendo a
malignidade dos judeus, haviam orado incessantemente por seus irmãos, temendo
que a crueldade mostrada para com Cristo pudesse repetir-se. Tão logo foram os
apóstolos libertados, puseram-se eles em busca dos demais discípulos e lhes
relataram o resultado do interrogatório. Grande foi a alegria dos crentes.
“Ouvindo eles isto, unânimes levantaram a voz a Deus, e disseram: Senhor, Tu és
o que fizeste o céu, e a Terra, e o mar, e tudo o que neles há; que disseste
pela boca de Davi, Teu servo: Por que bramaram as gentes, e os povos pensaram
coisas vãs? Levantaram-se os reis da Terra, e os príncipes se ajuntaram à uma, contra
o Senhor e contra o Seu Ungido. Porque verdadeiramente contra o Teu santo Filho
Jesus, que Tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos; com os
gentios e os povos de Israel; para fazerem tudo o que a Tua mão e o Teu
conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer”. Atos dos
Apóstolos 4:24-28.
“Agora
pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos Teus servos que falem
com toda ousadia a Tua Palavra; enquanto estendes a Tua mão para curar, e para
que se façam sinais e prodígios pelo nome do Teu santo Filho Jesus”. Atos dos
Apóstolos 4:29, 30.
Os
discípulos oraram para que maior força lhes fosse concedida na obra do
ministério; pois viam que teriam de enfrentar a mesma determinada oposição que
Cristo tinha encontrado quando esteve na Terra. Enquanto suas orações unidas
ascendiam em fé ao Céu, veio a resposta. Moveu-se o lugar onde estavam
reunidos, e novamente foram cheios do Espírito Santo. Com o coração cheio de
ânimo, de [38] novo saíram para proclamar a Palavra de Deus em Jerusalém. “E os
apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus”
(Atos dos Apóstolos 4:33), e Deus abençoava maravilhosamente seus esforços.
O princípio
pelo qual os discípulos se mantiveram tão destemidamente quando, em resposta à
ordem de não falarem mais no nome de Jesus, declararam: “Julgai vós se é justo,
diante de Deus, ouvir-vos antes a vós que a Deus” (Atos dos Apóstolos 4:19), é
o mesmo que os adeptos do evangelho se esforçaram por manter nos dias da Reforma.
Quando, em 1529, os príncipes alemães se reuniram na Dieta de Espira, foi-lhes
apresentado o decreto do imperador, restringindo a liberdade religiosa, e
proibindo toda posterior disseminação das doutrinas reformadas. Dir-se-ia que a
esperança do mundo estava prestes a ser esmagada. Aceitariam os príncipes o
decreto? Devia a luz do evangelho, ser vedada às multidões ainda em trevas?
Achavam-se em jogo decisões importantes para o mundo. Os que haviam aceitado a
fé reformada reuniram-se, sendo sua unânime decisão: “Rejeitemos este decreto.
Em questões de consciência, a maioria não influi” (D’Aubigné, História da
Reforma, livro 13, cap.5).
Esse
princípio tem de ser mantido firmemente em nossos dias. A bandeira da verdade e
da liberdade religiosa desfraldada pelos fundadores da igreja do evangelho e
pelas testemunhas de Deus durante os séculos decorridos desde então, foi, neste
último conflito, confiada a nossas mãos. A responsabilidade por esse grande dom
repousa com aqueles a quem Deus abençoou com o conhecimento de Sua Palavra.
Temos de receber essa Palavra como autoridade suprema. Cumpre-nos reconhecer o
governo humano como uma instituição designada por Deus, e ensinar obediência a
ele como um dever sagrado, dentro de sua legítima esfera. Mas, quando suas exigências
se chocam com as reivindicações de Deus, temos que obedecer a Deus de
preferência aos homens. A Palavra de Deus precisa ser reconhecida como estando
acima de toda a legislação humana. Um “Assim diz o Senhor”, não deve ser posto
à margem por um “Assim diz a igreja”, ou um “Assim diz o Estado” A coroa de
Cristo tem de ser erguida acima dos diademas de autoridades terrestres.
Não se nos
exige que desafiemos as autoridades. Nossas palavras, quer faladas quer
escritas, devem ser cuidadosamente consideradas, para que não sejamos tidos na
conta de proferir coisas que nos façam parecer contrários à lei e à ordem. Não
devemos dizer nem fazer coisa alguma que nos venha desnecessariamente impedir o
caminho. Temos de avançar em nome de Cristo, defendendo as verdades que nos
foram confiadas. Se somos proibidos pelos homens de fazer essa obra, podemos,
então, dizer como os apóstolos: “Julgai vós se é justo, diante de Deus,
ouvir-vos antes a vós do que a Deus? Porque não podemos deixar de falar do que
temos visto e ouvido”. Atos dos Apóstolos 4:19, 20.
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