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Patriarcas e Profetas
Ellen G. White
Capítulo 26 — Do Mar Vermelho ao
Sinai
Este capítulo é baseado em Êxodo
15:22-27; 16-18.
Do Mar Vermelho as tribos de
Israel puseram-se novamente a viajar, guiadas pela coluna de nuvem. O cenário
em redor deles era o mais impressionante — montanhas áridas, de aspecto
desolador, planícies estéreis, e o mar estendendo-se até ao longe, com as
praias juncadas dos corpos de seus inimigos; estavam, contudo, cheios de
alegria, conscientes de sua liberdade, e silenciara todo pensamento de descontentamento.
Mas, durante três dias, enquanto
viajavam, não puderam achar água. O suprimento que tinham trazido consigo,
estava esgotado. Nada havia para lhes acalmar a sede ardente, enquanto se
arrastavam fatigadamente pelas planícies queimadas de sol. Moisés, que estava
familiarizado com esta região, sabia o que os outros ignoravam, ou seja, que em
Mara, a mais próxima estação onde se poderiam encontrar fontes, as águas eram
impróprias para o uso. Com ansiedade intensa observava a nuvem que os guiava.
Com o coração a abater-se, ouviu alegre aclamação: “Água! Água!” a repercutir
ao longo do séquito. Homens, mulheres e crianças em alegre precipitação
apinharam-se junto à fonte, quando, eis, irrompe da multidão um grito de
angústia — a água era amarga.
Em seu terror e desespero
censuraram a Moisés por tê-los guiado por aquele caminho, não se lembrando de
que a presença divina naquela nuvem misteriosa o estivera guiando, bem como a
eles mesmos. Em sua dor e angústia, Moisés fez o que eles haviam deixado de fazer;
clamou fervorosamente a Deus, pedindo auxílio. “E o Senhor mostrou-lhe um lenho
que lançou nas águas, e as águas se tornaram doces”. Êxodo 15:25. Ali foi feita
a Israel, por intermédio de Moisés, esta promessa: “Se ouvires atento a voz do
Senhor teu Deus, e obrares o que é reto diante dos Seus olhos, e inclinares os
teus ouvidos aos Seus mandamentos, e guardares todos os Seus estatutos, nenhuma
das enfermidades porei sobre ti, que pus sobre o Egito; porque Eu sou o Senhor
que te sara”. Êxodo 15:26.
De Mara o povo foi para Elim,
onde encontrou “doze fontes de água e setenta palmeiras”. Ali permaneceram
vários dias antes de entrarem no deserto de Sim. Quando fez um mês que se
achavam ausentes do Egito, fizeram seu primeiro acampamento no deserto. O
suprimento de provisões começara agora a escassear. Era insuficiente a erva do
deserto, e seus rebanhos estavam diminuindo. Como se deveria suprir o alimento
para aquelas vastas multidões? Dúvidas enchiam-lhes o coração, e de novo
murmuraram. Mesmo os príncipes e anciãos do povo se uniram nas queixas contra
aqueles dirigentes que por Deus tinham sido designados: “Quem dera que nós
morrêssemos por mão do Senhor na terra do Egito, quando estávamos sentados
junto às panelas de carne, quando comíamos pão até fartar! porque nos tendes
tirado para este deserto para matardes de fome a toda esta multidão”. Êxodo
16:3.
Não haviam por enquanto sofrido
fome; suas necessidades presentes eram supridas, mas temiam pelo futuro. Não
podiam compreender como essas extensas multidões deveriam manter-se em suas
viagens pelo deserto, e em imaginação viam seus filhos a perecer de fome. O
Senhor permitiu que as dificuldades os rodeassem, e que escasseasse o
suprimento de alimentos, para que seu coração pudesse volver-se Àquele que até
ali lhes havia sido o Libertador. Se em sua necessidade O invocassem, Ele ainda
lhes concederia sinais manifestos de Seu amor e cuidado. Ele prometera que, se
obedecessem aos Seus mandamentos, nenhuma enfermidade lhes sobreviria; e era
pecaminosa incredulidade de sua parte considerar antecipadamente que eles ou
seus filhos poderiam morrer de fome.
Deus prometera ser o seu Deus,
tomá-los para Si como um povo, e guiá-los a uma terra vasta e boa; mas eles
estavam prontos a desfalecer a cada obstáculo encontrado no caminho para aquela
terra. De maneira maravilhosa Ele os tirara do cativeiro no Egito, para que os
pudesse elevar e enobrecer, e fazer deles um louvor na Terra. Mas, era-lhes
necessário encontrar dificuldades e suportar privações. Deus estava a tirá-los de
um estado de degradação, e a adaptá-los a ocuparem uma posição honrosa entre as
nações, e receberem importantes e sagrados encargos. Houvessem tido fé nEle, em
vista de tudo que operara por eles, e teriam de bom ânimo suportado incômodos,
privações, e mesmo o verdadeiro sofrimento; mas estavam indispostos a confiar
no Senhor a não ser que testemunhassem as contínuas provas de Seu poder.
Esqueceram-se de sua amarga servidão no Egito. Perderam de vista a bondade e
poder de Deus, manifestados em prol deles, em seu livramento do cativeiro.
Esqueceram-se de como seus filhos foram poupados quando o anjo destruidor matou
todos os primogênitos do Egito. Olvidaram a grande mostra do poder divino no
Mar Vermelho. Perderam de memória que, enquanto atravessaram sem perigo pelo
caminho que lhes havia sido aberto, os exércitos de seus inimigos, tentando
segui-los, foram submersos nas águas do mar. Viam e sentiam unicamente seus
incômodos e provações presentes; e, em vez de dizerem: “Deus fez grandes coisas
por nós; conquanto tenhamos sido escravos, está a fazer de nós uma grande
nação”, falavam eles das dificuldades do caminho e consideravam quando
terminaria sua cansativa peregrinação.
A história da vida de Israel no
deserto foi registrada para o benefício do Israel de Deus até o final do tempo.
O registro do trato de Deus aos errantes no deserto, em todas as suas marchas
de um para outro lado, em sua exposição a fome, sede e cansaço, e nas notáveis
manifestações de Seu poder em auxílio deles, acha-se repleto de advertências e
instruções para o Seu povo, em todos os tempos. A experiência variada dos
hebreus era uma escola preparatória para o seu lar prometido em Canaã. Deus
quer que Seu povo nestes dias reveja com humilde coração e espírito dócil as
provações pelas quais passou o antigo Israel, a fim de que possa instruir-se em
seu preparo para a Canaã celestial.
Muitos consideram os israelitas
daquele tempo, e admiram-se de sua incredulidade e murmuração, achando que, se
tivessem estado em lugar deles, não teriam sido tão ingratos; mas, quando sua
fé é provada, mesmo com pequenas aflições, não manifestam maior fé ou paciência
do que fez o antigo Israel. Quando levados a situações angustiosas, murmuram
contra o meio que Deus escolheu para os purificar. Posto que sejam supridas
suas necessidades presentes, muitos não estão dispostos a confiar em Deus para
o futuro, e se acham em constante ansiedade, receosos de que a pobreza lhes
sobrevenha, e seu filhos venham a sofrer. Alguns estão sempre a ver
antecipadamente o mal, ou a aumentar as dificuldades que realmente existem, de
modo que seus olhos ficam cegos às muitas bênçãos que lhes reclamam gratidão.
Os obstáculos que encontram em vez de os levar a buscar auxílio de Deus, a
única Fonte de força, separam-nos dEle, porque despertam inquietação e
descontentamento.
Fazemos bem em ser assim
duvidosos? Por que deveríamos ser ingratos e desconfiados? Jesus é nosso amigo;
todo o Céu se interessa em nosso bem-estar; e nossa ansiedade e temor
entristecem ao Espírito Santo de Deus. Não devemos condescender com cuidados
que apenas nos impacientem e fatiguem, mas não nos auxiliam a suportar as
provações. Nenhum lugar deve dar-se àquela desconfiança para com Deus, a qual
nos leva a fazer dos preparativos para as futuras necessidades a principal
preocupação da vida, como se nossa felicidade consistisse nessas coisas
terrestres. Não é vontade de Deus que Seu povo se sobrecarregue de cuidados.
Nosso Senhor, porém, não nos diz que não há perigos em nosso caminho. Não Se
propõe tirar Seu povo do mundo de pecado e mal, mas aponta-nos um refúgio que
nunca falha. Convida o cansado e carregado de cuidados: “Vinde a Mim, todos os
que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei.” Deponde o jugo da
ansiedade e cuidados mundanos que vos impusestes, e “tomai sobre vós o Meu
jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis
descanso para as vossas almas”. Mateus 11:28, 29. Podemos encontrar descanso e
paz em Deus, lançando sobre Ele todos os nossos cuidados; pois Ele cuida de nós.
1 Pedro 5:7.
Diz o apóstolo Paulo: “Vede,
irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se
apartar do Deus vivo”. Hebreus 3:12. Em vista de tudo que Deus tem feito por
nós, nossa fé deve ser forte, ativa e duradoura. Em vez de murmurarmos e
queixarmo-nos, a expressão de nosso coração deve ser: “Bendize, ó minha alma,
ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o Seu santo nome. Bendize, ó minha
alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de Seus benefícios”. Salmos 103:1,
2.
Deus não Se esquecia das
necessidades de Israel. Disse a seu guia: “Eis que vos farei chover pão dos
céus.” E foram dadas instruções para que o povo apanhasse uma porção para cada
dia, e porção dupla no sexto dia, para que se pudesse manter a sagrada
observância do sábado.
Moisés afirmou à congregação que
suas necessidades haviam de ser supridas: “Isso será quando o Senhor à tarde
vos der carne para comer, e pela manhã pão a fartar.” E acrescentou: “Quem
somos nós? As vossas murmurações não são contra nós, mas sim contra o Senhor.”
Mandou, ainda, Arão dizer-lhes: “Chegai-vos para diante do Senhor, porque ouviu
as vossas murmurações.” Enquanto Arão estava a falar, “eles se viraram para o
deserto, eis que a glória do Senhor apareceu na nuvem”. Êxodo 16:8-10. Um esplendor
qual nunca antes haviam testemunhado, simbolizava a presença divina. Por meio
de manifestações que se dirigiam aos seus sentidos, deviam obter conhecimento
de Deus. Devia ensinar-se-lhes que o Altíssimo, e não meramente o homem Moisés,
era seu dirigente, a fim de que temessem o Seu nome e Lhe obedecessem à voz.
Ao cair da noite, o acampamento
foi rodeado de vastos bandos de codornizes, bastantes para suprirem toda a
multidão. Pela manhã, jazia na superfície do solo “uma coisa miúda, redonda;
miúda como a geada”. “Era como semente de coentro branco.” O povo chamou-o
maná. Disse Moisés: “Este é o pão que o Senhor vos deu para comer”. Êxodo
16:14, 15, 31. O povo apanhou o maná, e viu que havia um suprimento abundante
para todos. “Em moinhos o moía, ou num gral o pisava, e em panelas o cozia, e
dele fazia bolos”. Números 11:8. Era “seu sabor como bolos de mel”. Êxodo
16:31. Determinou-se-lhes apanhar diariamente um gômer [aproximadamente três
litros] para cada pessoa; e dele não deveriam deixar para a manhã seguinte.
Alguns tentaram guardar uma porção até o dia seguinte, mas achou-se então estar
impróprio para alimento. A provisão para o dia deveria ser colhida na manhã;
pois tudo que ficava no solo derretia-se com o sol.
No colher o maná verificou-se que
alguns obtinham mais e alguns menos do que a quantidade estipulada; mas
“medindo-o com o gômer, não sobejava ao que colhera muito, nem faltava ao que
colhera pouco”. Êxodo 16:18. Uma explicação desta passagem bem como uma lição
prática da mesma, é dada pelo apóstolo Paulo em sua segunda epístola ao
Coríntios: Diz ele: “Não digo isto para que os outros tenham alívio, e vós
opressão, mas para igualdade; neste tempo presente, a vossa abundância supra a
falta dos outros, para que também a sua abundância supra a vossa falta, e haja
igualdade; como está escrito: O que muito colheu não teve demais; e o que
pouco, não teve de menos”. 2 Coríntios 8:13-15.
No sexto dia, o povo colhia dois
gômeres para cada pessoa. Os príncipes foram apressadamente informar a Moisés
do que se havia feito. Sua resposta foi: “Isto é o que o Senhor tem dito:
Amanhã é repouso, o santo sábado do Senhor: o que quiserdes cozer no forno,
cozei-o, o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobejar,
ponde em guarda até amanhã.” Assim fizeram, e acharam que ficara inalterado. E
Moisés disse: “Comei-o hoje, porquanto hoje é o sábado do Senhor; hoje não o
achareis no campo. Seis dias o colhereis, mas o sétimo dia é o sábado; nele não
haverá”. Êxodo 16:23, 25, 26.
Deus exige que Seu santo dia seja
observado hoje de maneira tão sagrada como no tempo de Israel. A ordem dada aos
hebreus deve ser considerada por todos os cristãos como um mandado de Jeová.
Deve fazer-se do dia anterior ao sábado um dia de preparação, a fim de que tudo
possa estar em prontidão para as suas horas sagradas. Em caso algum devemos
permitir que nossas ocupações usurpem o tempo santo. Deus determinou que se
cuidasse dos doentes e sofredores; o trabalho exigido para lhes proporcionar
conforto é uma obra de misericórdia, e não é violação do sábado; mas todo o
trabalho desnecessário deve ser evitado. Muitos descuidadamente deixam até o
princípio do sábado pequenas coisas que poderiam ter sido feitas no dia de
preparação. Isto não deve ser assim. O trabalho que é negligenciado até o
início do sábado, deve ficar por fazer-se até que haja passado este dia. Esta
maneira de proceder pode auxiliar a memória daqueles que são imprudentes, e
torná-los cuidadosos no fazerem seu trabalho nos seis dias a isto destinados.
Cada semana, durante sua longa
peregrinação no deserto, os israelitas testemunharam tríplice milagre,
destinado a impressionar-lhes o espírito com a santidade do sábado: uma dobrada
quantidade de maná caía no sexto dia, nada caía no sétimo, e a porção
necessária para o sábado conservava-se fresca e pura, enquanto qualquer
quantidade que se deixava de um dia para outro, em outra ocasião, se tornava
imprópria para o uso.
Nas circunstâncias que se ligam à
concessão do maná, temos prova conclusiva de que o sábado não foi instituído,
conforme muitos pretendem, quando a lei foi dada no Sinai. Antes de chegarem os
israelitas ao Sinai, compreendiam ser-lhes obrigatório o sábado. Sendo
obrigados a recolher toda sexta-feira dupla porção de maná, como preparo para o
sábado, no qual nada caía, a natureza sagrada do dia de repouso os
impressionava continuamente. E quando alguns, dentre o povo, saíram no sábado
para apanhar maná, o Senhor perguntou: “Até quando recusareis guardar os Meus mandamentos e as Minhas leis?”
“Comeram os filhos de Israel maná
quarenta anos, até que entraram em terra habitada; comeram maná até que
chegaram aos termos da terra de Canaã”. Êxodo 16:35. Durante quarenta anos, por
meio desta maravilhosa provisão, trazia-se-lhes diariamente à lembrança o
cuidado infalível e o terno amor de Deus. Segundo as palavras do salmista, Deus
lhes deu “do trigo do Céu. Cada um comeu o pão dos anjos”, isto é, alimento que
lhes foi provido pelos anjos. Salmos 78:24, 25. Sustentados pelo “trigo do
Céu”, diariamente se lhes ensinava que, tendo as promessas de Deus, estavam tão
seguros contra a necessidade como se estivessem rodeados pelos campos
ondulantes de trigo nas férteis planícies de Canaã.
O maná, caindo do céu para o
sustento de Israel, era um tipo dAquele que veio de Deus para dar vida ao
mundo. Disse Jesus: “Eu sou o pão da vida. Vossos pais comeram o maná no
deserto, e morreram. Este é o pão que desce do Céu. [...] Se alguém comer deste
pão, viverá para sempre; e o pão que Eu der é a Minha carne, que Eu darei pela
vida do mundo”. João 6:48-51. E entre as promessas de bênçãos ao povo de Deus
na vida futura, está escrito: “Ao que vencer darei Eu a comer do maná
escondido”. Apocalipse 2:17.
Depois de partir do deserto de
Sim, os israelitas acamparam-se em Refidim. Ali não havia água, e de novo não
confiaram na providência de Deus. Em sua cegueira e presunção, o povo chegou-se
a Moisés com a exigência: “Dá-nos água para beber.” Mas a paciência não lhe
faltou. “Por que contendeis comigo?” disse, “por que tentais ao Senhor?” Eles clamaram
com ira: “Por que nos fizeste subir do Egito, para nos matares de sede, a nós,
e aos nossos filhos, e ao nosso gado?” Êxodo 17:1-7. Quando foram tão
abundantemente supridos de alimento, lembraram-se com vergonha de sua
incredulidade e murmuração, e prometeram para o futuro confiar no Senhor; mas
logo se esqueceram da promessa, e fracassaram na primeira prova de fé. A coluna
de nuvem que os guiava parecia velar um terrível mistério. E Moisés — quem era
ele? perguntavam; e qual poderia ser seu objetivo ao tirá-los do Egito? A
suspeita e a desconfiança lhes encheram o coração, e ousadamente o acusaram de
tencionar matá-los, a eles e seus filhos, pelas privações e dificuldades, a fim
de que pudesse enriquecer-se com seus bens. No tumulto da raiva e indignação
estavam prestes a apedrejá-lo.
Com angústia clamou Moisés ao
Senhor: “Que farei a este povo?” Foi-lhe determinado tomar os anciãos de Israel
e a vara com que operara prodígios no Egito, e ir perante o povo. E o Senhor
lhe disse: “Eis que Eu estarei ali, diante de ti, sobre a rocha, em Horebe, e
tu ferirás a rocha, e dela sairão águas, e o povo beberá.” Ele obedeceu, e as
águas irromperam como uma torrente viva que abundantemente supriu o
acampamento. Em vez de mandar Moisés levantar a vara e invocar alguma praga
terrível semelhante àquelas do Egito, sobre os chefes daquela ímpia murmuração,
o Senhor em
Sua grande misericórdia fez da
vara Seu instrumento para operar o livramento do povo.
“Fendeu as penhas no deserto; e
deu-lhes de beber como de grandes abismos. Fez sair fontes da rocha, e fez
correr águas como rios”. Salmos 78:15, 16. Moisés feriu a rocha, mas era o
Filho de Deus que, velado na coluna de nuvem, estava ao lado de Moisés e fazia
correr a água doadora de vida. Não somente Moisés e os anciãos, mas toda a
congregação que permanecia a distância, viram a glória do Senhor; fosse, porém,
removida a nuvem, e teriam sido mortos pelo terrível fulgor dAquele que nela
habitava.
Em sua sede o povo tentara a
Deus, dizendo: “Está o Senhor no meio de nós, ou não?” “Se Deus nos trouxe
aqui, por que não nos dá água assim como nos deu pão?” A incredulidade assim
manifesta era criminosa, e Moisés receou que os juízos de Deus repousassem
sobre eles. E ele chamou aquele lugar pelo nome de Massá, “tentação”, e Meribá,
“contenda”, em lembrança de seu pecado.
Um novo perigo os ameaçava agora.
Por causa de sua murmuração contra Ele, o Senhor permitiu que fossem atacados
pelos inimigos. Os amalequitas, tribo feroz e guerreira que habitava aquela
região, saíram contra eles, e feriram aqueles que, desfalecidos e cansados,
tinham ficado na retaguarda. Moisés, sabendo que a totalidade do povo não
estava preparada para a batalha, ordenou a Josué que escolhesse das diferentes
tribos um corpo de soldados, e os guiasse na manhã seguinte contra o inimigo,
enquanto ele próprio estaria em um ponto eminente próximo, com a vara de Deus
na mão. Em conformidade com isto, no dia seguinte Josué e seu grupo atacaram o
inimigo, enquanto Moisés, Arão e Hur estavam estacionados em uma colina, acima
do campo de batalha. Com os braços estendidos para o céu, e segurando a vara de
Deus em sua destra, Moisés orava pelo êxito dos exércitos de Israel. Com o
prosseguimento da batalha, observou-se que, enquanto suas mãos estavam
estendidas para cima, Israel prevalecia; mas, quando se abaixavam, o inimigo
era vitorioso. Cansando-se Moisés, Arão e Hur lhe ampararam as mãos até o
pôr-do-sol, quando o inimigo foi posto em fuga.
Apoiando Arão e Hur as mãos de
Moisés, mostravam ao povo o dever de ampará-lo em seu árduo trabalho, enquanto
de Deus recebia a palavra para lhes falar. E o ato de Moisés também era
significativo, mostrando que Deus tinha o seu destino em Suas mãos; enquanto
nEle depositassem confiança, por eles combateria e lhes subjugaria os inimigos;
mas, quando se deixassem de apegar a Ele, e confiassem em sua própria força,
seriam mesmo mais fracos do que os que não tinham conhecimento de Deus, e os
inimigos prevaleceriam contra eles.
Assim como os hebreus triunfavam
quando Moisés estendia as mãos para o céu, e intercedia em favor deles, assim o
Israel de Deus prevalece quando pela fé lança mão da força de seu poderoso
Auxiliador. Todavia, a força divina deve ser combinada com o esforço humano.
Moisés não acreditava que Deus vencesse os adversários deles enquanto Israel
permanecesse inativo. Enquanto o grande líder pleiteava com o Senhor, Josué e
os seus bravos seguidores faziam os maiores esforços para repelir os inimigos
de Israel e de Deus.
Depois da derrota dos
amalequitas, Deus determinou a Moisés:
“Escreve isto para memória num
livro, e relata-o aos filhos de Josué; que Eu totalmente hei de riscar a
memória de Amaleque de debaixo dos céus”. Êxodo 17:14. Precisamente antes de
sua morte, o grande líder confiou a seu povo esta solene incumbência:
“Lembra-te do que te fez Amaleque no caminho, quando saíeis do Egito; como te
saiu ao encontro no caminho, e te derrubou na retaguarda todos os fracos que
iam após ti, estando tu cansado e afadigado; e não temeu a Deus [...] Apagarás
a memória de Amaleque de debaixo dos céus; não te esqueças”. Deuteronômio
25:17-19. Com referência a este povo ímpio, o Senhor declarou: “A mão de
Amaleque está contra o trono de Jeová”. Êxodo 17:16.
Os amalequitas não desconheciam o
caráter de Deus, nem Sua soberania; mas, em vez de O temerem, puseram-se a
desafiar o Seu poder. Os prodígios operados por Moisés diante dos egípcios,
foram assunto de zombaria para o povo de Amaleque, e os temores das nações
circunvizinhas eram ridicularizados. Fizeram juramento pelos seus deuses de que
destruiriam os hebreus, de modo que nem um escapasse, e vangloriavam-se de que
o Deus de Israel seria impotente para lhes resistir. Não haviam sido ofendidos
ou ameaçados pelos israelitas. Seu assalto não foi motivado por qualquer
provocação. Foi para manifestar seu ódio e desconfiança para com Deus que
procuraram destruir Seu povo. Os amalequitas havia muito que eram grandes
pecadores, e seus crimes clamavam vingança a Deus; contudo, a misericórdia
divina ainda os chamava ao arrependimento; quando, porém, os homens de Amaleque
caíram sobre as cansadas e indefesas fileiras de Israel, selaram a sorte de sua
nação. Os cuidados de Deus estão sobre os mais fracos de Seus filhos. Ato algum
de crueldade ou opressão para com eles, deixa de ser notado pelo Céu. Sobre
todos aqueles que O amam e temem, Sua mão se estende como uma proteção; cuidem
os homens que não firam aquela mão, pois que ela maneja a espada da justiça.
Não longe do lugar em que agora
se achavam acampados os israelitas, estava a casa de Jetro, sogro de Moisés.
Jetro ouvira falar do livramento dos hebreus, e agora parte para visitá-los e
restituir a Moisés a esposa e os dois filhos. O grande chefe foi informado
pelos mensageiros a respeito de sua aproximação; e com alegria saiu para os
encontrar, e, terminados os primeiros cumprimentos, conduziu-os à sua tenda.
Fizera voltar sua família quando estava a caminho dos perigos que encontraria
ao retirar Israel do Egito; mas agora poderia de novo ter o consolo e conforto
de sua companhia. A Jetro contou ainda o trato maravilhoso de Deus para com
Israel, e o patriarca regozijou-se e bendisse o Senhor; e, juntamente com
Moisés e os anciãos, uniu-se a oferecer sacrifícios e realizar uma festa solene
em comemoração da misericórdia de Deus.
Estando Jetro no acampamento,
logo viu quão pesados eram os encargos que repousavam sobre Moisés. Manter a
ordem e a disciplina naquela multidão vasta, ignorante e indisciplinada, era na
verdade uma tremenda tarefa. Moisés era o seu reconhecido chefe e magistrado, e
não somente lhe eram referidos os interesses e deveres gerais do povo, mas
também as controvérsias que surgiam entre eles. Permitira isto, pois que lhe
dava oportunidade de instruí-los, conforme disse: “e lhes declare os estatutos
de Deus, e as Suas leis”. Mas Jetro protestou a isto, dizendo: “Este negócio é
mui difícil para ti; tu só não o podes fazer.” “Totalmente desfalecerás”; e
aconselhou a Moisés indicar pessoas idôneas como maiorais de milhares, e outras
como maiorais de cem, e outras de dez. Deviam ser “homens capazes, tementes a
Deus, homens de verdade, que aborreçam a avareza”. Êxodo 18:13-26. Estes deviam
julgar em todas as questões de menor importância, enquanto os casos mais
difíceis e relevantes ainda seriam levados perante Moisés, o qual, disse Jetro,
devia ser “pelo povo diante de Deus”, e levar causas a Deus; e declarar-lhes os
estatutos e as leis, e fazer-lhes saber o caminho em que deviam andar, e a obra
que deviam fazer. Este conselho foi aceito, e não somente trouxe alívio a
Moisés, mas teve como resultado estabelecer uma ordem mais perfeita entre o
povo.
O Senhor havia honrado a Moisés
grandemente, e operara prodígios pela sua mão; mas o fato de que fora escolhido
para instruir a outros não o levou a concluir que ele próprio não necessitava
de instrução. O escolhido dirigente de Israel ouviu alegremente as sugestões do
piedoso sacerdote de Midiã, e adotou-lhe o plano como uma sábia disposição.
De Refidim o povo continuou
viagem, seguindo o movimento da coluna de nuvem. Sua rota seguia através de
áridas planícies, íngremes encostas, e desfiladeiros rochosos. Frequentemente,
quando atravessavam as incultas regiões arenosas, viam diante de si montanhas
escabrosas, semelhantes a gigantescos baluartes, amontoados diretamente através
de seu percurso, e parecendo vedar de todo o prosseguimento. Mas,
aproximando-se eles, apareciam aqui e acolá aberturas na muralha montanhosa, e,
para além, outra planície abria-se-lhes à vista. Através de uma dessas
profundas e pedregosas passagens, eram então conduzidos. Era uma cena grandiosa
e impressionante. Entre as escarpas rochosas que se erguiam a centenas de
metros de cada lado, fluíam qual maré viva, até onde podia atingir a vista, as
hostes de Israel com seus rebanhos e gado. E agora, diante deles, com solene
majestade, erguia o Monte Sinai a fronte maciça. A coluna de nuvem repousou em
seu cume, e o povo, embaixo, espalhou suas tendas pela planície. Ali seria a
sua morada durante quase um ano. À noite, a coluna de fogo assegurou-lhes a
proteção divina; e, enquanto estavam entregues ao sono, o pão do Céu caía
suavemente sobre o acampamento.
A aurora dourava a crista negra
das montanhas, e os áureos raios do Sol penetravam nas profundas gargantas,
parecendo-se a esses cansados viajantes com os raios de misericórdia
procedentes do trono de Deus. De todos os lados, extensas colinas pedregosas
pareciam em sua solitária grandeza falar de permanência e majestade eternas.
Ali, tinha o espírito a impressão de solenidade e de respeitoso temor. O homem
era levado a sentir sua ignorância e fraqueza na presença dAquele que “pesou os
montes e os outeiros em balanças”. Isaías 40:12. Ali deveria Israel receber a
revelação mais maravilhosa que por Deus já foi feita aos homens. Ali o Senhor
reunira Seu povo para que os pudesse impressionar com a santidade de Seus
mandamentos, declarando de viva voz a Sua santa lei. Grandes e radicais
mudanças deviam operar-se neles; pois que a influência degradante da servidão e
a prolongada associação com a idolatria lhes haviam deixado seus traços nos
hábitos e caráter.
Deus estava a agir a fim de
erguê-los a um nível moral mais elevado, outorgando-lhes um conhecimento de Si.
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